Zona Sul tem sete composições classificadas no Carijo da Canção
Para representantes de Pelotas, destaques como esse mostram a personalidade e a qualidade da música produzida na região
Divulgação do artista - Especial DP - Músico Jari Terres tem 40 anos de carreira
A música regional da Zona Sul está representada e de forma expressiva em um dos mais importantes festivais do Estado, o Carijo da Canção Gaúcha, que chega a 36ª edição. Das 18 composições classificadas para a fase Geral, sete foram criadas por músicos e/ou compositores da região, com destaque para Pelotas, que se faz presente em quatro delas. O certame ocorrerá nas noites de 26 e 27 de maio, em Palmeiras das Missões, porém todo o evento se desenvolverá entre os dias 21 a 28 do próximo mês, no Parque de Exposições Tealmo José Shardong.
A escolha das classificadas ficou a cargo do corpo de jurados composto por Juliano Javoski, Loma Pereira, Eduardo Morlin, Rogério Knorst e Jorge Nicola Prado, que trabalharam na triagem das músicas de segunda até quarta-feira. Os avaliadores fizeram a seleção entre as quase 800 composições inscritas, entre fase local, geral e instrumental.
“A gente está feliz demais porque nunca aconteceu de passar tantas músicas daqui”, celebra a compositora Aline Ribas, que junto com Bianca Bergman e José Everson Silveira (o Everson Maré) conquistaram uma vaga no festival com o tango Indecifrável. Aline ainda comemora pelas duas composições (O homem e a terra e A lenda aquece o braseiro), que levam a assinatura do músico Robledo Martins, seu marido, na melodia.
Aline, que já teve uma composição premiada em terceiro lugar neste mesmo festival, festeja ainda a visibilidade da música nativista da Zona Sul no Norte do Estado. “A música que a gente produz aqui e consome aqui é diferente da região da Campanha, da região de Porto Alegre, Norte do Estado e Litoral. A nossa nossa influência aqui na região Sul é muito forte da música latina”, fala ao lembrar que, pela proximidade com o Uruguai, as composições carregam muito da sonoridade dos povos latinos. “Eu trago muitas dessas influências e o Robledo também. Sou apaixonada pela chacarera, pela zamba e agora fiz um tango pela primeira vez”, conta.
Na opinião da compositora, Pelotas é um celeiro de excelentes compositores e instrumentistas graças a uma tradição cultural hoje estimulada pela formação acadêmica, não só pelos cursos de música da Universidade Federal de Pelotas. “Nós temos uma faculdade de música que é um espetáculo. Mas do próprio CAVG surgiram grandes nomes do Estado, como Luiz Marenco, Cristiano Quevedo, Joca Martins, Robledo…”
Para a compositora a produção poderia ser ainda maior se tivessem mais incentivo. “Pelotas não tem um festival de música nativista há quase 20 anos. A gente vem nessa briga, queríamos muito fazer um festival aqui. Pelotas tem essas raízes, exporta músicos e instrumentistas e é uma cidade que produz música de qualidade, a gente vê pelo Carijo, que é um festival gigante.”
Retorno depois de 11 anos
Quem também celebra a classificação é o cantor e compositor Rui Carlos Ávila, com Alma além da pedra, uma zamba que será defendida pelo próprio Ávila, além de Robledo Martins, Lyber Bermudez e Everson Maré. “A Zona Sul se mantém há anos como um braço forte da música regional gaúcha, se mantém resistente dentro do cenário cultural gaúcho, tem vários artistas que ainda residem aqui na cidade (Pelotas) e participam ativamente dos festivais. O Carijo é um dos grandes do Rio Grande do Sul, então a Zona Sul foi de extrema importância nesta primeira eliminatória”, diz.
Ávila lembra que o Carijo é um festival voltado para a linha campeira, porém aceita obras com uma visão mais universal em suas poesias. Esta não é a primeira vez que o música tem uma música selecionada para o certame de Palmeira das Missões. “Já participei outras vezes. A última foi há 11 anos, quando ganhei o segundo lugar e melhor conjunto vocal”, conta.
Sempre envolvido em festivais, Ávila estará no dia 5 de maio na mesa do júri do Levante da Canção, em Capão do Leão. Nesta mesma data ele ainda faz show no evento. Sobre a qualidade dos músicos da região, Ávila argumenta que aqui há representantes com longa carreira, com muita experiência, trajetórias bem-sucedidas que são um estímulo para quem está começando. “Só eu, que sou um dos mais novos, tenho 20 anos de estrada. Então se a gente pegar Robledo Martins, Jari Terres, Everson Maré, são artistas mais antigos.”
Assim como Aline Ribas, Rui Carlos Ávila argumenta que a música feita na Zona Sul tem uma identidade própria, por isso destaca nas triagens. ”E devido a esses anos de experiências, esses artistas entregam um trabalho com muita personalidade, muita propriedade naquilo que cada um se propõe a fazer, isso pesa muito num júri de festival.”
Destaque aos novos poetas
E experiência e qualidade no trabalho que entrega são marcas, por exemplo do pelotense Jari Terres, que chega ao Carijo com a milonga Guerreiro cansado de guerra. “A nossa região de Pelotas sempre foi muito rica, de músicos e compositores. Assim como Livramento e Santa Maria são alguns polos ricos em poetas”, fala.
Terres, com 40 anos de carreira, destaca a nova geração de poetas da Zona Sul, embora desta vez a composição classificada no Carijo tenha letra de Carlos Omar Villela Gomes, um dos grandes poetas do Estado, que é da região de Santa Maria. “Por essa qualidade dos poetas, é comum nos festivais ter sempre alguém de Pelotas representando.”
Jari Terres, que começou com o grupo Querência e tem no currículo um vinil e 22 CDs, não cansa de produzir para os festivais. “Nem só de shows e discos vive o artista, ele precisa do festival que é uma vitrine, um cartão de visitas. E principalmente o público que frequenta os festivais tem a oportunidade de ver no palco muitos artistas que admira”, diz.
O músico também destaca Pelotas como um pólo da música nativista, especialmente em função do trânsito universitário. “Pelotas é uma cidade que tem artistas que cantam a música folclórica de toda a América Latina. A cidade tem essa qualidade e uma geração que se espelha muito na gente, então a gente fica muito orgulhoso disso, muito feliz.”
Veja quais composições da região estarão no Carijo
Indecifrável
Letra: Bianca Bergmam
Melodia: Aline Ribas e José Everson Silveira
Cidades: Lajeado e Pelotas
Alma além da pedra
Letra: Martim César
Melodia: Rui Carlos Ávila
Cidades: Jaguarão e Pelotas
Guerreiro cansado de guerra
Letra: Carlos Omar Villela Gomes
Melodia: Jari Terres e José Everson Silveira
Cidades: Nicolau Vergueiro, Capão do Leão e Pelotas
A alma de Palmeira
Letra: Adão Quevedo
Melodia: Tuny Brum
Cidades: São Lourenço do Sul e Florianópolis
Não fui eu?
Letra: Gilberto Haroldo Kerber (In Memorian)
Melodia: Alexandre Giacomini
Cidades: Cruz Alta e Rio Grande
O homem e a terra
Letra: Rodrigo Bauer
Melodia: Robledo Martins e Nilton Junior da Silveira
Cidades: São Borja e Pelotas
A lenda aquece o braseiro
Letra: Rômulo Chaves
Melodia: Robledo Martins
Cidades: Palmeira das Missões e Pelotas
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