Patologia
Aumento na incidência de síndrome de burnout atinge também os jovens
Condição é fruto de estresse constante e intensa responsabilidade no ambiente de trabalho
Foto: Carlos Queiroz - DP - Com a consolidação do home office durante a pandemia, casos de burnout se tornaram mais comuns
Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do começo deste ano, sintomas de ansiedade e depressão afetam 47,3% dos trabalhadores considerados essenciais. Neste sentido, outra patologia causada pelo alto nível de estresse relacionado ao trabalho tem sido uma prevalência cada vez maior no País, conforme pesquisa da International Stress Management Association (Isma), 30% dos mais de cem milhões de trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome de burnout. A condição tem acometido inclusive jovens no início da carreira profissional.
“Eu tinha muita coisa para fazer e a minha cabeça não dava conta.” O relato da nutricionista Ana Carolina Sedrez, 24 anos, remete a realidade que inúmeras pessoas têm vivido na rotina de trabalho. Caracterizada por sofrimento com intensos desgastes físicos e emocionais por um longo período, o desencadeamento da síndrome de burnout é restrito aos fatores relacionados à área profissional do indivíduo, como o excesso de cobrança, responsabilidades e demandas. O desenvolvimento da doença é multifatorial e geralmente o quadro só é detectado quando os sintomas já estão graves e a condição em fase aguda.
Conforme a professora da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Ana Laura Szortyka, a síndrome se desenvolve em três etapas acometendo: exaustão emocional (sensação de esgotamento, falta de energia), redução de realização pessoal (sentimento de insatisfação com o trabalho), e o desenvolvimento de uma despersonalização (apatia ao objeto de trabalho). “É uma síndrome muito comum na área da saúde e em profissionais que trabalham doando o seu tempo a outras pessoas”, explica.
Os casos
Assim como no restante do País, Pelotas não foge da realidade dos dados. No Município, a estudante de Nutrição à época, Ana Carolina Sedrez, após oito meses de uma rotina exaustiva, descobriu a síndrome após ter um apagão no ano passado. “Fui para o estágio e tive um ataque de pânico pensando em tudo que eu tinha que fazer do trabalho”, conta. Trabalhando em dois locais para se sustentar na cidade e fazendo estágio obrigatório, o principal sintoma da condição apareceu: um estado de estresse constante. Sob pressão, em seguida surgiu a perda de interesse pelas atividades da rotina e as frequentes crises de ansiedade. “Teve um dia que eu acordei e não conseguia parar de chorar porque tinha mil e uma cobranças”, relata.
A jovem conta que a demanda fora do horário de expediente e com cobranças de resolução urgente era mais um fator que gerava consecutivo estado de preocupação nela. “Chegou em um ponto que o meu celular vibrava e já me dava ansiedade pensando no que teria que fazer. Às vezes eram 6h40min, eu acordava e já tinha mensagem”. Esta característica do caso de Ana Carolina é um dos problemas que são heranças dos hábitos da pandemia. Como aponta a professora da UFPel, o home office despontou numa distorção nos períodos de trabalho. “As coisas se agravaram ao ponto de não haver horário e local para se trabalhar”, diz.
Consequências físicas
“Eu já tinha ouvido falar sobre a síndrome de burnout, mas é aquela coisa, a gente nunca acha que vai acontecer com a gente”, comenta uma designer que não quis ser identificada. A mulher, de 23 anos, também de Pelotas, desenvolveu a condição quando se mudou para trabalhar em São Paulo. Assim como o caso da Ana Carolina, as condições de estresse devido a rotina exaustiva foi o que fez ela voltar para o Município após seis meses. “Era muita demanda, eu fazia o trabalho de três pessoas, era surreal, era muita coisa”. A designer conta ainda que tinha dias em que chegava na empresa às 6h e saia somente às 23h. “Além de todo esse tempo que eu dedicava ao trabalho, a minha gestora era muito abusiva, nada nunca tava bom, não era daquele jeito”.
Além das questões emocionais, as condições físicas da designer também foram afetadas pelo burnout. Dentre os problemas estava o cansaço em razão da insônia e perda de apetite, que a fez perder cerca de dez quilos. “Eu não dormia mais. No domingo em que eu não trabalhava, sempre tinha uma crise de ansiedade porque eu sabia que no outro dia eu ia ter que voltar para lá”.
Sintomas e estratégias
Prestar atenção a sinais de estresse recorrente em razão de questões relacionadas ao trabalho, autocobrança em excesso, assim como indícios de ansiedade e depressão para buscar ajuda profissional, é uma maneira de evitar que o paciente chegue ao ponto de desenvolvimento da síndrome. Com o tratamento adequado, a condição pode ser revertida, no entanto, a professora explica que muitas vezes os sintomas são confundidos com somente um desenvolvimento de ansiedade.
Já nas organizações, a psicóloga explica que algumas estratégias como o desenvolvimento de um trabalho de apoio social maior, táticas de melhorias do ambiente profissional e das condições organizacionais, bem como uma comunicação mais empática e melhora no estilo de liderança.
Além da síndrome de burnout, no Brasil, conforme dados da Fiocruz, 44,3% dos trabalhadores têm abusado de bebidas alcoólicas; 42,9% sofreram mudanças nos hábitos de sono; e 30,9% foram diagnosticados ou se tratou de doenças mentais no ano anterior.
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