Feriado
Data para celebrar e refletir
Avanços e desafios ainda cercam o 20 de Setembro, data máxima do Rio Grande do Sul, que leva milhares de gaúchos a acompanhar as celebrações em suas cidades
Paulo Rossi -
Comemoram-se 50 anos em 2016 da criação do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), cujos objetivos são a conservação e a celebração dos costumes típicos e de elementos do Rio Grande do Sul. Nesse tempo se relembrou também, com mais reverência do que problematização, a Revolução Farroupilha. Este pode ser o ano de pensar diferente, começando pelo fato de que pela primeira vez a 26ª Região Tradicionalista, da qual Pelotas faz parte, é dirigida por uma mulher, eleita pelos membros da entidade. Em meio às atividades alusivas ao 20 de Setembro, sobra tempo para se informar.
Hilda Maria Heinen tem contato com as raízes gaúchas desde criança, quando montava a cavalo no campo com os pais. Diz ser esse resgate da infância a parte mais bonita na cultura gaúcha. Ela assumiu o cargo de diretora após o falecimento do então coordenador, Vivaldino Martins Duarte, em julho de 2015. Realizou-se uma eleição em novembro para a nova diretoria, a partir de 2016, e ela acabou vencendo a chapa rival no pleito. Agora, é mais uma mulher a presidir região tradicionalista no Estado - das 30 existentes, apenas quatro são coordenadas por prendas.
Para ela, trata-se em igual tamanho um avanço e um desafio. “Nosso movimento ainda é bastante machista. As coisas já estão mais evoluídas, mas ainda se tem bastante resistência a certos cargos serem ocupados por mulheres, mas a gente dá conta”, diz, destacando a importância de elas entrarem em todos os espaços da sociedade, não apenas no movimento tradicionalista. Hilda afirma também que há muito trabalho para a sua gestão: pendências a serem atualizadas e um primeiro ano focado em organizar a instituição.
Em relação às atividades para o 20 de Setembro, ela conta que tudo começou com o acendimento da Chama Crioula, em Triunfo, no dia 13 de agosto. Um mês depois ela foi buscada em São Lourenço do Sul, de onde veio a cavalo para Pelotas. Tudo até a chegada da Semana Farroupilha, com atividades em cada CTG, culminando até o desfile deste dia 20 pela manhã. Em relação ao evento, ela ressalta que para participar o interessado deve pertencer a alguma entidade tradicionalista. Tal decisão se dá em virtude do mormo, doença causada por bactérias em cavalos e que pode atingir humanos. Após o desfile em Pelotas, a 26ª Região Tradicionalista migrará para a 16ª, em São Lourenço do Sul, onde participará das atividades que por lá ocorrerão - já é tradição essa troca. “O movimento está crescendo, com entidades na China, no Japão”, comenta a diretora.
Reflexão
Para Alex Sandro Moreira, patrão do CTG Carreteiros do Sul, entidade quinquagenária na missão de manter vivas as tradições gaúchas, essa conservação vai além de questões históricas. Diz ter consciência de que a Revolução Farroupilha “teve seus lados e herança negativos”, mas vê o simbolismo histórico como mais importante. “Se reunir, preservar os valores tradicionalistas, integrar as pessoas em prol de um objetivo, manter costumes como pessoa, cidadão, caráter, respeito ao próximo. O 20 de Setembro é um marco extremamente necessário para que todos esses valores sejam relembrados. Que se consiga preservar esses valores”, comenta.
Apropriação
A música de Pedro Munhoz pode até lembrar o nativismo, pela veia trovadora, mas ele nem mesmo quer ser considerado um artista tradicionalista. A diferença é simples: ao invés de falar das coisas do estancieiro, ele aborda em suas canções o trabalhador e a trabalhadora do campo, suas alegrias e seus desafios frente a uma sociedade excludente.
Há 35 anos ele mantém esse olhar crítico em relação à cultura gauchesca. “A história da civilização humana é a da luta de classes. Se existe a figura do explorador existe a do explorado. A Revolução Farroupilha, a meu juízo, é uma das poucas revoluções que não partiram do povo. Foi uma desavença dos senhores do charque por conta dos impostos. Não me representa, não representa o povo trabalhador do Rio Grande do Sul. Não dá visão e reconhecimento histórico ao negro que morreu nas charqueadas. Pra mim o 20 de Setembro, o CTG, é a visão do estancieiro, não é do galpão” afirma.
Para o músico, é problemática também a apropriação que os gaúchos fazem de uma cultura que, afirma, não é do povo. Cita a necessidade de se dar mais visibilidade à cultura negra e açoriana. “Eu penso que primeiro teríamos que apear do cavalo. A partir daí, vamos para frente. Quanto mais exploração, mais resistência existe. Vemos pouco canto dizendo não. Gente que diga que não canta em CTG”, finaliza.
Programação da 26ª Região Tradicionalista
Terça-feira
9h - Hasteamento dos pavilhões no Altar das Tradições
9h - Execução dos hinos Nacional, Pelotense e Tradicionalista pela banda do 4º BPM no Altar das Tradições
9h30min - Pronunciamento do prefeito Eduardo Leite, no Altar das Tradições
10h - Desfile Farroupilha pela avenida Bento Gonçalves
12h - Pronunciamento do patrono Edar Ribeiro, no Altar das Tradições
12h30min - Encerramento da Semana Farroupilha, com a extinção da Chama Crioula e arriamento de bandeiras no Altar das Tradições.
Desfile altera o trânsito no Centro
Em função do desfile farroupilha, a rua Gonçalves Chaves e a avenida Bento Gonçalves terão trechos interrompidos das 6h às 12h30min. Não haverá tráfego de veículos na avenida Bento Gonçalves, da rua Almirante Barroso até a rua Santos Dumont, pista no sentido Brigada Militar/Rodoviária, e a Gonçalves Chaves vai estar interrompida a partir da esquina da rua Antônio dos Anjos até a Bento. Com este trecho fechado, o transporte coletivo também vai sofrer alterações em seu itinerário, durante o período em que as duas vias estiverem interrompidas. Confira como fica.
Ônibus via Zona Norte - Vão desviar a Bento pelas ruas Senador Mendonça, Marcílio Dias, Padre Felício, para logo retornar à rua General Osório.
Ônibus Benjamin Constant (em direção à Zona Norte) - Farão o mesmo desvio dos coletivos via Zona Norte.
Ônibus via Areal/Bom Jesus - Vão pelas ruas Tiradentes, Alberto Rosa, Lobo da Costa, Barroso, Ferreira Viana e avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira.
Ônibus que fazem as linhas da praia do Laranjal (balneários Valverde, Santo Antônio e Prazeres)
Para evitar a Bento, farão o mesmo itinerário de domingo, ou seja, ao se dirigir ao Centro vão entrar pela rua Almirante Barroso e logo tomar a rua General Neto. No sentido inverso, Centro/bairro, saída da rua Santa Tecla, entram na rua General Argolo e seguem até a Ferreira Viana.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário