Angústia

Atraso da primeira parcela do seguro defeso preocupa pescadores

Na Colônia Z-3, moradores dizem estar “fazendo milagre” para equilibrar as contas e ainda colocar comida na mesa

Jô Folha -

Sentado em frente ao Sindicato dos Pescadores da Colônia Z-3, o presidente da entidade, Nilmar Conceição, carrega um semblante de desalento com a resposta do Serviço de Análise de Seguro Social da Superintendência Regional Sul do INSS, em Florianópolis. O assunto em questão é o atraso no pagamento da primeira parcela do seguro defeso para os cerca de três mil trabalhadores da pesca artesanal das colônias de Pelotas, Rio Grande, São José do Norte e São Lourenço do Sul. “Um mês e dez dias sem poder sair para a lagoa e sem receber o benefício. Os problemas começam a bater à porta. São as contas que vencem e a responsabilidade de alimentar a família”, lamenta.

Conceição anda pela comunidade com as provas de que o Sindicato foi em busca de explicações, pois entende a situação desesperadora de cada pescador. “Por e-mail, a regional disse que, no dia 20 de junho passado, iria contratar mais servidores para analisar os defesos encaminhados ainda em maio”, aponta. O gestor lembra que quando a Gerência Executiva do INSS de Pelotas prestava atendimento era mais fácil resolver esse tipo de questão. Com o fechamento do setor, ficou tudo com a Superintendência em Santa Catarina, também responsável pelos documentos dos profissionais do Rio Grande do Sul e do Paraná.

A pescadora Renata de Matos Rodrigues, de 46 anos, não esconde a revolta com a situação. “Encaminhamos a papelada toda certinha em maio e só falam que não foi liberado”, dispara. Ela lembra que em anos anteriores houve o pagamento no início de julho. “Para nós é muito ruim, pois não temos do que viver. Estamos proibidos de ir para a lagoa, senão o Ibama pega. Durante a safra, os gastos aumentaram e não deu pra fazer reserva. O que salva é algum pescado que dá pra vender.”

A mobilização da Colônia de Pescadores e Aquicultores Profissionais e Artesanais de Pelotas (Copapapel) endossa o coro. O diretor Nilton Sabino diz estar “fazendo mágica” para viver sem o salário mínimo pago pelo governo federal durante o período de proibição da pesca. “Não temos de onde tirar dinheiro, pois estamos em terra, só remendando redes. Então é um bico daqui, outro dali”, admite. Pescador desde os sete anos, Sabino afirma que a Lagoa poderia render uma safra muito melhor se não houvesse períodos de defeso, como em janeiro, por exemplo. “Jamais prejudicaríamos o que nos garante o sustento, mas sabemos bem quando é a safra de cada espécie e poderíamos fazer pesca consciente. Agora, por exemplo, como a Lagoa dos Patos tem se mantido salgada, ainda aparece bagre, tainha, corvina, peixe-rei e até anchova”, explica.

Para Sabino, o fundamental seria rever as datas para a pesca do Ibama. Além disso, ele aponta que o custo de vida aumentou muito desde o início da pandemia e o preço pago pelo pescado, quando é permitido, não cobre as despesas.

Ajuda
Em Rio Grande, a situação é a mesma. “Dos 700 documentos enviados na metade do mês de maio, apenas 25 foram liberados”, ressalta o presidente da Colônia de Pescadores Z-1, Nilton Mendes Machado. Ele, juntamente com Nilmar Conceição, entrou em contato com o Instituto, em Pelotas, mas a dupla ouviu como resposta que a questão não depende mais da unidade. Esta semana, famílias de moradores da Ilha dos Marinheiros, chefiados por pescadores que ainda aguardam o pagamento do seguro defeso e agricultores atingidos pela estiagem, receberam da prefeitura de Rio Grande 72 cestas básicas.

Retorno
A reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa da Superintendência Regional Sul do INSS, mas até o fechamento desta edição não recebeu resposta aos questionamentos.

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