Resistência

A rua virou palco de luta contra reforma da Previdência

Movimento contornou a praça Coronel Pedro Osório com gritos e cantos contra a reforma da Previdência e o governo de Michel Temer

Atualizada às 0h23

Por Michele Ferreira e Leandro Lopes

Dia Nacional de Paralisação e Lutas foi marcado por forte mobilização em São Lourenço do Sul e Canguçu. Rodovias bloqueadas, marchas, bandeiras de diferentes categorias ao alto e até um tratoraço viraram instrumento para gritar não à reforma da Previdência defendida pelo governo de Michel Temer (PMDB). Foi dia de a comunidade do campo - duramente afetada pela proposta - protagonizar o movimento unificado. Em Pelotas, um ato no final da tarde reuniu mais de duas mil pessoas e contou com participação de servidores dos Correios.

Em São Lourenço, o manifesto começou cedo. Por volta das 8h30min, em torno de 300 trabalhadores - a maioria agricultores - já se concentravam no trevo de acesso à cidade, na BR-116. Cerca de 80 tratores, acomodados no acostamento, também serviam para bloquear a passagem. A Brigada Militar (BM), a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a concessionária Ecosul monitoravam a mobilização, que se manteve pacífica durante todo o período, até as 14h05min, quando o grupo se dirigiu à área central para espalhar o apelo à comunidade.

Um acordo para o trânsito ser liberado de meia em meia hora não foi cumprido à risca, mas ainda assim evitou grandes congestionamentos. O máximo foram cinco quilômetros, no sentido São Lourenço-Pelotas. E a cada liberação do tráfego, o que prevalecia eram manifestações de apoio, expressas em buzinadas prolongadas, palmas e braços para fora dos veículos.

A moradora do distrito de Santa Isabel, Elaine Peglow, 46, foi uma dos que aguardaram sem contrariedade na fila; pela manhã e no começo da tarde. E, ao se manifestar, a agricultora logo recorreu à vida prática para explicar o porquê repudia o projeto do Governo Temer: “Em algumas épocas do ano trabalhamos na lavoura de 16 a 18 horas por dia. É um trabalho que depende de força”, sustenta. E preocupa-se com as consequências sofridas pelas novas gerações de homens e mulheres da zona rural, que também precisariam atingir a idade mínima de 65 anos para se aposentar. Detalhe: sem a integralidade do valor. E, possivelmente, com a saúde debilitada pelo esforço físico.

Reivindicação coletiva
A marcha durou menos de uma hora, mas fez ecoar um chamamento entre os lourencianos, que se reuniram nas esquinas, foram às janelas e saíram nas portas das lojas para acompanhar o protesto. “Este é um movimento conjunto. Não tem cor partidária nem sindical”, resumiu um dos coordenadores do Comitê Municipal em Defesa da Previdência Social, o vereador Luís Weber (PT). Ao tomar o microfone, adiantou: “Vamos ganhar na luta e não vamos afrouxar o garrão”.

Na caminhada, uma mesma voz ganhou as ruas, em meio a chocalhos, panelaço, narizes de palhaço, faixas, cartazes, bandeiras, camisetas pretas e uma roda de capoeira. O alerta também foi feito: Senhores deputados: antes de votar, pensem. Estamos de olho. Foi um aviso disparado por diferentes segmentos da sociedade: agricultores, bancários, pescadores, professores, estudantes, servidores públicos...

Um tema que, por certo, ainda precisará ser esgotado. No diálogo. Nas ruas. “Esse é um projeto injusto, que não dialoga com a verdade. É um crime contra o povo trabalhador, para servir a interesse de muito poucos e grandes”, destacou o deputado estadual José Nunes (PT), ao contrapor dados e garantir que a Previdência Social brasileira não possui o rombo apresentado pelo governo. Pelo contrário, sobrariam recursos.

 

Movimento também em Canguçu
Milhares de pessoas saíram às ruas, lideradas pela Frente Municipal em Defesa à Previdência. Munidas de faixas, cartazes e um carro de som, cruzaram a área central para dialogar com a comunidade. Em apoio, comerciantes chegaram a fechar as lojas. A passeata se dirigiu até a entrada do município, onde a BR-392 ficou bloqueada durante 40 minutos.

O prefeito Marcus Vinícius Pegoraro (PMDB), vereadores e a deputada estadual Miriam Marroni (PT) participaram do ato.

Em Pelotas, as manifestações contra a reforma da Previdência, que começaram pela manhã no entorno do chafariz da rua Sete de Setembro, terminaram somente à noite, após uma caminhada no centro da cidade.

Por volta das 17h, os manifestantes começaram a concentração no largo do Mercado Central. O ato foi promovido por uma frente de mulheres em defesa do serviço público, das conquistas sociais e trabalhistas. Uma das organizadoras, Tatiane Rodrigues - também presidente do Simp -, aposta nos movimentos nas cidades do interior como peça fundamental para a mudança no país. "Mais do que nunca esta luta precisa ganhar força e fôlego em todas as cidades. Pelotas tem tradição de luta e precisa mostrar o seu papel de vanguarda. Essa reforma da Previdência é nociva à população."

Com faixas e cartazes, mais de duas mil pessoas gritaram e cantaram contra a reforma e contra o governo de Michel Temer (PMDB). A manifestação saiu do Mercado, contornou a praça Coronel Pedro Osório e seguiu pela rua Marechal Floriano. Na esquina da Andrade Neves, houve um momento de falas de representantes dos sindicatos e grupos presentes. A multidão ocupou pelo menos duas quadras, da 15 de Novembroaté a General Osório.

 

Ato paralelo, mas conjunto
Em meio às bandeiras, um dos grupos uniformizados ganhou destaque. Os trabalhadores dos Correios participaram do movimento e paralisaram as atividades durante a quarta-feira em protesto contra as condições de trabalho, a privatização da empresa e a reforma da Previdência.

Os profissionais passaram o dia em manifestação em frente à agência central, onde entregaram panfletos com uma carta aberta à população. A principal reclamação é a falta de funcionários para a grande demanda. "O atraso na entrega das correspondências não é culpa dos carteiros. É culpa da administração da Empresa e do governo Temer. O último concurso público para contratação de funcionários aconteceu em 2011. Hoje há uma grande falta de pessoal. Sem os trabalhadores necessários, não tem como prestarmos um bom serviço", diz o documento.

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