Preservação

Equipe restaura as faianças portuguesas do Museu da Baronesa

As 15 estátuas do acrotério do casarão centenário vão passar por procedimentos que visam o restabelecimento do potencial de cada uma destas obras de arte

Fotos Carlos Queiroz - DP - Fábio Galli diz que se optou por conservar algumas das alterações anteriores e outras serão removidas

Fechado, o Museu Municipal da Baronesa de Pelotas passa por restauro, em diferentes frentes, desde o ano passado. Uma destas etapas começou há pouco mais de um mês e está cuidando das faianças que ornam o acrotério do casarão centenário. São 15 estátuas que passaram por limpeza, consolidação e impermeabilização, com materiais adequados a este tipo de cerâmica, antes de serem recolocadas. Esse trabalho tão específico é de responsabilidade da Mara Denise Nizolli Restauro, empresa contratada pela Marques Imóveis Construtora Imobiliária Ltda, que faz a obra.

"O critério de escolha do profissional para a restauração das estátuas em faiança portuguesa foi o de ser especialista em restauração, com conhecimento técnico das teorias de restauração, das técnicas de restauro e com experiência comprovada", explica o arquiteto da Secretaria de Cultura, Fábio Caetano. Para a escolha do profissional foi feito um processo seletivo, que contou com a consultoria do Curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis.

A Nizolli Restauro foi a que apresentou proposta dentro do conceito pensado para essas faianças. "Estamos recuperando e trazendo elas a um estado que possam voltar ao acrotério com segurança", explica o restaurador Fábio Galli.

A empresa buscou os profissionais conforme especificações do memorial descritivo da obra de restauro, e através da análise do trabalho desenvolvido por estes profissionais, os fiscais da obra fizeram a seleção do especialista, explica Caetano. De acordo com o arquiteto, a expectativa sobre o restauro é a melhor: "A de preservar e revelar valores estéticos e históricos associados ao bem, garantindo a conservação desse patrimônio histórico e artístico para as gerações futuras".

Nova intervenção

Essas faianças haviam sido restauradas há alguns, quando sofreram intervenções que descaracterizaram algumas das estátuas. Galli exemplifica ao mostrar uma das musas, identificada como Indústria. No antigo restauro foi feita uma outra leitura, na época a peça ganhou um braço e uma cabeça agregadas com um material cimentício muito mais pesado que a cerâmica. Essas partes foram agregadas em posições diferentes das originais.

Além de pesadas demais para as faianças, esses enxertos transformaram a musa em uma santa. Desta vez essas partes enxertadas serão removidas para manter a segurança da peça e apresentá-la de forma mais próxima ao modelo original. "Esta cabeça provavelmente será substituída por um simulacro ou seja que dê o volume a intenção de uma cabeça, que será deslocada para a posição certa", diz o restaurador.

Essas faianças são originárias da Fábrica Cerâmica e de Fundição das Devezas, na cidade do Porto, em Portugal. A empresa atuou entre os anos de 1860 e 1980 e foi considerada, até o início do século 20, a mais importante produtora de artefatos cerâmicos para aplicação na arquitetura daquele país. Com um catálogo de 1910 em mãos, os restauradores de Pelotas guiam-se pela iconografia exata de cada uma das estátuas. "Além da gente ter o catálogo, nós temos também o trabalho da Kelli Scolari, que fez doutorado sobre a caracterização da cerâmica dessas peças e proposta de intervenção e materiais", comenta Galli.

Combate ao falso histórico

A proposta do momento é limpar a peça e fechar toda a possibilidade de que a água volte a penetrar no seu interior. "Passamos uma camada hidrofugante protetora e ela retorna assim, porque aqui, apesar de termos uma boa iconografia sobre o assunto e termos peças, nas quais poderíamos replicar as cabeças, por exemplo, neste momento metodológico, que é a proposta feita pra elas, isto não foi incluído", explica Galli.

Fábio Caetano fala que a restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que não se cometa um falso artístico ou um falso histórico. "A reconstituição de um elemento só deve ser realizada quando se tem a informação completa e original dele. No caso de algumas estátuas que estão sendo restauradas, algumas intervenções anteriores, que visaram a sua conservação, não utilizaram este critério", diz o arquiteto.

Porém se na musa que representa a indústria se optou por tirar o braço enxertado, em outra peça, que representa Portugal, a opção foi manter algumas das interferências do restauro anterior. "Essa cabeça não tem nada a ver com a original, mas resolvemos manter porque ela não está colocando em risco a estátua, ao contrário das outras que pesam e quebram o original", explica o restaurador.

Desta mesma estátua foi removida a mão que segurava uma lança porque saia do eixo, desequilibrando a faiança. "O rosto representaria um senhor com barba e tinha um capacete com uma ponta, porém remover toda essa parte perderíamos muito do original. É difícil decidir o que remover", explica Mara Denise Nizolli.

Para Galli o importante é consolidar tanto por dentro quanto por fora, para evitar que as estátuas criem infiltrações que vão causar microclimas, que podem provocar umidades e dilatações, e proteger contra a amplitude térmica, que pode ajudar a quebrar a peça. "É um trabalho de preservação com um apelo estético, dentro de padrões aceitáveis", fala Fábio Galli.

Descoberta

Cada uma das estátuas têm uma identificação, mostrando o que elas representam. No caso da Baronesa as faianças são nomeadas por: Brasil, a única que só se tem os pés, o corpo não existe mais; Outono 1 e 2; Portugal, Indústria 1 e 2, Minerva, Agricultura, Comércio 1 e 2; Artes 1, 2 e 3; Inverno; Petizes e Patos com tronco.

Durante o trabalho no último mês, os restauradores descobriram uma identificação curiosa na imagem que é atribuída à agricultura. No pé da estátua, que segura um feixe de trigo, era o que se imaginava, está gravada a palavra "Estio". "Não sabíamos da existência desta musa, que é relativa a um entre meio de estações, que acreditamos se referir a colheita do arroz. Para nós foi uma descoberta", fala o restaurador.

As peças são feitas com material cerâmico, a faiança, em formas aos pedaços, depois de secas as peças eram unidas e a peça ficava oca. Na finalização elas poderiam receber esmalte. As peças que a equipe está restaurando não foram esmaltadas pelo fabricante. "Inclusive no próprio catálogo elas são oferecidas esmaltadas ou no corpo cerâmico sem uma intervenção posterior."

A restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que não se cometa um falso artístico ou um falso histórico, a reconstituição de um elemento só deve ser realizada quando se tem a informação completa e original dele. No caso de algumas estátuas que estão sendo restauradas, algumas intervenções anteriores, que visaram a sua conservação, não utilizaram este critério.

"De qualquer forma eu sempre fico agradecido as intervenções anteriores porque elas fizeram a peça chegar até aqui, talvez se não tivesse tido essa intervenção não teríamos essa chance de fazer prosseguir com tecnologias melhores", avalia o restaurador. Para Galli o importante é consolidar tanto por dentro quanto por fora, para evitar que criem biofilmes, infiltrações que vão causar microclimas que podem provocar umidades e dilatações e na nossa amplitude térmica, que chove durante o dia e faz frio à noite, por exemplo, pode quebrar. é um trabalho de preservação com um apelo estético, dentro de padrões aceitáveis.

Equipe

O trabalho que começou em 8 de fevereiro deve prosseguir ao menos até junho. Até agora foram recolocadas as duas musas das Artes. Além de Mara Denise e Fábio Galli a equipe conta com os restauradores Ricardo Gallo Pestano, Andressa Nizolli e Fernando Rebello. Os restauradores ainda contam com o apoio da equipe da Marquês para retirada, transporte e recolocação das estátuas no prédio.


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