Luta
Caso de explosão em depósito de gás vai a julgamento em 2025
Morte do jovem Aloir Neutzling, com então 24 anos, completa hoje três anos
Foto: Carlos Queiroz - DP - Jussara e Ledemar Neutzling lutam por justiça pela perda do filho Aloir da Rosa Neutzling
"Enquanto eu tiver vida, eu vou lutar", disse em meio às lágrimas Jussara Neutzling, 62. Ao lado do marido Ledemar Neutzling, 73, ela conta com o apoio do parceiro para suportar a perda do filho, Aloir da Rosa Neutzling, única vítima da explosão de um depósito de gás da avenida Fernando Osório, bairro Três Vendas, no dia 17 de novembro de 2020. A dor da alma agora se tornou física pelo esforço em fazer justiça e pela tristeza. A corrida em busca de documentos e testemunhas não foram suficientes para agilizar o caso. O caso Aloir vai a julgamento somente no dia 10 de fevereiro de 2025, portanto daqui a um ano e três meses, quando os indiciados por homicídio culposo (quando não há a intenção de matar), sentarão no banco dos réus. A informação da data só foi confirmada depois de muitas visitas de Jussara ao tribunal, pois ela faz questão de assistir ao júri.
Ao longo de três anos, os pais não mediram forças para que os responsáveis pelo acidente fossem punidos. "Ouvi que eles não foram encontrados para mandar o indiciamento. Corri atrás e descobri. Também não aceito como uma pessoa com 33 anos de experiência e ainda trabalhando no setor de segurança acende fogo para fazer uma solda em local perigoso", questiona a mãe. O inquérito policial foi concluído quase um ano após o fato, quando o gerente geral da unidade da então Liquigás (hoje Copagás) foi indiciado, após a perícia apontar irregularidades em uma plataforma. Paralelo à questão criminal, familiares da vítima também entraram com processo por danos materiais, sendo que conforme os pais, as justificativas apresentadas pela empresa são infundadas, como alegar que o jovem não estava no horário de trabalho. "O acidente foi às 15h30min, sendo que o encerramento da jornada de trabalho era às 16h. Estamos em uma luta constante", afirmam.
Medidas
De acordo com a Copagas, por meio da assessoria, após o acidente em Pelotas, todos os protocolos e treinamentos foram intensificados e reforçados, em todas as unidades operacionais da empresa. Já de acordo o setor de proteção a incêndio do Corpo de Bombeiros Militar do RS, unidade Pelotas, não houve intensificação na fiscalização, mas sim, prioridade a toda denúncia relacionada à postos de distribuição de gás, combustíveis e em boates, conforme a Lei Kiss.
Relembre
No dia 17 de novembro de 2020, uma forte explosão na distribuidora de gás deixou um ferido e uma vítima, além de danificar casas nas proximidades. Um laudo do Posto de Criminalística de Pelotas concluiu que uma evasão de gás ocorrida através de dutos localizados sob uma plataforma de concreto armado confinada gerou uma nuvem de gás que funcionou como uma espécie de "botijão de gás natural", causando o acidente. Duas tubulações, que ficavam abaixo da estação de trabalho da parte mais abalada, apresentavam perda de gás. Foi constatado também que a estrutura que explodiu não tinha alvará para construção.
O processo de apuração acidentário realizado pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) informou que a empresa não cumpria elementos básicos da NR-33. No documento constou ainda que "tal espaço confinado não possuía cadastro algum e muito menos qualquer avaliação de risco, onde se esperaria existir, por exemplo, apontamento de risco de vazamento de GLP [gás liquefeito de petróleo] no interior da plataforma e necessidade de haver sensor de detecção e devidos meios de ventilação para permitir que o GLP, que eventualmente vazasse, escapasse para a atmosfera sem risco de gerar atmosfera explosiva no interior da plataforma. Tal risco efetivamente se concretizou e causou explosão com quatro vítimas, uma delas fatal, e danos materiais severos ao estabelecimento e a imóveis vizinhos".
A investigação da Polícia Civil, cujo inquérito foi concluído quase um ano após o fato, indiciou o gerente geral da unidade por homicídio culposo - quando não há intenção de matar. A causa, de acordo com a perícia, é que a explosão ocorreu a partir da instalação de uma escada, com uso de solda, em uma plataforma sob a qual havia um tanque desativado, sendo que a tubulação ainda possuía gás acumulado.
Ainda pelo inquérito, foi apontado que o procedimento foi realizado de maneira totalmente irregular, pois dependeria de avaliação de risco, autorização e acompanhamento de técnicos que não estavam no local no momento. Diversas testemunhas foram ouvidas, sendo três dos quatro funcionários da manutenção que executaram o serviço. Em depoimento, os servidores confirmaram que a ordem partiu do gerente geral, que negou o fato.
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