Mobilização

Casa do Trabalhador precisa de ajuda para ser restaurada

Direção da entidade pretende sensibilizar a comunidade em torno da salvaguarda do casarão centenário

Foto: Carlos Queiroz - DP - Das 14 entidades proprietárias, apenas seis participam, diz Barreto

Na próxima semana, quando se celebra o Dia Nacional do Patrimônio Cultural, entidades sindicais proprietárias e usuárias da Casa do Trabalhador vão dar início a um movimento de resgate e salvaguarda do prédio sede, que fica na rua Santa Cruz. O imóvel centenário está com o salão principal sem condições de uso em função de infiltrações no telhado e necessidade de restauro de toda a estrutura. Na sexta-feira, serão realizados dois eventos, uma mesa redonda pela manhã e uma roda de conversa à tarde. As ações são propostas para dar conhecimento da importância histórica do local e da sua preservação, com o objetivo de mobilizar a comunidade de Pelotas nesta causa.

A Casa do Trabalhador remonta uma história que começou no final do século 19 com a criação da Liga Operária, em 1889. O ator e jornalista Lóri Nelson Nogueira Dias, que se engajou ao projeto de restauração do imóvel, hoje inventariado, lembra que o espaço é um patrimônio da cidade, mesmo que ainda não esteja tombado, e por isso merece que a comunidade se mobilize para salvar o local.

Lóri Nelson salienta que a Liga Operária surgiu em uma época de efervescência cultural e de grande progresso no município. “Ali era uma união de sindicatos, e não existe mais isso. Em 1889 o trabalhador já tinha uma visão tão grande que já se uniam antes de ter as centrais sindicais, eles fizeram a própria central, uma delas é essa Liga e dela sai a nossa Casa do Trabalhador, que hoje está ali pedindo socorro. Se ela cair, morre a história da classe trabalhadora de Pelotas”, diz.

O local tem aproximadamente 400 m², divididos em três prédios principais, ocupando a esquina das ruas Santa Cruz e Major Cícero. Destes, dois prédios são considerados históricos, os demais anexos foram construídos posteriormente. O presidente da entidade, Jorge Barreto, comenta que algumas alterações foram feitas, como a retirada do telhado de cerâmica do prédio da esquina, por exemplo. Porém a ideia é restaurar todo o complexo e recolocar as telhas, aproximando o bem do seu volume original. “Tem algumas coisas que foram feitas, mas até há alguns anos não havia uma lei (determinando) que não poderia mexer.”

“Aqui tem uma história e é isso que a gente tá querendo resgatar, mas financeiramente nós do sindicato não temos condições de recuperar isso tudo aqui”, diz Barreto, que representa o Sindicato dos Metalúrgicos. São proprietários da Casa 14 sindicatos, porém a diretoria consegue reunir apenas seis entidades representadas. O que também é um problema, porque alguns dos sindicatos proprietários não existem mais. “Tem sindicatos que se extinguiram mesmo, então a gente vai ter que ver como vai fazer um novo estatuto.”

Na terça a diretoria vai conversar com a arquiteta Simone Neutzling, criadora da empresa Perene Patrimônio Cultural, que vai passar para a direção os prós e contras do tombamento, por exemplo. Barreto acredita que a opção vai ser pelo tombamento, de início, municipal.

Para começar esse processo de mobilização social, a diretoria foi buscar ajuda com pesquisadores, como a professora Ana Lúcia Oliveira, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). “Estamos com uma equipe legal agora, mas tem espaço para muita gente que queira ajudar. E é isso que a gente continua buscando, por pessoas que queiram ver esse espaço restaurado, protegido e que possa ser usado pelos verdadeiros donos, os trabalhadores”, fala Barreto.

 A comissão tem a tarefa de cuidar da recuperação e reconstrução histórica e cultural da Casa. “Para começar essa festa vamos aproveitar a Semana do Patrimônio e fazer uma atividade para falar sobre patrimônio e operariado”, comenta o jornalista.

Ligada à cultural
Além de estar ligado ao movimento trabalhista e sindical, o prédio tem sido também associado a ações culturais no município, ao receber projetos como o Circuito Dandô, em mais de uma edição. No passado chegou a Casa, também conhecida como União dos Ofícios Vários, chegou a ter um palco batizado por Teatro 1º de Maio, em 1914, “no qual foram encenadas muitas peças e feitas manifestações e espetáculos”, como está descrito no livro Dicionário de História de Pelotas, dos pesquisadores Ana Beatriz Loder, Mario Osorio e Lorena Gil, professores da UFPel.

“Hoje não recebemos mais atividades culturais neste salão pela degradação que ele se encontra. Tem algumas goteiras, o teto, com cupins no madeiramento, corre o risco de desabar”, fala o presidente da entidade. A ideia é que depois de restaurada a Casa volte a receber atividades para diferentes públicos.

Programação

Sexta-feira

Mesa redonda
Patrimônio e Resistência
• O papel do Iphan e das políticas de patrimônio, com Rafael Passos, superintendente do Iphan/RS;
• Inventários, com Daniele Luckow - docente da UCPel;
• Patrimônio Ambiental, com Maurício Polidori, docente da Faurb/UFPel;
• Patrimônio e classe operária -1888 a 1937, com o jornalista Lori Nelson Nogueira Dias e mediação de Ana Oliveira, do IAB/Núcleo Pelotas.
Organização: IAB Pelotas
Horário: às 10h
Local: Casa do Trabalhador, rua Santa Cruz, 2.454

Roda de conversa
Patrimônio e Operariado
• Divulgação da história, do presente e do que está sendo encaminhado para o futuro da Casa do Trabalhador.
Horário: às 14h
Local: Casa do Trabalhador, rua Santa Cruz, 2.454

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