Rio Grande
Guardiões preservam material genético da agricultura familiar
Associação participa da 48ª Expofeira de RG, neste sábado, durante Mostra de Sementes Crioulas
Foto: Divulgação - DP - Ponto fundamental foi a edição da lei 8.259, em 2018, que instituiu programa municipal
rio grande. Neste sábado, os integrantes da Associação dos Guardiões de Sementes Crioulas do município estarão presentes, das 9h às 18h, no pavilhão da Agroindústria, na 48ª Expofeira, no parque de exposições Filinto Eládio da Silveira, para uma Mostra de Sementes Crioulas, uma oportunidade para conhecer o trabalho de resgate realizado por estes pequenos agricultores, há várias gerações. Haverá ainda degustação de alimentos à base de produtos crioulos, comercialização da agricultura familiar e produtos fitoterápicos. A Expofeira ocorre até domingo, com entrada gratuita.
De acordo com o historiador rio-grandino Cledenir Mendonça, são os guardiões que guardam a riqueza natural da sua terra e que precisa ser preservada. “A agricultura familiar que eles representam exerce um papel fundamental no cultivo e na preservação desse material genético”, diz. Segundo ele, os guardiões perpetuam a sabedoria dos ancestrais e visam à garantia da diversidade de alimentos, cores e tamanhos, valores nutricionais específicos de cada variedade, que compõem o mosaico da biodiversidade dentro dos sistemas de produção.
Mendonça explica que entre as características fundamentais das sementes crioulas em Rio Grande está a sua açorianidade. “Basicamente o eixo de preservação e plantio, aparece na região do entorno do Povo Novo, caracterizada pela descendência de famílias dos Açores ainda do século 19”, ressalta. Outro elemento interessante é o viés conceitual na preservação, que parte de um olhar histórico, ressalta. Os trabalhos iniciais com as sementes surgiram em 2013, época em que Mendonça atuava junto à Secretaria da Agricultura de Rio Grande e o objetivo era resgatá-las com os pequenos produtores, salvaguardar, produzir e distribuí-las entre eles, diz.
“O primeiro recurso utilizado para a pesquisa sobre a memória social das sementes crioulas teve como demarcação as fontes orais”, explica. A abordagem analítica e variantes do tema começaram com este resgate oral entre as pessoas que plantavam ou ainda guardavam as sementes produzidas pelos seus antepassados. “E elas foram muitas e surpreendentes”, ressalta.
Dos milhos brancos, o catete, o dente de ouro centenário, 30 variedades de feijões, cenouras, variedades crioulas de ervilhas originárias da Aspas de Servo, melancias de embarque, amarelas, a batata-doce roxa, batata- macaca, o caxi, mugangos, melões e as abóboras estão entre as sementes resgatadas. Ele salienta a parceria dos Guardiões de Sementes com a Embrapa Clima Temperado e a dedicação dos pesquisadores como Irajá Ferreira e Gilberto Bevilaqua no trabalho de recuperar as sementes crioulas com os agricultores familiares, respaldando dessa forma as características especificas de cada localidade, com o objetivo de desenvolver novas cultivares.
Em 2015, foi criada a Associação dos Guardiões e outro ponto fundamental foi a edição da lei 8.259, de 12 de setembro de 2018, que instituiu o Programa dos Guardiões da Agrobiodiversidade e das Plantas Medicinais do Município do Rio Grande. “Deixava de ser um programa de governo, para ser lei que propõe o resgate e a utilização de variedades assim como a promoção da expansão do uso de variedades e daquelas adaptadas; o melhoramento participativo descentralizado, realizado em parceria entre comunidades e instituições públicas de pesquisa e a criação e a manutenção de bancos comunitários de sementes e mudas na valorização dos saberes tradicionais”, diz o historiador.
Guardiões
O casal de agricultores familiares Donatilia e Gilnei Martins são guardiões de sementes crioulas, para eles um processo natural, um costume de família passado pelos pais. Filhos de agricultores, o trabalho na terra reporta à infância, em que era costume produzir e tirar sementes para o plantio no próximo ano. “Para ter uma diversidade na alimentação e manter a nutrição da família éramos obrigados a plantar diversas cultivares, colher o melhor fruto para tirar a semente e guardar para o próximo ano”, conta. Segundo ela, naquela época não existia comercialização de produtos variados e esta atitude era natural, inclusive com a troca de sementes entre as famílias.
Um hábito trazido dos pais e que teve continuidade na vida do casal. “De uma família de 11 irmãos, apenas eu fiquei na agricultura”, lembra. Natural de Tavares, a família migrou para São José do Norte e depois Povo Novo, em Rio Grande. Junto com eles, vieram as sementes de todas as variedades que produziam na sua terra de origem, a fim de alimentar a família. “Na época se vendia a produção uma vez por ano e era preciso produzir para a alimentação da família”.
Um costume entre as famílias de agricultores, que com o tempo foi se perdendo, conta. “O maior acesso a mercados fez com que as pessoas parassem de produzir e de guardar as sementes”, ressalta. Mas tanto o casal quanto os pais continuaram com esta prática, a fim de obter um produto mais saudável à alimentação e também preparar aqueles pratos preferidos pela família. “
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