Problemas
Com mais uma residência parando, diálogo tenta reverter crise no HE
PRM de Pediatria inicia mobilização em solidariedade aos colegas e gestão promete conversas durante a semana em busca de solução
Foto: Divulgação - DP - Diversas reuniões devem ocorrer nos próximos dias para tentar solucionar os problemas
Por Lucas Kurz
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A crise envolvendo as residências no Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE/UFPel) segue tendo desdobramentos durante o feriado de Carnaval. Agora foi a vez dos alunos do Programa de Residência Médica (PRM) de Pediatria anunciarem paralisação. É o terceiro grupo a seguir esse caminho, após os de Cirurgia Geral iniciarem greve em janeiro e terem seu programa encerrado, ainda de maneira extraoficial, e com o PRM em Ginecologia e Obstetrícia (GO) também paralisando alguns dias depois. Enquanto isso, a gestão segue buscando solução para a falta de anestesistas, que foi o estopim dessas mobilizações. E, em paralelo, o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) e deputados federais também se movimentam nos bastidores.
Em carta aberta, os residentes da Pediatria criticaram a demora para a contratação de anestesistas. "Tais acontecimentos perduram há meses e sem resoluções congruentes a vista, culminando no fechamento/descredenciamento dos PRMs em Anestesiologia e Cirurgia Geral", diz trecho do texto. Eles mencionam que a proposta anunciada, de transferir o pronto atendimento obstétrico para outra instituição, afetará diretamente a prática deles e dos colegas da Ginecologia e Obstetrícia. Citam, ainda, que as soluções oferecidas afetam diretamente a saúde de gestantes e bebês, assim como o atendimento em saúde na cidade.
Em conversa com a reportagem, o residente Jader Fernandes diz que a Pediatria acaba não sendo afetada diretamente pela falta de anestesistas, mas a GO sim, causando uma espécie de efeito cascata. Ele lembra que as áreas trabalham em conjunto e, com a diminuição do número de partos já sendo notada, há prejuízo no aprendizado e prática clínica dos alunos de especialização. E aponta que acaba sendo de risco realizar o parto em outra instituição, trazendo o bebê de risco de volta à UTI do HE/UFPel. "Nosso plano seria uma semana de paralisação mais em apoio à ginecologia mesmo, porque a situação deles é bem ruim."
A reitora da UFPel, Isabela Fernandes Andrade, admite estranheza com a paralisação da Pediatria, dizendo não identificar "qualquer motivo para adoção desta atitude bastante extrema". Tanto ela quanto os residentes confirmam que, na quarta-feira, uma reunião irá debater a ação dos alunos, anunciada no sábado.
Mobilização pelo fim da crise
A reitora diz que as gestões da universidade e do hospital estão "trabalhando diuturnamente na reestruturação necessária para a reversão da situação que envolve o fechamento da residência em Cirurgia Geral", afirmando que a falta de anestesistas fez aflorar deficiências pedagógicas relacionadas a programas de residência médica da Faculdade de Medicina da UFPel.
Isabela diz que a ausência dos residentes não impacta diretamente no funcionamento do hospital, mas que sua presença é essencial, assim como a dos graduandos, justamente por ser um hospital escola. A reitora diz crer que assim que a presença dos anestesistas for restabelecida, a expectativa é de atender a demanda existente. Na sua avaliação, a dificuldade para contratação de anestesistas é uma situação de mercado. "Chegamos aos limites legais da administração pública na oferta de valores em uma dispensa de licitação, ao ponto de oferecer o dobro do valor da hora que hoje é pago aos profissionais anestesistas que atuam no hospital da USP, por exemplo, e, mesmo assim, não houve procura. Trata-se de uma dificuldade que vem ocorrendo em nível nacional, e não somente local."
Tratativas em diversas frentes
A UFPel garante manter diálogo com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), mas aguarda a posse da nova gestão para tratativas futuras. Em paralelo a isso, o Simers informou que conversou com a direção do hospital e ficou de apresentar contraproposta frente ao que a direção havia colocado. "Em resumo, a maternidade teria a porta aberta fechada durante o dia e abriria à noite. Durante o dia receberia e referenciaria pacientes através da regulação, minimizando as cesáreas neste período e favorecendo as cirurgias eletivas. Haveria redução do número de leitos da maternidade, mas, mantendo alto e baixo risco", diz o diretor da Região Sul do Simers, Marcelo Sclowitz. Ao DP, ele informou que paralelamente mantém contato com líderes políticos locais e em Brasília solicitando auxílio nesta crise.
Na última sexta-feira o sindicato reuniu-se com o deputado federal Daniel Trzeciak (PSDB), detalhando a crise e pedindo ajuda em Brasília. Também mirando a esfera federal, a vereadora Miriam Marroni (PT) diz ter conversado com a deputada federal Maria do Rosário (PT), que teria se comprometido em buscarcaminhos para a crise junto ao Ministério da Educação e a direção nacional da Ebserh.
Próximos passos
O Simers irá realizar na quinta-feira uma assembleia geral extraordinária com os residentes para alinhar estratégias buscando soluções para a crise. No dia 2, o sindicato irá conversar sobre o tema com o Ministério Público Estadual. Por sua vez, a UFPel segue apostando no processo seletivo simplificado para contratar anestesistas, que foi reaberto. As inscrições podem ser feitas até o dia 7, com previsão de divulgação do resultado em 15 de março. A ficha de inscrição e os editais estão disponíveis em bit.ly/selecao-heufpel.
Além da reabertura do processo seletivo simplificado, também foi estendido o prazo para inscrições na licitação que visa contratar empresa de anestesiologia. A licitação via pregão eletrônico prevê a contratação do serviço por um ano, que pode ser prorrogado em até 60 meses. A abertura da sessão pública será no dia 13 de março. Informações e inscrições também podem ser acessadas no site do hospital.
Entenda
Com o fim da residência em Anestesiologia no ano passado, a UFPel vem sofrendo com dificuldades para contratar anestesistas. Com isso, a prática de Cirurgia Geral foi reduzida, levando à greve dos residentes e, na sequência, a um fim extraoficial do programa de residência médica. Os alunos do PRM em Ginecologia e Obstetrícia, pelo mesmo motivo, também paralisaram. Pelas dificuldades, o HE iniciou tratativas para transferir serviços, como o pronto atendimento obstétrico, para outro prestador, buscando otimizar o uso de seu espaço já que, com apenas oito anestesistas em seu quadro, sendo um com afastamento prolongado, apenas uma sala cirúrgica tem funcionado. Essa proposta desagradou os estudantes da Ginecologia e Obstetrícia, que entendem que haveria redução ainda maior na sua prática.
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