Pesca

Com safra abaixo do esperado, período de defeso começa nesta quarta

Aumento de custos e a saída mais cedo do camarão da lagoa foram os vilões para os pescadores na Colônia Z-3

Jô Folha -

Em todo início de defeso na Lagoa dos Patos, como o que se inicia nesta quarta-feira (1º), a demanda se repete: a atualização do período de pesca para as diferentes espécies que servem de sustento aos cerca de 3,2 mil pescadores das Colônias Z-1 (Rio Grande), Z-2 (São José do Norte), Z-3 (Pelotas) e Z-8 (São Lourenço do Sul). Com a Lagoa do Patos salgada, a safra do camarão dava sinais de que renderia bons frutos, mas o crustáceo foi embora mais cedo. Há quem diga que ele chegou em janeiro, já com o tamanho apropriado para o consumo, e despediu-se precisamente em 26 de fevereiro. E isso não é história de pescador: é lamento, pois a sonhada reserva que poderia complementar o salário mínimo de R$ 1.212,00, - garantido pelo seguro-defeso por até cinco meses - ficou bem abaixo do esperado.

"Em fevereiro a água da lagoa estava 'forte' e o camarão não estava acostumado", disse Dilson Rodrigues, de 48 anos, que desde os 13 trabalha com a pesca. Isso quer dizer que a lagoa salinizou muito. Para um boa e mais duradoura captura, deveria estar de salobra a salgada. "Acho que por isso esse ano o camarão antecipou", completou o colega Rudnei Oliveira, de 45 anos, há 37 na atividade. Por isso, a dupla é favorável a um novo estudo sobre o período permitido para os pescados. A pesca da tainha, da corvina e do linguado animou os pescadores este ano, mas foi preciso que as embarcações entrassem lagoa a dentro, colocando mais um custo no bolso da comunidade pesqueira.

"O quilo da tainha é vendido a R$ 4,50. Hoje é pago pelo litro do diesel quase R$ 7,30 aqui na colônia", disse o aposentado Ailton Oliveira, de 67 anos, que, apesar da dificuldade, não abandonou o barco. A conta não fica só no combustível, pois os pescadores contratam outros profissionais quando saem para a pesca e precisam ser alimentados durante o tempo no barco. Em uma saída minha de cinco a sete dias, gasto em média R$ 5 mil", admitiu Oliveira. Se a natureza é generosa, é possível cobrir os gastos, Caso contrário, é prejuízo na certa. O trio que conversou com a reportagem, na manhã fria de segunda-feira, não esconde a frustração por não ter estrutura para comercializar o produto direto ao consumidor, podendo, assim, valorizar o custo. Ao mesmo tempo, todos são gratos por haver empresas que garantem a compra do pescado.

Outras tarefas
A partir desta quarta, o trio muda a rotina. Em vez de ficar dias e noites nas embarcações, os dias serão de manutenção de barcos, redes, da residência e de auxílio no trabalho artesanal feito pela família - também para garantir uma renda extra. Isto porque quem depende do seguro-defeso sabe que não é de imediato o pagamento. "Já teve pescador que demorou três meses para receber. Outros ganharam o auxílio quase no fim do defeso", comentou Oliveira.

A turma lamenta que em plena era digital ainda é preciso fazer cópias da documentação e entregar no sindicato. "Todos os anos é a mesma coisa. Não seria mais fácil ser automático? Ou mesmo apresentar o CPF?" questionaram. Em razão de atrasos no pagamento, eles contam que já houve casos de colegas que saíram para a pesca no período de defeso, mesmo correndo o risco de serem presos, pois precisavam garantir o alimento do dia.

Sobre a obtenção do seguro, a Secretaria de Desenvolvimento Rural de Pelotas informou que, através de um convênio com a prefeitura, a Emater ajuda no encaminhamento das documentações, mas lembra que a responsabilidade é do Sindicato dos Pescadores.

Estimativas
No último dia de pesca na Lagoa dos Patos, foi difícil fazer contato com os representantes dos quatros sindicatos para falar sobre a safra. O certo é que o resultado foi inferior ao de 2021. Nilton Mendes Machado, presidente da Colônia de Pescadores Z-1, em Rio Grande - que conta com cerca de mil associados -, conta que é difícil contabilizar o total de pescado, uma vez que não há um instrumento que faça esse levantamento. Já o titular da Agricultura, Pesca e Cooperativismo do município, Bercílio Silva, estima que o total tenha ficado em 4,5 mil toneladas. A reportagem não teve retorno do Sindicato dos Pescadores da Z-3, mas, no início deste mês, a estimativa de captura de camarão para 2022 estava em 1,4 mil toneladas.

Quanto à expectativa para a safra do próximo ano, Machado aponta que a comunidade sempre depende da quantidade de chuva. "Quando são poucas, ficam abaixo da média e a salinidade da lagoa aumenta. As larvas conseguem adentrar no estuário e se estabelecem nos criadouros para se desenvolverem", explicou. Já para o trio de pescadores da Z-3, só a natureza poderá prever quanto pescado irão render as redes no ano que vem.

Confira o período de defeso e as espécies na região estuarina da Lagoa dos Patos:
Nome                       Período
Tainha         1º de junho a 30 de setembro
Corvina       1º de março a 30 de setembro
Camarão     1º de junho a 31 de janeiro

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