Patrimônio

A luta agora é contra o tempo

Histórico rebocador Silveira Martins está atracado no Porto de Pelotas desde 1982 sem receber restauro

Carlos Queiroz -

Solitário há 35 anos em meio à vegetação e às águas do Porto de Pelotas. Esse é o estado do navio rebocador de origem holandesa Silveira Martins, construído em 1909 e considerado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) um bem cultural. O navio operou até 1982, quando foi atracado na região do Porto para reformas e de lá nunca mais saiu. Ao longo dos anos, a intenção era retirá-lo da água para que sua estrutura fosse conservada. Porém, o rebocador continua à espera de um projeto difícil de sair do papel.

A vista da embarcação de 108 anos é melancólica. Abandonado em uma seção do Porto, o Silveira Martins virou uma espécie de tesouro local, visto que é raro não só por sua antiguidade, mas também porque seu mecanismo a vapor ainda se encontra em boas condições. Foram diversas as consequências da falta de preservação e do tempo sobre sua estrutura, bastante deteriorada. Há alguns anos ainda era permitida a entrada no rebocador, mas hoje, segundo funcionários do Porto, ele já não oferece segurança para visitas. Também são muitos os buracos no costado da embarcação, que é feita principalmente de ferro.

Quem o viu navegando pelas águas da Lagoa dos Patos ainda no século passado se indigna com o seu estado atual. É o caso do marinheiro Rudinei Ribeiro, que, quando tinha apenas 19 anos, iniciou seus trabalhos como funcionário do Silveira, em 1978. De Pelotas para outras cidades do Estado, muitas foram as viagens do trabalhador com o navio. “Quem visse essa máquina trabalhando se apaixonava”, afirma.

No entanto, Paulo Renato Baptista, professor aposentado do IFSul, é, sem dúvidas, o maior entusiasta pela causa. Na década de 1990 ele encontrou o rebocador enquanto fazia uma dissertação de mestrado sobre Patrimônio Histórico, e foi “amor à primeira vista”, como conta. No momento em que teve a consciência de sua importância, o professor fundou a Sociedade do Museu Marítimo de Pelotas (Sommar), com o objetivo de proteger a embarcação do risco de sucateamento - na época ela seria leiloada por R$ 8,2 mil, preço muito abaixo de seu real valor, segundo Baptista. “Estou praticamente a vida toda envolvido com o Silveira Martins (...) ele é, talvez, o último com propulsão a vapor no país.”

Hoje, Baptista não pensa mais em içar o barco. Agora, o objetivo é fazer sua revitalização no lugar onde está para, depois, abrir a visitas da população. Conseguir o certificado de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é um dos passos para isso. Um parecer técnico foi elaborado e será encaminhado ao órgão federal pela Sommar - no mínimo, o tombamento impediria a peça histórica de ir para leilão novamente.

Visita ilustre
A campanha para impedir o rebocador de ir para o ferro-velho foi tão intensa que alcançou proporções internacionais. Em 2001 dois pesquisadores holandeses, Pieter van Leuwen e Pieter Rujper, se deslocaram até Pelotas para conhecer o rebocador e, conforme Baptista, ficaram impressionados pelas condições do mecanismo a vapor. O próprio professor já esteve na Holanda para visitar o estaleiro Boelen & Zonn, onde foi construído há mais de um século.

Saiba mais
Deslocamento  - 92 toneladas (*)
Comprimento -  25 metros
Largura - 5,4 metros
Motor - Alblasserdamsche Machinefabriek
Potência do motor  - 245 HP
(*) Deslocamento é o peso da água deslocada por uma navio flutuando em águas tranquilas

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