Reflexão
Os frutos da casa estremecida
Nova exposição da A Sala reúne a expressão da arte contemporânea produzida na UFRGS
Fotos Ítalo Santos - Especial DP - Poéticas se entrelaçam e criam a atmosfera de um lar
O lar pós-pandemia norteia as obras escolhidas para a coletiva Quando a casa estremece, nova exposição da galeria A Sala, do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas (Ceart/UFPel). Na produção artística de quem esteve em casa por longos meses, tentando se proteger do coronavírus, a curadora, professora e artista Lilian Maus, do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pinça de que maneira os sentimentos que afloraram naquele período foram simbolizados e/ou reelaborados a partir da arte. "A ideia é chacoalhar essa casa e trazer à tona o que quer que saia desse momento de hibernação, uma produção surgida até para dar sentido para as perdas que tivemos", diz.
A coletiva foi aberta na noite de sexta-feira, mas a visitação começa neste sábado acompanhada por uma série de atividades paralelas, como as oficinas programadas para esta manhã. Das 9h30min às 11h, a artista Juliana Gonzalez, ministra Bordados imaginários, e das 11h às 12h, a artista Betina Nilsson, passa conhecimentos sobre a técnica Martelo e flor. Realizadas na A Sala, ambas atividades são gratuitas e abertas ao público, basta chegar no local.
A exposição marca o início de um programa de itinerância da produção cultural realizada na UFPel e na UFRGS. A intenção é fazer com que as obras circulem pelas diferentes instituições, oportunizando conhecimento e troca de experiências. "Queremos fazer essa circulação, incluindo outras federais, como a de Santa Maria, caso contrário a gente fica só expondo o que produzimos dentro da nossa própria instituição", comenta a curadora.
Na A Sala o visitante poderá ver obras dos artistas: Elida Tessler, Adauany Zimovski, Adriene Coelho, Aline Farias, Betina Nilsson, Bruna Salamin, Carmem Salazar, Elissa Seadi, Fernanda Gassen e Michel Zózimo, Isabelle Baiocco, James Zortéa, Jess S. S., Juliana Gonzalez, Laura Fagundes, Leonardo Lopes, Lia Menna Barreto, Luciane Bucksdricker, Marcela Pardo, Marla Pritsch, Maya Bardini, Milena Castro, Pedro Dalla Rosa e Sol.
A maioria das obras é uma criação de artistas ligados à UFRGS, com exceção das convidadas Adriene Coelho, representando o Centro de Artes da UFPel, e Sol, frequentadora da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro. "Dentro do Hospital ela se descobriu artista."
Através de bordados nos aventais das enfermeiras do Hospital, Sol presta uma homenagem à professora Tânia Galli, da UFRGS, que morreu durante a pandemia. "Ela fazia essa ponte arte/saúde mental, tem essa homenagem a essa grande professora e articuladora, principalmente para esse trabalho em saúde mental."
Referências na trajetória
Na mostra, a curadora faz homenagem a duas importantes referências na própria trajetória artística: as consagradas Elida Tessler e Lia Menna Barreto, ao fazer esse diálogo com outros 22 artistas. A seleção trouxe desde artistas que são contemporâneos de Lilian, a exemplo de Adauany Zimovski e James Zortéa, entre outros, até chegar aos que se tornaram seus alunos ou orientandos, como Aline Farias e Betina Nilsson, por exemplo.
A exposição convida o visitante a entrar em uma casa fictícia, na qual as obras escolhidas dialogam entre si criando uma narrativa que marca cada um dos setores de um lar, desde a entrada, passando pela sala, quartos, cozinha e pátio. "Tem trabalhos que falam da recepção da casa, por exemplo, ex-votos de um lado e do outro o local onde se colocam as chaves. É como se tu tivesses entrando ou saindo da casa."
Lilian também interpreta essa casa também como uma referência ao trato com o espaço público, que deveria ser cuidado como se fosse a própria casa. "A gente sente muita falta de ter um espaço acolhedor na Universidade, por exemplo. Ficamos muitas vezes reclamando da precariedade, mas há formas simples de tornar o ambiente mais acolhedor", diz.
Para apresentar suas poéticas os artistas utilizam diferentes técnicas artísticas, que vão da pintura, fotografia, crochê, livro, bordado, escultura, em suportes como tecido, papel, utilidades domésticas e até itens curiosos como uma folha de sinfônico, utilizada para impressão, a fitotipia. Quem traz essa criação é a Carmem Salazar, que tem toda uma produção literária, na qual ela faz referências a sua ancestralidade indígena.
Na sua obra Carmem imprimiu a face de uma mulher indígena, uma imagem que ao longo da exposição vai desaparecer, trazendo uma reflexão sobre a transitoriedade. A impermanência e a mortalidade aparecem também na construção poética de Jess S. S, bacharelanda em Artes Visuais, que tem formação paralela como instrumentadora cirúrgica e atua na área da saúde.
Sobre os tapetes
Fazendo uma ligação entre esses cômodos estão os capachos em crochê de Adriene Coelho. Os pequenos tapetes colocados no chão, que podem ser pisados, segundo a artista, foram produzidos durante a pandemia. A mineira tem formação em pedagogia e vem atuando nas artes desde 2017.
Os tapetes de Adriene trazem frases escritas por mulheres ou que refletem a condição da mulher na sociedade. A criação surgiu a partir de notícias de violência contra as mulheres que estavam recolhidas em suas casas em busca de proteção. "Eu fiquei pensando que tem muita coisa escondida embaixo do tapete, então resolvi, talvez, trazer essas coisas pra cima,no próprio trabalho manual que é totalmente desvalorizado. Trazer isso para dentro de uma galeria causam um certo estranhamento como as frases", comenta.
Serviço
O quê: exposição Quando a casa estremece
Onde: Galeria A Sala - Centro de Artes, rua Alberto Rosa, 62
Coordenação da galeria: Lizângela Torres e Ricardo Mello
Coordenação do educativo: Daniel Momoli
Visitação: a partir deste sábado (17) até o dia 4 de agosto
Oficina Bordando Imaginários
Local: Galeria A Sala
Data e horário: sábado (17), Portas Abertas UFPel, das 9h30min às 11h
Ministrante: Juliana Gonzalez (assistente Betina Nilsson)
Vagas: 10
Oficina Martelo & Flor
Local: Galeria A Sala
Data e horário: sábado (17), das 11h às 12h
Ministrante: Betina Nilsson (assistente Juliana Gonzalez)
Vagas: 10
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