Com objetivo de qualificar a estrutura de treino de 52 atletas da equipe de natação, o Clube Brilhante conseguiu o financiamento pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul por meio do Pró-Esporte. Um dos requisitos para receber a verba é a criação de um projeto social. No caso do Esmeraldino, a contrapartida foi oferecer duas turmas de 15 alunos de 8 a 10 anos. Uma no primeiro semestre e outra no segundo, para alunos exclusivamente da rede estadual. O projeto do Clube Brilhante recebeu o nome de Conquista pelas Águas.

O objetivo da iniciativa é dar oportunidades para crianças que não possuem condições de frequentar o clube, ou fazer aulas de natação, devido aos custos, além de praticarem exercícios. Nas aulas, elas tiveram a oportunidade de aprender natação sem despesas. O CB ainda disponibilizou todo o material para cada aluno. As aulas do projeto iniciaram no dia 8 de abril.

A primeira turma é formada apenas por alunos do Instituto Estadual de Educação Assis Brasil. A diretora da tarde e professora do curso normal, Margarete Antunes, diz que o interesse foi grande das crianças pelas vagas e considera um "presente" a participação do colégio no projeto social do Brilhante. "Muito bacana. Fico emocionada de falar. Quem não vive o cenário da educação, o que estamos vivendo hoje. Somos uma escola de centro. A gente tem todos os bairros dentro da escola. O Assis do Brasil tem 93 anos. A gente nunca teve o distanciamento tão gigante com o Estado no que se refere à manutenção. Estamos fazendo um projeto com os pais para poder fazer as reformas e obras que estamos visualizando", disse.

O histórico professor do Clube Brilhante, Antônio Weymar, o Nico, lembra que no começo das aulas do projeto alguns alunos tinham até mesmo medo de entrar na piscina e agora, depois de dois meses do começo, todos já estão conseguindo nadar. "Isto é muito gratificante, ver a evolução de cada um deles", afirmou o professor. O diretor do CB e nadador da equipe máster, Abaca Schwonke, também ministra as aulas ao lado de Nico.

Aluno supera o medo

Todas as crianças inscritas no projeto tinham em comum o fato de não saberem nadar. Porém, um aluno em especial tinha uma barreira para superar: o medo de entrar na piscina.

João Miguel de Fraga, de 8 anos, estava na piscina, no último verão, quando um amigo pulou na piscina e a água o cobriu. A mãe, Alessandra Fraga, relembra que quando perceberam, João estava tentando levantar e não conseguia. "Quando pegamos ele estava muito assustado. Não quis mais entrar e brincar na piscina. Pegou um medo muito grande".

Com a possibilidade do projeto, a mãe de João viu a oportunidade dele praticar um esporte e também de superar o recente trauma. Alessandra conta que perguntou se ele queria fazer as aulas e a reposta foi positiva. Porém, quando viu a água e as piscinas do Clube Brilhante o medo falou mais alto. "Ele foi muito encorajado até o momento que viu a água e aquelas piscinas gigantes, aquilo fez voltar aquele momento de quase afogamento e transformou em algo muito ruim. Ao mesmo tempo que ele queria ele tinha muito medo, ele não queria nem entrar na água".

Nico lembra que na primeira aula João chorou muito e disse que não iria mais frequentar o projeto. O jovem retornou e a partir daí foi vencendo a barreira do medo a cada aula. "Aos poucos foi evoluindo. Na segunda aula ele já não chorou mais. Ele sabia que tinha dificuldade e que tinha que vencer. A cada aula ele progredia. Na terceira ou quarta ele já conseguia ficar mais tempo embaixo da água. É um trabalho de bastante paciência", contou.

A mãe de João disse que sempre deu todo o apoio, que os professores também sempre o incentivaram e que em nenhum momento ele seria forçado a fazer algo contra a vontade. "Aos poucos ele foi indo, sempre foi um passinho de cada vez. O professor dele conseguiu passar muita confiança".

Hoje, João já consegue dar braçadas, mergulhar e pular na piscina com a naturalidade de qualquer criança da idade. "É uma história de superação. Ele vem se superando, ele vem buscando nele mesmo essa superação deste medo que ele ficou pra conseguir fazer aquilo que ele quer muito fazer, mas o medo não deixava. Ele vem acreditando nele mesmo. Vendo que é possível de fazer. Quando se sente confiante que nada vai acontecer ele vai lá e faz", disse a mãe de João.

A participação do projeto surgiu meses depois do susto de João quase se afogar. Alessandra acredita que se ele não tivesse essa oportunidade talvez carregasse esse medo de não entrar mais na água. "Agora ele á está bem confiante, feliz, gosta bastante. Chega correndo e pula na água. É muito bonito de ver essa evolução neste período, está bem contente".

Ao Diário Popular, o próprio João Miguel falou sobre a experiência de participar do projeto, aprender a nadar e superar um recente trauma. "Está sendo muito bom. Adorei aprender a nadar. Agora já sei nadar, não vou me afogar tão facilmente e também pela segurança. É divertido dar um pulo na piscina", afirmou.

Professo do João, Nico diz que a história do jovem mostra que todos têm condições de fazer natação e superar os medos. "A grande lição do João é que não se pode desistir. Esse menino esteve prestes a desistir e
poderia ter medo a vida inteira. Ele conseguiu vencer a barreira do medo. [...] Com muita força de vontade, querendo vencer a barreira, todo mundo consegue".

Além de aprender um novo esporte e superar um trauma, João Miguel garante querer seguir praticando a natação mesmo após o fim das aulas do projeto.