Por Michele Ferreira
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Pouco mais de um ano depois de instituir a lei municipal para combater a pobreza menstrual, o processo ainda é de conscientização da comunidade, em Pelotas. Não há uma pesquisa ou um mapeamento que apontem, exatamente, quantas mulheres precisariam contar com as doações de absorventes, até porque o tema segue cercado de tabus. Para tentar garantir o acesso e distribuir mais do que um artigo de higiene - e sim assegurar condição de dignidade -, a Secretaria de Assistência Social estuda a hipótese de adquirir maquinário que permitiria confeccionar os produtos.

A fase é bastante inicial. Portanto, a prefeitura ainda não afirma quanto precisaria ser investido nem as fontes desses recursos ou prazos para colocar o projeto em prática. "Mas é uma alternativa que está sendo avaliada para 2023", destaca a diretora da Secretaria e coordenadora do Centro de Referência da Mulher, Paola Fernandes. O autor da lei 6.961, vereador Paulo Coitinho (Cidadania), garante que uma emenda impositiva, no valor de R$ 16.714,81, poderá viabilizar a compra tanto do equipamento quanto da matéria-prima para fabricação da primeira remessa.

Desde que a legislação entrou em vigor, em setembro do ano passado, parte das arrecadações tem sido distribuída a três Secretarias: Educação, Saúde e Assistência Social. E, de lá, são levadas para escolas da rede pública, para as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e para locais, como os seis Centros de Referência de Assistência Social (Cras), Plantão Social - onde as cestas básicas são distribuídas -, Cadastro Único, Centro Pop e Casa da Acolhida.

UFPel mantém parceria para fortalecer trabalho
Professoras, servidoras e estudantes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) unem-se às ações desenvolvidas pela prefeitura, através do projeto Mais Juntas, e buscam fortalecer as arrecadações. Para isso, as campanhas não irão se limitar ao período que vai do Agosto Lilás a 10 de dezembro, quando se encerram os 21 Dias de Ativismo, em combate a todas as formas de violência contra a mulher.

"Vamos manter as caixas à disposição para as doações o ano todo, em três prédios. Inclusive elas já estão, bem na entrada dos saguões", ressalta a professora Larissa Bolzan. Aliás, parte do material arrecadado nos últimos dias irá virar presente de Natal a familias em vulnerabilidade social. E a sala de Larissa se transformou em ponto para fracionamento e organização de embalagens, com direito a bilhetinhos e decoração com glíter.

Em decorrência dos cortes de verbas no orçamento da UFPel, o projeto teve redução em bolsistas e a docente do curso de Engenharia de Produção passou a realizar diferentes funções para assegurar que absorventes e protetores de uso diário cheguem a quem mais precisa. "Estamos muito felizes porque conseguimos que empresas e lojas parceiras, que eram ponto de arrecadação, engajassem os seus próprios clientes no programa Eu Menstruo e, assim, conseguimos milhares de doações", destaca.

Simples para quem doa, fundamental para quem recebe
Estudantes da Escola Estadual Nossa Senhora dos Navegantes estão na lista das adolescentes contempladas com a distribuição dos absorventes. O material, entretanto, chega às meninas através do projeto Mulheres inspiram mulheres, desenvolvido pela Casa da Amizade - um dos braços do Rotary no Brasil.

Ao longo do ano, as jovens participaram de oficinas profissionalizantes nas áreas de artesanato, culinária, costura e reciclagem e também receberam orientações com o tema Educação sexual. Prevenção à gravidez na adolescência, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e importância da vacina do HPV fizeram parte dos debates.

"Parece absurdo pensar que algumas pessoas não têm acesso a absorvente. É muito triste", resume a professora de Biologia e voluntária da Casa da Amizade há cerca de 15 anos, Maria Rejane Duarte. Através de doações efetuadas pela UFPel, então, as estudantes passaram a receber os kits que incluem outros itens como pasta de dente.

Diálogo permanece para que política seja ampliada
Outras duas ações estão na mira do vereador Paulo Coitinho (Cidadania), para a política pública ser efetivamente implementada, não apenas em nível local. Um documento já foi encaminhado para integrantes da equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Precisamos assegurar que o governo federal tenha esta sensibilidade, que irá dialogar mais com as classes sociais mais vulneráveis, para que a gente possa ter recursos disponíveis para este trabalho tão importante", reforça o parlamentar.

Em Pelotas, Coitinho mantém tratativas com representantes da Secretaria de Educação e Desporto (Smed) para que, em breve, a cartilha - prevista na legislação municipal - saia do papel e chegue às mãos de mulheres de todas as idades.

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Confira o que foi arrecadado até agora (*):
- Em 2021, com mais de 40 pontos de coleta: Cerca de 30 mil unidades
Distribuição sob comando da prefeitura: 23.035 unidades
Distribuição sob comando da UFPel: Em torno de 7 mil unidades

- Em 2022, com menos de 20 pontos de coleta: Cerca de 29 mil unidades
Distribuição sob comando da prefeitura: Em torno de 9 mil
Distribuição sob comando da UFPel: As outras 20 mil unidades