Saúde
De gota em gota rumo ao SUS
Mobilização busca tornar a homeopatia um novo serviço oferecido à população pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
Paulo Rossi -
Não é preciso sonhar com um método de terapia mais barato, natural e com menos contraindicações e efeitos colaterais. Ele já existe, há mais de 200 anos, e atende pelo nome de homeopatia. Após décadas combatendo preconceitos e desafiando a indústria farmacêutica, cujo lucro é o segundo maior do mundo, ela agora pode ser implementada no Sistema Único de Saúde (SUS), da mesma forma como já ocorre em países como Índia, México e França, através de portaria do Ministério da Saúde que incentiva o uso, junto de outras práticas integrativas e complementares como a fitoterapia e a acupuntura.
Para tal, são duas as formas possíveis: através de uma lei elaborada pelo prefeito de uma cidade ou pela Câmara de Vereadores, ou via abaixo-assinado. Coordenador do projeto UCPel Mais Saudável, o médico Roni Quevedo foi quem tomou para si a missão de reunir a quantidade de pelotenses o suficiente para que a homeopatia seja utilizada no SUS concomitantemente à medicina clássica, alopática. Para tal, são necessárias 12 mil assinaturas, o equivalente a 5% da população votante do município. Com seis mil recolhidas, ele está entusiasmado com o futuro.
Segundo ele, seria de grande importância a utilização do método na saúde pública, principalmente por conta de seu baixo custo. “É um custo muito barato tanto para a pessoa quanto para o SUS comprar. A diferença chega a ser de 100 para 10. Atendo pessoas que por muitas vezes não conseguem nem pagar o vale-transporte para ir até a consulta, que dirá arcar com um tratamento caro. Trato então com a homeopatia, cujo medicamento custa na base de R$ 5,00 e dura um mês.”
Gilberto Moura, da Farmácia Natura, acrescenta que ao contrário da medicina clássica, cujos insumos em sua grande maioria são importados, na homeopatia tudo provém do próprio país e é produzido com tecnologia nacional. “Zero de dependência externa”, comenta. Para Quevedo, a diferença gritante no orçamento faz com que a indústria farmacêutica atue em forma de lobby para barrar a utilização do método no SUS.
História
A homeopatia foi desenvolvida em 1796 por Samuel Hahnemann como uma forma de contrapor a medicina vigente na época, considerada por ele demasiada cara e agressiva - para a cura da sífilis, por exemplo, era utilizada uma pomada à base de mercúrio que terminava por matar o paciente meses depois por intoxicação nos rins.
Baseada no princípio da cura pelo semelhante, seu tratamento se dá a partir da diluição e dinamização da mesma substância que produz certo sintoma em um paciente saudável, reconhecendo-o como uma reação contra o sistema. O tratamento se dá no fornecimento de doses extremamente diluídas dessas causas a um paciente doente. Desse modo, se pretende estimular a reação de restauração da saúde.
Por muito tempo exercida por leigos, nos anos 1990 a homeopatia começou a ganhar mais respeito da comunidade médica a partir de cursos superiores que ensinavam como e por que ela funciona. Hoje, países como França, Alemanha, Índia e México já utilizam o método em seus sistemas públicos de saúde.
Duelo
Ao longo do tempo, a homeopatia se colocou como centro de uma polêmica. De um lado, médicos e pesquisas dizendo que o método funciona tanto quanto a alopatia - remédios que provocam efeito contrário ao da doença -, e de outro, médicos e pesquisas diminuindo seus resultados positivos a efeito placebo - a cura através de efeitos psicológicos pela crença do paciente de que está sendo tratado.
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 2011, o médico Dráuzio Varela se mostrou contrário. “A medicina começou a evoluir quando passou a ser baseada em evidências. Não é questão de acreditar ou não na homeopatia. Mas não vejo provas de que funciona, não os vejo publicando artigos em revistas conceituadas”, disse. Atualmente, só na National Center of Biotechnology Information (NCBI), seção da maior biblioteca médica dos Estados Unidos, são encontrados 5.310 artigos sobre o assunto.
Quevedo rechaça a teoria de que o sucesso da homeopatia se dá meramente ao placebo, argumentando que o método já foi realizado com resultados em animais, crianças de colo e pessoas em estado de coma. Moura concorda com o colega e dissolve o mito de que se trata de religião. “Não tem nada a ver. É um método científico. Aconteceu de algumas crenças e seitas utilizarem.” “Não está se propondo a substituição. Os dois métodos podem ser complementares. Cada sistema terapêutico tem uma área de atuação em que é forte e uma em que é fraco. Por que congestionam? Por que não admitir que pode dar certo?”, completa.
Sobre ser demorada a cura utilizando a homeopatia, Quevedo prefere considerá-la um método mais humano de tratamento. “Não é algo para uma consulta de cinco minutos. É preciso conversar, saber quem é o paciente, quando ele melhora, quando ele piora. Receitar medicação é muito complicado. Se duas pessoas vão no consultório de um alopata com dor de cabeça, talvez recebam o mesmo remédio. Um homeopata busca características de cada um e dá remédios diferentes, pela individualidade. Cada pessoa é uma só”, argumenta.
Funcionou
Se mero efeito placebo ou não, a estudante de Psicologia Carolina Rivero, 22, parou de fumar desde que começou a utilizar a homeopatia como método para controlar o vício. Estimulada pelo médico Roni Quevedo, ela aceitou a proposta para tentar largar pela primeira vez o cigarro.
Carolina não esperava que fosse dar certo, porém, ao que teve a surpresa: menos de dois meses depois começou a sentir os efeitos e desde março está longe do vício. “Com o remédio, cada vez que eu fumava era como se desse uma repulsa pela fumaça. Era como se trancasse a garganta. Teve dias, no início, em que esquecia de tomar e a vontade vinha. Acho ótimo porque não estou suprindo a necessidade com outra droga”, comenta.
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