Gravura
Paisagens da Zona Sul inspiram série inédita de xilogravuras
Mostra de obras da artista Lurdi Blauth, que reflete sobre os espaços de preservação, pode ser vista no Ágape
Fotos: Divulgação - DP - Balneário e Laranjal e Colônia Z3 estão entre as imagens capturadas
Elementos de paisagens conhecidas da Zona Sul, como as Lagoas dos Patos e do Peixe e o Taim, inspiram uma série de xilogravuras intitulada Paisagens (Im)Permanentes, que a artista plástica, pesquisadora e professora Lurdi Blauth apresenta pela primeira vez. A exposição pode ser visitada no Ágape - Espaço de arte, de segunda a sexta-feira, das 10h às 12h e das 14h às 19h e aos sábados das 13h às 17h, na rua Anchieta, 4.480.
A estreia em Pelotas traz uma grata satisfação à artista que é natural de Montenegro, mas mora em São Leopoldo há muitos anos. "Gostei muito de fazer a exposição aí, era um sonho antigo, porque as imagens estão relacionadas a esta região sul, então achei pertinente apresentar no seu local de origem", conta Lurdi.
As obras apresentadas são resultados de trabalho com a técnica de gravação em madeira, no caso o cedro, chamada xilogravura. Na série a artista traz a própria interpretação de paisagens que ela registrou em fotografias nas andanças que fez entre 2017 e 2019. O município aparece em imagens extraídas da Colônia Z3, com destaque para os biguás, e até mesmo do trapiche do Laranjal. "A foto é só uma referência, claro que as imagens se transformam no momento em que vou interpretar essas imagens, a partir do corte da madeira."
Essas incisões retiram a madeira, uma tarefa que faz a artista refletir sobre a relação entre cheios e vazios. A técnica, na qual ela constrói uma espécie de carimbo, também a obriga a inverter a perspectiva do que ela está vendo. "É como um espelho, para que saia como eu quero depois de impressa", explica.
Lurdi, que é doutora em Artes Visuais, pela UFRGS - doutorado/sanduíche realizado também na Université Pantheon-Sorbonne, em Paris I, na França - tem uma extensa pesquisa na área da gravura, fotografia, livros de artista e instalação. Na série em que retrata o trapiche do balneário pelotense, por exemplo, ela utiliza a mokulito, técnica japonesa de litografia sobre madeira que trabalha com pincel produzindo manchas, que passam a percepção de aquarela.
A artista já trabalhou com outras temáticas, como a figura humana e o abstrato, entretanto nos últimos anos ela tem trazido nas suas séries diferentes olhares sobre a natureza. "Há 20 anos comecei a trabalhar com materiais menos tóxicos, justamente para pensar questões relacionadas ao meio ambiente e a saúde do próprio artista, então tenho enfatizado esse olhar sobre a importância da natureza para o ser humano. Na realidade a natureza não precisa de nós, nós é que precisamos dela."
A região sul do Estado e suas planícies encantam a artista, que explora a visão bem ampla da natureza. "Onde o céu acaba tocando essa natureza, isso é muito bonito, esse olhar que atravessa, que vai pro infinito. Em algumas gravuras isso é muito presente, tu olhas e vês algo que se estende, tem uma presença, mas também um distanciamento. Não chega a ser uma perspectiva, mas é uma coisa que teu olhar atravessa pro longe", reflete.
Olhar de quem espreita
Convidado para ser curador da exposição, o artista plástico José de Pellegrin, professor aposentado da UFPel, conta que ficou preocupado porque na sua concepção, o curador tem que conhecer muito da obra do artista para de alguma maneira devolver uma espécie de visão pessoal. Mas o interesse e a admiração pelo trabalho de Lurdi o motivou a aceitar o convite, mas não como um curador e sim, na visão dele, um organizador.
Pellegrin comenta que a artista mostra afeto pela natureza e que tem muita consciência sobre a relação do homem com o ambiente natural e uma preocupação com esses espaços de preservação. Na exposição o público verá que o recorte escolhido é de lugares em Pelotas ou próximos do Município. "São espaços que estão no nosso imaginário, acho interessante ela ter trazido para cá esse recorte, porque de alguma maneira ela devolve essa experiência/vivência para um público que, de alguma forma, também tem experiência com esses lugares. E com isso a gente tem acesso ao olhar do artista", comenta Pellegrin.
Para o organizador, Lurdi atualiza uma linguagem antiga (a xilogravura) ao transformar em obra de arte imagens capturadas com celular, influenciando o resultado final. "Muitas dessas imagens ela faz da janela do carro."
Pellegrin vê nessas imagens uma certa tensão dos animais ou um cuidado de Lurdi em não invadir aquele sistema que está estabelecido ali. "É um olhar de alguém que espreita." Os diferentes ângulos que resultam da foto tirada enquanto o carro se movimenta ou em diferentes épocas do ano também trazem novas perspectivas a cenas conhecidas.
O trabalho em preto e branco e a forma como a madeira é escavada também trazem às obras uma certa dramaticidade. "Me dá uma sensação de que é um mundo que mal se sustenta, às vezes, aquele mundo carcomido. Tem essa qualidade na obra, para mim fundamental, que é ela usar a gravura de um jeito muito singular pela maneira que ela trabalha", reflete o artista.
Além dos trabalhos emoldurados, o organizador sugeriu levar para a exposição algumas matrizes, para que o público entenda melhor esses processos. A mostra também traz definições didáticas sobre a arte da xilogravura, além do livro, resultado da tese da artista: Marcas, passagens e condensações _ investigações de um processo em gravura contemporânea.
Serviço
O quê: exposição Paisagens (Im)Permanentes, de Lurdi Blauth
Onde: Ágape - Espaço de Arte, rua Padre Anchieta, 4.480
Visitação: de segunda à sexta das 10h às 12h e das 14h às 19h e aos sábados das 13h às 17h
Entrada franca
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