Inclusão

A arte como meio de comunicação

Exposição de pacientes de oficinas de criação coletiva da UFPel marca Dia Mundial da Saúde Mental

Volmer Perez -

Ao fundo da sala de exposições da Unidade Básica de Saúde (UBS) CSU Areal, Alexandre Esmerio de Matos, 44, está concentrado em seu trabalho. Em um tecido, ele reproduz a imagem que está no livro de história da arte. Com traços firmes e precisos, o autista transforma a dificuldade verbal em obra. As reproduções expressam sentimentos, entusiasmo pelo saber, dedicação, comprometimento e responsabilidade inerentes ao seu mundo. Assim, o paciente encontra formas de dialogar e conviver com a equipe interdisciplinar da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e com os familiares. Para o artista, o trabalho ajuda a manter a sua vida. Matos é só um exemplo do trabalho realizado desde 1996 pela universidade, em parceria dos departamentos de Saúde Mental e de Medicina Social da Faculdade de Medicina (Famed), que são as oficinas de criação coletiva. O resultado virou exposição em celebração ao Dia Mundial de Saúde Mental, comemorado nesta segunda-feira (10).

Junto a outros quadros de Matos, estão pinturas, desenhos quadrinhos, fuxicos, almofadas e até poemas produzidos durante as oficinas que ocorrem duas tardes por semana, nas UBSs CSU, que fica no Areal, na UBS Areal Leste, no posto da Vila Municipal e no departamento de Saúde Mental da Famed. De acordo com a assistente social, Lenara Lamas Stelmach, durante o tempo dedicado às criações, os pacientes conversam entre eles e com as equipes de profissionais que contam com residentes da Psiquiatria e tem a coordenação geral do médico Carlos Alberto Purper Bandeira. "É importante dizer que estamos de portas abertas para os familiares, inclusive para dar suporte, pois entendemos que fica muito pesada a convivência, e aqui podemos orientá-los, por exemplo em situações de crise", disse a assistente.

O resultado desse trabalho, na avaliação do coordenador Bandeira, é a redução na necessidade de internação de pacientes em hospitais. "Além da linguagem oral, a linguagem pré-verbal é muito importante. Às vezes, é mais fácil expressar num desenho ou numa atividade qualquer, do que falar. Com a evolução, o paciente vai predominar mais a linguagem verbal. Este é um método muito efetivo", explicou. A técnica Maria Laura Nogueira destaca ainda que o foco é o convívio social, ou seja, retirar essa pessoa de casa com todos os problemas que ela tem nesse ambiente, levá-la para oficinas, onde possa ser identificada uma série de questões, até físicas, uma vez que cada Unidade conta ainda com atendimento clínico e assistencial.

Ganhos também ao intelecto
As atividades vão além da arte. No setor de educação, também desenvolvido nas oficinas, a professora do departamento de Medicina Social, Maria Aurora Dropa Chrestani Cesar, e médica docente da UBS, conta que uma das pacientes era tratada a partir de um diagnóstico. No decorrer do tempo, descobriu-se que ela era autista e, hoje, é aluna de Pedagogia da UFPel e realiza os trabalhos acadêmicos durante as tardes na UBS, entre uma atividade e outra. "Esse convívio, e com o trabalho multidisciplinar, faz com que a gente veja as habilidades intelectuais dos pacientes."

O artista Matos também desenvolve seu lado intelectual. Mergulhado no mundo da história das artes, reproduziu a imagem da República da Revolução Francesa e decidiu: "Vou fazer os melhores quadros no muito inteiro e pela nossa gente. Eu gosto de desenhar e de pintar." E o foco agora está no Catar, em função da Copa do Mundo de Futebol e, para ficar por dentro dos competidores, sabe todas as flâmulas, bandeiras, países e as capitais dos participantes.

Para realizar as oficinas, os pacientes precisam ser encaminhados através do atendimento na Atenção Primária.

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