Doçaria

Tradição registrada e conservada em cadernos

Nova exposição do Museu do Doce mostra como a tradição doceira do município foi preservada, passando de uma geração para outra

Construídos ao longo de anos, os cadernos de receitas eram muito comuns entre as famílias até há alguns anos. Eram eles que guardavam os detalhes culinários, que muitas vezes só eram passados de mãe para filha. Em Pelotas, muitos desses caseiros e únicos exemplares acolhem as fórmulas e segredos dos famosos doces finos, que transformaram o município na Capital Nacional do Doce. São relíquias como essas que inspiram a nova exposição que o Museu do Doce da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) inaugura nesta quinta-feira (6), às 16h, no casarão da praça Coronel Pedro Osório, 8.

Cadernos de Receitas: Narrativas da tradição doceira foi motivada pelas doações que o Museu vem recebendo deste tipo de acervo. A diretora do Museu, professora Noris Mara Leal, lembra que o tema "receitas" tinha sido abordado em uma outra exposição, mas elas eram oriundas de um livro editado em 1949, registrando oficialmente o modo de fazer os conhecidos doces finos e compotas. "Agora nós estávamos recebendo alguns cadernos de receitas, aí começamos a ver não só o que está publicado para o grande público, mas o que está sendo passado de uma geração para outra. Também começamos a pensar nas diferentes narrativas, por exemplo, como são feitos esses cadernos", explica.

A proposta da exposição parte do caderno de Amélia Anníbal Hartley Antunes Maciel, conhecida como Dona Sinhá, que foi emprestado pelo Museu da Baronesa. Mas a montagem apresenta outros desses repositórios de saberes populares, alguns doados recentemente. Um material que vai do final do século 19 até a contemporaneidade. "Como a gente faz hoje? Apesar de alguns de nós mantermos os cadernos, é mais fácil procurar no celular do que buscar no próprio material", comenta Noris.

Papel e audiovisual

Na exposição são apresentados 10 cadernos de diferentes mulheres, alguns começados por elas, outros recebidos como herança. Além dessa forma tradicional de passar conhecimentos culinários, o Museu também aborda as outras formas de narrativas. "Fomos buscar essas mulheres da periferia, para saber como elas fazem seus doces e como são transmitidas essas receitas", explica a diretora.

Em parceria com o Quilombo Canto de Conexão foi produzido um audiovisual, que traz o depoimento de três mulheres que sabem muito de doces, mas nada registrado no papel, são elas: Claudete Lessa, Sônia Farias e Neiva Coelho, que ajudam na cozinha do coletivo. "Elas não têm cadernos, elas têm tudo na memória e junto com isso vem toda uma memória afetiva", comenta a diretora. No vídeo elas contam um pouco sobre que iguarias são essas que elas fazem, como elas aprenderam e como pretendem transmitir esses saberes.

Os cadernos mostram ainda outras facetas dessas famílias, a exemplo, de como as noivas se organizavam para casar. "Muitas começaram a fazer o livro de receitas quando estavam noivas. Outras recebiam de doação de alguém da família. São coisas que os cadernos vão nos contando", fala a diretora.

Interatividade

Além de ver algumas dessas preciosidades, ouvir os depoimentos de quem sabe fazer diferentes tipos de doces e ver alguns dos utensílios utilizados há décadas, quem for até a exposição terá acesso a algumas das receitas que serão apresentadas, através de um QR Code. Na curadoria da exposição estão: Annelise Costa Montone, Bruna Frio Costa, Luiza Vitória de Souza Duarte de Deus, Juliano Oliveira da Silva, Marta Caldeira Pacios e Noris Mara Leal.

Mas além de levar para casa uma receita da tradição doceira local, os visitantes também serão convidados a deixar uma receita que costumam fazer. Para isso serão disponibilizados papel e lápis para o visitante deixar sua contribuição. Esse material integrará o caderno participativo do Museu do Doce. "Uma das grandes preocupações que nós temos é isso, se nós não difundirmos vamos perder essas atividades doceiras que não são comerciais, não terão novas gerações para fazer. A gente tem que manter esse fazer doceiro e saber que temos muito o que aprender ainda", comenta Noris.


Serviço
O quê: exposição Cadernos de Receitas: Narrativas da tradição doceira
Onde: Museu de Doce da UFPel, praça Coronel Pedro Osório, 8.
Abertura: quinta-feira (30), às 16h
Visitação: até 30 de agosto, de terça a sexta-feira, das 13h às 18h
Entrada franca


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