Educação

A bola de neve do ensino da matemática

De acordo com o coordenador da Matemática da UFPel, Antônio Alves, nos primeiros semestres do curso, o conteúdo exige maior preparação aos alunos que ingressam com um mau preparo escolar

Paulo Rossi -

O método ultrapassado do ensino da matemática na educação básica, somado à desvalorização do professor, tem resultado numa baixa procura pelos cursos superiores na área de exatas. Do total de 450 vagas distribuídas nas graduações em Matemática da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), apenas 209 estão preenchidas - isto significa 53,5% em aberto. A longo prazo, deve acarretar na falta de professores na cidade. A redução também é registrada em outros cursos. A licenciatura em Física possui 117 vagas livres, enquanto a graduação em Meteorologia, mais de 200. Estes dados vão além das vagas ofertadas via Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Para tentar reverter o quadro, programas da UFPel buscam formas de estimular o interesse de estudantes pela área, bem como a permanência dos que já integram a academia.

Uma pesquisa divulgada no último mês pelo movimento Todos Pela Educação, mostra que apenas 7,3% dos estudantes saem do Ensino Médio com conhecimento considerado desejável em matemática. O índice é ainda mais alarmante se considerado apenas alunos de escolas públicas, onde ele chega a 3,6%. Este cenário revela o modo como a disciplina é ministrada e reflete diretamente na procura por cursos, com exigência de cálculos nas universidades.

Para o coordenador da Matemática diurno da Universidade, Antônio Alves, o conteúdo apresentado nos primeiros semestres exige uma maior preparação aos alunos que ingressam com um mau preparo escolar. Érick Hernandes exemplifica essa dificuldade no comparativo ensino básico e graduação. Considerado um dos melhores da sua classe durante a escola, o estudante acreditou que o segmento dos números seria o caminho para a profissão. Uma vez apresentado aos conteúdos do curso, passou a registrar baixo rendimento nas suas notas. A situação o desmotivou após dois semestres de curso, fazendo com que migrasse para Letras - Português e Espanhol, onde se formará no final de março.

Formando em Matemática, Cristian Garcia diz ter afinidade à vocação de professor, mas as condições oferecidas pela profissão no ensino básico lhe desanimam. Na tentativa de dar aulas em curso superior, ele fez sua inscrição para o mestrado e, assim como ele, outros 15 colegas seguiram o mesmo caminho. Apenas três não conseguiram ingressar na pós-graduação. Por ano, a UFPel recebe 50 novos alunos no turno da tarde. Entretanto, entre cinco e 15 concluem a formação.

Contornando a situação
A fim de diminuir esta evasão do Ensino Superior, o coordenador do Grupo de Apoio em Matemática (Gama), Cícero Nachtigall, desenvolveu o projeto que atende, por semestre, 450 alunos de 30 cursos com cálculo no currículo. A iniciativa existe há sete anos e já atendeu mais de 15 mil estudantes. Através de monitorias, 20 bolsistas auxiliam estudantes aprovados no processo seletivo com aulas de revisão e reforço, antes do início do semestre. O projeto também atende alunos já matriculados que encontram dificuldade nas cadeiras de cálculo.

Em 2015, 60% dos alunos atendidos eram cotistas - pessoas que estudaram total ou parcialmente em escolas públicas, ou se auto declaram negras. O que, para Nachtigall, confirma a situação atual do ensino público, onde muitos alunos ingressam na universidade sem dominar conhecimentos considerados simples. O professor considera que os cursos de extensão atingem um bom patamar de recuperação, onde pelo menos 65% conseguem maiores índices de aprovação

Qualificação dos professores
A futuros educadores, o professor Antônio Alves traz à tona a importância do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), que coloca alunos da Universidade dentro das escolas desde seus primeiros semestres. Esse contato com o dia a dia do ambiente pode servir de estímulo à conclusão do curso e à vontade de fazer a diferença na área. O programa disponibiliza uma bolsa mensal a esses incluídos, além de acrescentar horas às suas atividades complementares.

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