Saúde

A nova aliada no combate ao câncer

Estudo está no início, mas os resultados já mostram que as atividades podem ser aplicadas

Jerônimo Gonzalez -

Os benefícios das atividades físicas são amplamente conhecidos por profissionais de saúde e pela população. Mas uma nova pesquisa, desenvolvida na Escola Superior de Educação Física (Esef) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), aponta que uma rotina de exercícios semanais pode ser grande aliada também no tratamento do câncer de mama, além de aumentar a qualidade de vida e o bem-estar.

A American Cancer Society recomenda que pacientes com câncer realizem atividades físicas moderadas ao menos 150 minutos por semana, e foi a partir do interesse pelo assunto que a doutora Stephanie Santana Pinto, da Esef, iniciou as pesquisas na área, focando no câncer de mama, o tipo da doença que mais mata mulheres em todo o mundo. Ela conta que existem evidências demonstrando que ser fisicamente ativo após o diagnóstico leva a uma diminuição em até 53% no risco de mortes pela doença, em comparação ao comportamento sedentário.

Com o auxílio da mestranda em Educação Física, Elisa Portella, do doutor Daniel Umpierre, co-orientador do estudo, e suporte do Laboratório de Avaliação Neuromuscular (LabNeuro), as primeiras voluntárias, mulheres que terminaram o tratamento primário contra a doença - cirurgia, quimioterapia e/ou radioterapia - foram recrutadas no Hospital-Escola da UFPel (HE UFPel) e no Serviço de Oncologia da Unimed.

Os resultados parciais do projeto, denominado Mais Vida, já começam a aparecer e se mostram favoráveis. Apenas oito semanas após o início dos treinos, a força nos membros inferiores das pacientes aumentou em 22% e a capacidade cardiorrespiratória em 19%. O que impressiona também é a evolução na qualidade de vida e no bem-estar. “Observamos 26% de melhora”, informa Stephanie. Ela ressalta que o estudo está sendo conduzido em pacientes em remissão da doença, e por isso ainda não se pôde avaliar nenhum efeito do exercício físico sobre os tumores cancerígenos.

No futuro, a mestranda Elisa Portella planeja seguir nesta área de estudo, a fim de ver a aplicação da pesquisa em diferentes enfoques.

Uma das possibilidades cogitadas é expandir para outros tipos de câncer, e englobar até mesmo os pacientes que ainda não tenham feito a retirada de tumores ou que estejam passando pelo tratamento primário. “Tudo depende da continuidade dos estudos e da aceitação das pessoas”, diz ela.

Treinamento especial
Já foram estudadas 14 mulheres, divididas em dois grupos. Quando decidiram participar da pesquisa, as pacientes passaram por uma bateria de exames, que incluiu testes de função física, composição corporal e questionários sobre qualidade de vida e sintomas de fadiga.

Eles foram repetidos após o término do treinamento, a fim de comparar os valores, para que os pesquisadores pudessem acompanhar o impacto do estudo.

Metade das mulheres realizou as atividades propostas pelos pesquisadores por oito semanas, e as outras sete formaram o grupo controle, que não realizou nenhum tipo de exercício físico programado. Os encontros se realizaram três vezes por semana, em dias alternados, e cada paciente teve uma rotina adaptada a partir de um treinamento especial.

A escolha dos doutores e da mestranda foi pelo treino combinado, com exercícios de musculação, bandas elásticas, e exercício aeróbico em esteira. “Planejamos de forma sistemática e individualizada”, conta Stephanie. As sessões, realizadas na sala de musculação da Esef, duraram uma hora e meia, e foram suficientes para se detectar progressos no condicionamento físico e na qualidade de vida.

Na rotina criada, os exercícios para as pernas são realizados em aparelhos de musculação, e nos braços são utilizadas bandas elásticas, pois as mulheres diagnosticadas com câncer de mama são orientadas a não levantar peso, especialmente no lado em que houve a retirada do tumor. Após, elas realizam caminhada em esteira, com intensidade baseada na frequência cardíaca. Durante as oito semanas, há aumento da carga no treinamento de musculação e do número de séries, enquanto as repetições se reduzem. As caminhadas em esteira têm o tempo e a intensidade aumentados.

O estudo está no início, mas os resultados já mostram que as atividades podem ser aplicadas. No entanto, a doutora faz uma ressalva: é preciso procurar orientação. “O ideal é realizar o treinamento com ajuda e supervisão de um profissional de Educação Física”, e claro, com aval do médico responsável pelo tratamento.

Nova turma
As mulheres que terminaram as oito semanas de treinamento vinculadas ao estudo continuarão realizando exercícios em um projeto de extensão da Esef/UFPel. E para dar sequência à pesquisa, novas pacientes estão iniciando os exercícios, bem como as alunas que fizeram parte do grupo controle, informa Elisa Portella. “No total, temos 16 mulheres treinando e outras cinco entram no grupo em março” disse a mestranda.

Duas dessas pacientes são Maria Alice Paiva, 54, e Deroci Soares Duarte, 49, que se conheceram no Mais Vida e hoje são grandes amigas. Ambas perceberam melhoras significativas depois de iniciarem o treinamento, e a diminuição também de algumas sequelas da doença.

“Antes tinha dificuldade em mexer meu braço. Com os exercícios, quase não sinto dores”, conta Maria Alice, que descobriu o tumor maligno em uma mamografia anual e há três anos está em tratamento. Ela passou por cirurgia, seis sessões de quimioterapia, 33 de radioterapia e atualmente faz uso de medicações de controle.

Deroci venceu todas essas fases e agora foca na vida ativa, porém, o tratamento deixou algumas marcas. “Sofria com cansaço e problemas de memória, mas isso vem diminuindo”, diz ela, que conta com a ajuda do marido e do filho para enfrentar os momentos de recaída.

As amigas elogiam o acolhimento recebido pelas pesquisadoras, e especialmente o modo como lidam com o câncer. “Ninguém nos vê como doentes. Aqui a vida continua normalmente”, agradeceu Maria Alice. Ela ainda acrescenta que esses estudos ajudam a diminuir o senso comum e o tabu criado ao redor da doença, dando mais informações e mostrando que as mulheres que tiveram um tumor não são vulneráveis.

Essas mulheres guerreiras decidiram aceitar sua realidade e ver a doença que assusta tanta gente como o início de uma etapa, em que conheceram novas pessoas que diariamente fazem a diferença em seus cotidianos. Com um sorriso no rosto, Deroci Finaliza: “Somos vencedoras!”

Interessadas em participar
O estudo não seria possível sem o comprometimento das pacientes, que se dispuseram a participar, conta Elisa. E para que mais mulheres possam perceber esses benefícios, o projeto Mais Vida continua recrutando para a abertura de novas turmas. Mulheres que terminaram o tratamento primário contra o câncer de mama e têm interesse em participar, podem entrar em contato pelo telefone (53) 9 9954-0806 ou pelo e-mail [email protected].

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