Perigo
A consciência ainda é a melhor sinalização
Demanda da comunidade por solução no trânsito é alta e vem de diversos pontos; o Diário Popular ouviu dois especialistas no assunto e pediu que apresentassem alternativas para aliviar a insegurança no trânsito
Fotos: Jô Folha
Conscientização: termo bastante conhecido e repetido em campanhas preventivas, porém, nem tanto praticado quando o assunto é trânsito. Após diversos comentários que exclamam a preocupação com acidentes, o Diário Popular convidou os especialistas no tema Henrique Coelho e Rafael Hallal para tentarem apontar alternativas a alguns dos principais pontos de conflito de Pelotas, apresentados por leitores do Jornal. Não serão suficientes quebra-molas, faixas de segurança ou sinaleiras (conforme a maioria da comunidade aponta como solução para acidentes) se não houver educação - e, portanto, conscientização - por parte das pessoas, destacam os dois.
É importante ressaltar: as sugestões oferecidas pelos engenheiros de trânsito não levaram em consideração estudos específicos sobre cada problema identificado. Elas trazem à tona medidas que poderiam ser aplicadas para reduzir a insegurança no tráfego. Os especialistas são docentes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e atuam no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Avenida Fernando Osório, na altura da Escola Municipal Fernando Osório - Três Vendas
Na região do bairro Três Vendas o fluxo é intenso, principalmente em horários de pique. A comunidade escolar da Fernando Osório tenta buscar formas de evitar acidentes - são 663 alunos divididos em três turnos. Em um dos lados da avenida, em direção ao Centro, a faixa de segurança está pintada pela metade, o que deixa estudantes, responsáveis e funcionários do educandário apreensivos.
Para atravessar a via e chegar até a parada de ônibus, do outro lado, pedestres dependem em maior parte da disposição de motoristas. Segundo funcionários da instituição, a sinaleira colocada em altura próxima à escola aliviou a sensação de insegurança. A via pela qual se trafega em direção ao bairro é problemática. Henrique Coelho sugere que reforçar a sinalização naquele trecho seria uma alternativa viável para aliviar o problema. "Mas todo problema passa pela conscientização. Se não houver prudência por parte do motorista, a sinalização não influencia na segurança", reforça.
Entroncamento de avenidas Juscelino Kubitschek de Oliveira, Ferreira Viana e Domingos de Almeida - Centro
Neste ponto o movimento chega de todos os lados: o fluxo de motoristas rumo à praia do Laranjal, a saída do Hipermercado Big, além dos pontos de ônibus nas imediações contribuem para um trânsito agitado. Conforme os engenheiros, a ampliação de uma das vias ajudaria o trânsito a fluir. Outra possibilidade seria modificar o lugar de acesso de carros ao hipermercado. "Teria também que haver um cuidado especial na drenagem do canal (pela Ferreira Viana). Claro, envolveria custos altos que não sabemos se são viáveis ao Poder Público, mas são opções", justifica Rafael Hallal.
Funcionário de um estabelecimento que fica quase à esquina da Juscelino Kubitschek, Richard Ávila, 19, alega que a colocação de sinaleira no trecho melhorou as condições do tráfego, mas opina que a situação ainda está longe do ideal. "Acidente não tenho visto aqui, mas o pessoal passa sempre correndo. E pro pedestre é bem difícil de atravessar, porque nem todos os lados têm faixa de segurança", reivindica.
Cruzamento das ruas Almirante Barroso e Lobo da Costa - Centro
Os engenheiros alegam que neste caso a medida de trânsito "mais interessante" seria a proibição de estacionamento nas esquinas, pois a visibilidade dos motoristas é prejudicada. Outra questão que colabora para trancar o tráfego é a via ser de mão dupla em área central: "Está caindo de maduro a Barroso se tornar mão única", avalia Coelho.
Cruzamento das ruas Dom Pedro II e Giusepe Garibaldi - região portuária
O motorista que trafega pela Dom Pedro II está na preferencial, no entanto, ao cruzar pela Giusepe Garibaldi a via não é mais de sua preferência. "É preciso mais sinalização no local pro motorista saber que tem que parar", salienta Coelho.
Cruzamento entre avenida Duque de Caxias e rua Frontino Vieira - Fragata
No Fragata, a requalificação da avenida Duque de Caxias, aliada à falta de conscientização de muitos motoristas, facilitou o desenvolvimento de um problema: os veículos estão, quase que em regra, em alta velocidade pelo trecho. Neste cenário, o quebra-mola seria uma alternativa positiva, pois ajudaria a controlar a velocidade dos veículos, opina Hallal.
Segundo Coelho, se fosse alterado o lugar do retorno de veículos para fora de via pública, o trânsito seria mais seguro. "Seria uma obra mais vultuosa, que envolveria mais custos. Uma obra até antipática para as pessoas, porque elas teriam de fazer uma volta maior para concluir o retorno. Mas seria a alternativa mais segura, na minha opinião", sustenta o especialista.
A atendente Juliana Garces, 24, que trabalha em um local à esquina do cruzamento, alega que diariamente ouve e assiste pneus derraparem no ponto. Sem faixa de segurança ou sinaleira, ciclistas e pedestres geralmente dependem da boa vontade de quem dirige outros veículos para conseguirem atravessar. "É ainda pior em dias de chuva. O movimento é sempre acelerado, não importa a hora", garante a colega de trabalho, Alessandra Rosa, 31.
Educação
Henrique Coelho e Rafael Hallal explicam que sinaleiras e quebra-molas tendem a deixar o trânsito mais difícil; trancado. "Às vezes, não basta só isso. São itens que podem ajudar de início no trânsito, mas Pelotas precisa se preocupar com mobilidade", atenta Coelho. O desafio dos gestores, portanto, é contemplar o todo: segurança e economia. Educação é um ato contínuo - defendem os especialistas.
Blitze educativas e campanhas enfáticas focadas em públicos específicos - como, por exemplo, motociclistas - também podem ser adotadas pelos órgãos responsáveis, sugerem. A participação do Poder Público neste sentido é imprescindível, já que educação carece de investimento.
Hallal exemplifica o comportamento dos motoristas em relação às mudanças realizadas na avenida Bento Gonçalves: "A Bento melhorou ao longo do tempo e as pessoas se adaptaram. É uma questão de cultura". Para que o trânsito funcione, é preciso focar e tocar na conduta local de motoristas, em geral, e pedestres.
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