Infância

Acidentes infantis: fatores sociais podem influenciar

Pesquisa da UFPel aponta que quedas são as principais causadoras de lesões em crianças de até quatro anos de idade em Pelotas

Paulo Rossi -

Possivelmente não exista mãe ou pai que não tenha passado pela situação do filho se machucar em um piscar de olhos. Thaís da Silva, 19, sabe bem como é. Distraiu-se enquanto Jasminie, três anos, brincava no quarto e pronto: a pequena caiu da cama e machucou a cabeça. "Surgiu um galo enorme na hora. Tomei um susto e fiquei cuidando para que ela não dormisse", lembra.

O que aconteceu com Thaís e Jasminie é tão comum que uma pesquisa do programa de pós-graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) aponta a queda como o principal acidente doméstico envolvendo pequenos de zero a quatro anos de idade. Um dado importante e que vai ao encontro de um levantamento nacional que mostra esse tipo de ocorrência como a maior causa de internação por motivos acidentais. Somente em 2016 o Ministério da Saúde registrou 54,2 mil crianças e adolescentes de até 14 anos hospitalizados em todo o país devido a tombos.

Mais do que uma tendência, especialmente nesta quarta-feira (30), Dia Nacional de Prevenção de Acidentes com Crianças e Adolescentes, as informações significam um alerta: nem sempre acidentes acontecem sem motivo. Segundo o trabalho realizado pela bióloga Raquel Barcelos em sua tese de doutorado em Epidemiologia, a condição social da família pode ter influência. "Frequentemente, os acidentes são interpretados como obra do acaso ou normal para a idade. No entanto, nosso estudo apresenta evidências do papel de fatores como idade e escolaridade maternas e nível socioeconômico da família sobre esses acidentes", explica.

A conclusão se deu após acompanhar 3,8 mil crianças da Coorte de Nascimentos de 2004 em Pelotas. Foram elencadas informações sobre acidentes em indivíduos com idades entre 0-12, 12-24 e 24-48 meses, além de detalhes sobre as mães. Com base nisso, foi possível apontar que quedas, cortes e queimaduras, nesta ordem, são os eventos mais frequentes em todas as divisões etárias. Sobretudo no segundo ano de vida: entre os 12 e os 24 meses, 79,5% se acidentaram. A razão para isso, diz Raquel, está no desenvolvimento acelerado e na incapacidade dos pequenos em discernir riscos. "Eles se aventuram mais, começam a caminhar e buscar atividades de descoberta, criando situações que podem ser uma ameaça", aponta.

De acordo com a ONG Criança Segura, por ano são gastos em média R$ 83 milhões na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) com o atendimento de crianças que sofreram algum tipo de machucado mais grave. O Ministério da Saúde indica ainda que os acidentes são a principal causa de mortes de crianças, com 4,5 mil vítimas. Outras 122 mil são internadas anualmente no país devido a quedas, cortes, queimaduras, intoxicações, sufocamentos e outras ocorrências.

Costumes, educação e saúde das mães interferem
Dentre os detalhes apresentados pela pesquisa local feita pela UFPel, chamam a atenção a influência de costumes, o nível de instrução dos pais e a saúde mental das mães.

Nas três faixas etárias estudadas, meninos aparecem sempre como os que mais sofrem com quedas e cortes em relação a meninas (em média 74% contra 68%). A relação de acidentes só se equilibra nas queimaduras. Para a pesquisadora, o motivo seria cultural, já que os pais têm o hábito de dar mais liberdade aos filhos do sexo masculino na hora de brincar e explorar os ambientes. Nícolas, três anos, é exemplo disso. Carrega na cabeça a cicatriz da queda de um espelho enquanto brincava longe dos olhos da mãe, Isabela Lemos, 19. "Sangrava muito, tivemos que correr para o PS e ele levou quatro pontos", lembra.

Porém, tanto meninos quanto meninas estão expostos a riscos maiores conforme reduzem o patamar educacional e a renda das famílias. Mais da metade das ocorrências (56,4%) foi registrada com mães com menos de oito anos de estudo e 39% nas camadas mais pobres (enquanto apenas 20% nas mais ricas). Outro fator relevante que aparece no estudo é a idade. Em 72% dos registros de acidentes as mães tinham menos de 30 anos. "Muitas são adolescentes e não estão preparadas ainda para a maternidade", diz Raquel. A saúde mental, inclusive, tem papel determinante. O estudo indicou que o fato das mães apresentarem depressão aumenta o risco dos filhos entre dois e quatro anos de idade se machucarem.

Para a pesquisadora, a melhor saída é a informação. "Mães deprimidas, adolescentes, pobres e com menor escolaridade devem estar no alvo das ações de saúde para que medidas preventivas possam ser implantadas nos ambientes de risco", recomenda.

Dicas para evitar acidentes mais comuns

Quedas
- Evitar brincadeiras em escadas, sacadas e lajes
- Instale grades ou redes de proteção em janelas, sacadas e mezaninos
- Mantenha camas, armários e outros móveis longe das janelas
- Usar capacete ao andar de bicicleta, skate ou patins. Ele pode reduzir o risco de lesões na cabeça em até 85%

Cortes
- Evite deixar talheres e objetos ao alcance das crianças
- Mantenha armários com travas de segurança

Queimaduras
- Mantenha as crianças longe da cozinha e do fogão
- Cozinhe sempre com os cabos das panelas virados para dentro
- Não use toalhas de mesa compridas. As crianças podem puxar esses tecidos, causando escaldadura ou queimadura de contato
- Tire todos os aquecedores portáteis do alcance das crianças

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