À sombra das figueiras centenárias reina um paraíso que fica logo ali, ao ladinho leste de Pelotas: o Laranjal. Refúgio dos pelotenses que frequentam as areias dos balneários, quase que em todas as estações do ano, o bairro - que já abriga milhares de moradores - chega aos seus 72 anos com um um ar de serenidade. Não pela idade, mas pelo esplendor de sua natureza, com o contemplar do nascer do sol e a abundante fauna e flora. A modernidade chegou ao local pedindo passagem, mas só permanece quem tem a consciência de preservar e, assim, é muito bem recebido pela paisagem da orla da Lagoa, principalmente no próximo domingo, dia 4, quando a Prefeitura de Pelotas promete muitas atrações.

Conta a história que seu Antônio Augusto de Assumpção Júnior, responsável pela urbanização de parte de suas terras rurais, exigiu que se fosse preciso abrir uma rua ou estrada e se nela houvesse uma figueira ou um coqueiro, então a via deveria ser desviada. Prova disso está na rua São Borja, entre São José do Norte e Rio Grande, onde um exemplar permanece intacto. O primeiro a surgir foi o balneário Santo Antônio, em 31 de janeiro de 1952, depois, o balneário dos Prazeres, um ano depois. O Valverde veio em 1957. Desde então, basta atravessar a ponte do arroio Pelotas para desfrutar da natureza que foi se adaptando. A avenida da praia, por exemplo, ganhou um calçadão, o que fez com que as figueiras ficassem mais baixas. Depois veio o asfalto, melhorando o trânsito de veículos. Já a faixa de areia, quase branquinha, permite abranger dezenas de milhares de pessoas em dias de muito calor e sol forte. Para refrescar, as águas das Lagoas dos Patos - que esse ano ainda não salgou - têm locais próprios para banhos e sua profundidade garante banhos seguros para as crianças. Mesmo assim, duas guaritas estão instaladas ao longo dos mais de dois quilômetros de praia, com guarda-vidas sempre apostos para o atendimento.

Em cada ponta dos balneários, os espaços são reservados para os esportes aquáticos e de pesca. A variedade gastronômica está virando o ponto alto do verão, com os estabelecimentos sempre com bom movimento. Cenário que não se restringe só às margens da orla, mas a caminho da praia, pela avenida Adolfo Fetter, pois são muitas as opções de restaurantes - graças aos condomínios fechados. Essa movimentação também atraiu todo o tipo de comércio, que há dez ou cinco anos, era preciso ir buscar na cidade. Desde a venda de colchões, passando por academias até papelarias.

"Não existe um lugar com essa geografia", declarou a funcionária pública municipal aposentada, Denise Sandim Ferreira. Para ela, morar na praia, para quem se aposenta, é qualidade de vida. "Tem um aspecto de interior, vida de interior, onde quase todos se conhecem." E por esse amor que a aposenta tem pela balneário que ela enfatiza a questão da falta de infraestrutura, principalmente os cuidados com as ruas. "As pessoas não são mais hospedeiras, são moradoras e aqui parece que a atenção é só nos três meses de temporada", lembra. Para Denise, não só questão de ruas patroladas, mas sistema de abastecimento de energia elétrica, sinal de telefonia móvel, mas também consciência coletiva, pois além da fiscalização do poder público, a população poderia cuidar melhor da orla, não depositando resíduos. "A melhor atitude é aquela que vai atingir o maior número de pessoas, com por exemplo, asfaltar todo trajeto do ônibus, facilitando o acesso à ruas adjacentes".

Já a opinião dos visitantes de Santa Cruz do Sul, o vendedor Carlos Alberto Wermuth, 51, o comerciante Luiz Carlos da Silva, 62, e a atendente de lanchonete Solange Maria da Silva, 50, é a melhor possível. "Está bem mais organizado em comparação a última vez que vim aqui, com as lixeiras instaladas", disse ela. "Eu pretendo vir mais vezes", garantiu o comerciante que registrava a paisagem do Trapiche. Já o vendedor achou a praia bem tranquila.

Para comemorar

Para a presidente da Associação Comunitária do Laranjal, Susana Gama, o que se tem a comemorar são as belezas do bairro. "O Laranjal é lindo e as pessoas são felizes aqui. Pena que o poder público não enxerga o potencial para turismo que temos aqui. É um bairro de todos os pelotenses e poderíamos ter muitos veranistas de outras cidades. Mas não há infraestrutura para isso", lamentou. Entre os apontamentos, estão a falta de iluminação pública, inclusive na orla, ter Guardas Municipais na zona do trapiche, melhorias no deque de madeira, limpeza da orla nos fins de semana e, principalmente, a manutenção das ruas. "A cada chuva, o balneário fica horrível, falta esgoto e as águas da lagoa ficam impróprias em grande parte pela falta de saneamento", cita. A Asclar considera ainda que a Unidade Básica de Saúde (UBS) local deixa a desejar em relação ao atendimento, principalmente no horário. "O mais importante: não ter a Emei (Escola Municipal de Educação Infantil), pois muitas mães precisam trabalhar e não têm um lugar para deixar seus filhos pequenos." Entre as reivindicações ainda está o pedido de maior empenho da secretaria de Turismo de Pelotas e ter assim, um bom retorno financeiro para o local e seus empresários.

Programação

No dia 4 de fevereiro haverá desde ações educativas até feira de adoção de animais e apresentação de trio elétrico na avenida.

- Serão apresentadas iniciativas municipais, como o programa Bairro Empreendedor, e da gestão ambiental da duplicação na BR-116, feita pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e Serviços Técnicos de Engenharia S/A (STE), na Casa de Praia da Prefeitura e Sesc.

- Feirinha de adoção responsável de animais, com intuito de encontrar um lar para os bichinhos. A ação contará com apoio da vereadora Marisa Schwarzer (PSB), que aportou uma emenda impositiva de R$ 10 mil para o evento de aniversário do Laranjal.

- A partir das 17h, começa a preparação para o trio elétrico com a Banda Mídia e convidados. A concentração ocorrerá até as 18h em frente ao Trapiche com saída em direção ao Shopping Mar de Dentro, com parada em frente ao shopping até encerrar às 21h.