Água

As marcas da enchente

Barreira de contenção construída pela prefeitura no Pontal da Barra atenderia a necessidade da região em caso de novas cheias, diz Sanep

Jerônimo Gonzalez -

As marcas deixadas pela enchente ocorrida em outubro de 2015 ainda estão nas paredes da casa do aposentado Ênio Fagundes Pereira, 69, morador na rua Caçapava do Sul, no Pontal da Barra. Só de lembrar e falar no assunto seu semblante muda. O prejuízo foi grande, nem conseguiu calcular. Ficou com água pela cintura dentro de casa e o que não danificou, foi roubado, porque ainda arrombaram sua casa e levaram o resto. Desde então, não teve um alagamento de tamanhas proporções para testar o dique de contenção construído pela prefeitura, mas o diretor-presidente do Sanep, Alexandre Garcia, tem convicção de que se a situação se repetisse, a obra funcionaria.

Não chega a ser propriamente um dique técnico, como era intenção do município executar, observa o ex-diretor-presidente do Sanep e atual secretário de Gestão da Cidade e Mobilidade, Jacques Reydams, que conduziu a obra à época. Ele explica que foi feita emergencialmente uma barreira de contenção para drenar o banhado, aproveitando o material periférico. A ideia era fazer uma série de serviços que evitariam uma nova enchente e a Defesa Civil chegou a encaminhar documento ao governo federal dando conta da situação de emergência decretada na cidade e das obras necessárias para proteger as áreas vulneráveis. Mas os recursos não foram liberados e nada foi feito até hoje.

O que a prefeitura fez foi recuperar um dique primário de 412 metros e construiu o provisório (barreira de contenção), de 1.216 metros. Reydams salienta que existe um imbróglio judicial com relação às construções no Pontal da Barra e até em função disso o município não mexeu mais na barreira de contenção. De acordo com ele, seria necessária uma nova casa de bombas no final da avenida Espírito Santo, visto que a da rua 29 é insuficiente para atender à demanda do Valverde e do Novo Valverde.

A prefeitura fez um complemento de canal e pré-projetou a casa de bombas que solucionaria o problema, assim como o dique, que seria construído dentro das normas técnicas de engenharia. Mas, mesmo que o município não tenha recursos para investir nessas obras, Reydams acredita que se houver outra enchente a contenção feita no Pontal da Barra não vai deixar a água do banhado invadir o Valverde. "Nunca se teve uma enchente parecida como aquela, em que três fatores provocaram: a lagoa cheia, o São Gonçalo cheio e a ocorrência de vento Nordeste", diz.

O produtor musical Rodrigo Martins Farias, 29, também está entre os moradores do Pontal da Barra que tiveram de sair de casa por causa da invasão da água. Morador na rua Hulha Negra, conta que não teve como permanecer. "Fiquei uns 20 dias fora", fala, ao acrescentar que perdeu móveis e alguns eletrodomésticos. Reclama que o IPTU veio normal, sem qualquer redução, como foi anunciado à época, como forma de ajudar os atingidos pela cheia. A esposa de Ênio Fagundes Pereira, Sônia Teixeira, 66, recorda que tinham um revestimento de madeira nas paredes e tiveram que retirar, pois apodreceu tudo. Algumas marcas ficaram nas paredes.

Nota técnica
Grupo de 12 mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), sob a orientação do professor Adriano Simon, emitiu uma nota técnica referente à construção da barreira de contenção do Pontal da Barra, tratada como dique, como foi divulgado à época. Segundo Simon, o teor da nota foi divulgado em revista científica e nas redes sociais, mas não chegou a ser enviado à prefeitura. "Acredito que tenha sido um erro. É um trabalho que considero bom. Os alunos se esforçaram bastante", comenta.

Foi feito um trabalho de campo que resultou na elaboração da nota técnica, com algumas recomendações. O grupo avaliou que caso persistisse a manutenção do dique ou a construção de outras formas de contenção da água, deveria ser na maior proximidade possível das construções já efetivadas, a fim de evitar a maior pressão sobre as áreas úmidas e por consequência atuar no impedimento da expansão de novos loteamentos em direção às áreas úmidas de banhado.

Compreenderam se tratar de uma obra feita em caráter emergencial, que não levou em consideração todos os aspectos da dinâmica socioambiental do local. Mas sugeriu após a fase crítica das cheias uma discussão com a comunidade. Também citaram que o dique beneficia apenas as construções urbanas do Novo Valverde e do Valverde, pois a população do Pontal da Barra continuaria em situação de vulnerabilidade.

Para Reydams, naquele momento de pânico e emergência, a construção da barreira atendeu a que se propunha e atenderia hoje, se fosse o caso. "Não é um dique. É diferente, é provisório, que está ainda se mantendo porque a prefeitura não tem condições financeiras para fazer como tem que ser", afirma.

Documento da prefeitura ao governo federal
O documento encaminhado em outubro de 2015 ao governo federal elencava seis medidas essenciais, visando a proteção das áreas vulneráveis:

- Regularização e reconformação do dique existente no Pontal da Barra, com extensão aproximada de 5.030 metros, ao custo de R$ 3.863.500,00

- Construção da Casa de Bombas de Drenagem e rede de alta tensão no Pontal da Barra, ao custo de R$ 2.830.500,00

- Galeria em aduelas de concreto na avenida Espírito Santo, com extensão de 500 metros e seção de 1,50 x 2,50 metros, a partir da avenida 29, até a Casa de Bombas a ser construída, no custo de R$ 2.505.282,00

- Construção de Dique de Proteção na Colônia de Pescadores Z-3, na localidade denominada Cedrinho, com extensão aproximada de 1.035 metros, ao custo de R$ 1.242.000,00

- Construção da Casa de Bombas de Drenagem na Colônia de Pescadores Z-3 e rede de alta tensão na localidade denominada de Canal do Cedrinho, ao custo de R$ 841 mil.

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