Baixada
Em tratamento, gramado do Bento Freitas já apresenta melhor condição
Após colocação de azevém, campo está mais verde e deve apresentar nova evolução relevante no próximo jogo do Brasil em casa, contra o Aimoré
Foto: Carlos Queiroz - DP - Principal responsável pelo terreno de jogo rubro-negro, Alex (foto) explicou ao DP questões técnicas do assunto
Pauta constante nos últimos anos por conta da queda de qualidade, o gramado do Bento Freitas vive processo de renovação. E os primeiros resultados já ficaram nítidos no empate do Brasil com o São Joseense, domingo. Mais verde, o campo facilitou a circulação da bola e recebeu elogios de Rogério Zimmermann. O principal responsável, Alessandro de Oliveira, chamado de Alex, explicou ao Diário Popular o trabalho.
É um procedimento de longo prazo. Exige manutenção contínua e investimento. Um dos primeiros passos da renovação foi a colocação de um azevém importado, trazido de São Paulo. Isso aconteceu em 28 de abril, dois dias depois da partida contra o Atlético Mineiro. Desde então, o elenco rubro-negro passou a treinar na Arena Marini, e não ocorreram mais jogos na Baixada.
Além disso, as precipitações do início de maio aceleraram os efeitos. "Começamos na sexta-feira (28), fomos até as oito horas da noite. Sábado até as seis horas. Domingo até uma e meia. Botamos seis cargas de areia pra emparelhar ele. Domingo de tarde molhei e fui pra casa. Pensei 'podia dar uma chuva'. Começou aquela pancadinha… Choveu a semana toda. Não precisou molhar", explica.
O azevém colocado é o mesmo da Neo-Química Arena, do Corinthians, e da Arena Condá, da Chapecoense, por exemplo.
A importância do cuidado
Ao receber a reportagem em um lugar que pode ser definido como sua segunda casa - o campo da Baixada -, Alex enfatizou, mais de uma vez, a necessidade de respeitar os processos para ter um terreno de jogo de qualidade. Algo que era rotineiro durante boa parte da estada do clube na Série B do Brasileirão.
"Tem um jogo, por exemplo, que nem ontem [domingo]. Tu precisa de no mínimo três dias, quatro dias, ela [grama] respirando sem ninguém pisar em cima. Só botando água e deixando o sol pegar pra ela poder recuperar. Aí ela volta. Agora, se treina, sapateia todo dia, não tem como. A grama é um ser vivo. Botou adubo tem que esperar três dias pra pisar", afirma.
O funcionário do Brasil, que no segundo semestre do ano passado iniciou sua terceira passagem pelo clube, explica as peculiaridades das estações e cita dois períodos específicos. "O começo do preparo, em novembro, pro Gauchão, pra bermuda [tipo de grama] ficar excelente pra entrar o inverno. Quando chega ali por maio, abril, tem que fazer aquela limpeza. Passa uma máquina pra tirar as imperfeições", diz.
Alex afirma que o azevém cresce um centímetro por noite. E continua, a respeito das demandas de cada época do ano: "Todo esse tratamento, de botar adubo e areia, já é pra própria bermuda. Agora ela [bermuda] entra em dormência. Mas aí tu vai botando areia, vai dando adubo, tu tá tratando ela. Chegou em setembro, ela já tá forte, estoura e vem. Terminando o campeonato, lá em novembro, a gente faz aquela raspagem, aquela perfuração, que deixa o solo mais macio e faz a grama respirar".
A necessidade do investimento
Elogiado em público com frequência por Rogério Zimmermann, o profissional acredita que o fato de o treinador estar no Brasil é essencial para as melhoras no campo. Ele também dá créditos à direção pelos investimentos. Conforme Alex, aliás, institucionalmente o clube precisa enxergar o tema como relevante.
"Tem que ter continuidade. Posso fazer esse trabalho todo aqui e ir embora, mas se os caras não continuarem, vai perder tudo. Começamos em 2014 e não paramos todo ano. Eu saí em 2019 e não fizeram mais nada. A televisão mostra isso", relembra, citando como exemplo a média de preço de um trator de corte de primeiro nível - de R$ 150 mil a R$ 240 mil, quantia com a qual o Xavante não tem condições de arcar. Está prevista para amanhã a chegada dos robôs de corte, fruto de parceria do clube com a empresa Irmãos Jouglard.
O azevém recentemente comprado custou R$ 40 mil. Em adubo, gastou-se cerca de R$ 10 mil. Por mês, precisam ser investidos em média R$ 4 mil apenas para esse material.
"É o que eu gosto"
Convidado para conhecer o gramado do Beira-Rio em 1999 por um dos responsáveis à época, Alex começou a se interessar pelo assunto. Anos depois foi para o Novo Hamburgo e iniciou, de fato, a atuar no ramo em 2007. Referência da área, a engenheira agrônoma da CBF, Maristela Kuhn, que é gaúcha, foi essencial durante o processo de aprendizagem.
"Aí foi indo. Fui gostando cada vez mais. É o que eu gosto. Quando tu gosta, parece que dá tudo certo. Sempre falo pros meus companheiros: 'vamos fazer, esteja alguém olhando ou não'", resume, contando que costuma ir ao Bento Freitas até em domingos e feriados, acompanhado de um chimarrão, apenas para conferir o estado do campo.
O funcionário xavante, que chegou a passar pelo Pelotas antes do último retorno ao Brasil, lembra dos elogios feitos pessoalmente por Vanderlei Luxemburgo, em 2015, na partida diante do Flamengo. E lamenta o nível do gramado nos anos recentes, principalmente 2022. "Olhei um jogo da Série C, um dia, e os caras estavam esculachando. O Rogério [Zimmermann] me ligou e disse 'bah, Alex, tá vendo? Que coisa feia, estão esculachando o campo'", conta.
Alex diz ter recusado propostas de diversos clubes, inclusive de outros estados. "Não quero saber de salário. O que quero é condições pra arrumar o campo, dar qualidade de novo. Tem que ter visão. Primeiro passo: dar um campo de qualidade. Como é que cobra o jogador?", reflete. "Não tem dinheiro que pague. Isso aqui é minha vida".
Três semanas sem jogo
Sexto colocado do grupo A8 da Série D após duas rodadas, o Brasil só volta a atuar em casa no dia 4 de junho, diante do Aimoré. As próximas duas partidas serão como visitante, contra Novo Hamburgo (domingo, 21, às 18h) e Caxias (sábado, 27, às 15h). O elenco se reapresenta nesta terça (16), às 14h30min.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário