Problema

Déficit de recursos ainda permeia atividade de reciclagem realizado por cooperativa

Expectativa de maiores fontes de verbas e acesso a incentivo público ainda não foi concretizada mesmo a atividade sendo de utilidade pública desde 2019

Foto: Carlos Queiroz - DP - Unicoop depende do convênio com o Sanep para conseguir manter a estrutura funcionando

Cinco anos após o serviço realizado por seis cooperativas de reciclagem ter sido reconhecido como de utilidade pública pelo Município, as dificuldades enfrentadas pelas organizações ainda são semelhantes a antes da lei 6.669. Apesar dos benefícios, como isenção de taxas, e do reconhecimento da importância do trabalho realizado, o acesso a recursos é escasso. A exemplo, com 14 anos de atuação, a União Cooperativa dos Catadores de Resíduos Sólidos (Unicoop), depende do convênio com o Sanep para conseguir manter a estrutura em funcionamento e separar cerca de dez toneladas de resíduos diariamente.

As expectativas com a possibilidade do recebimento de doações de instituições públicas e da contemplação por programas da iniciativa pública até o momento não foram atendidas. Sem grandes mudanças desde 2019, os maiores problemas são em relação ao mantimento da infraestrutura, conforme a tesoureira da Unicoop, Suelen Oliveira. Com um processo que engloba máquinas para classificação, carregamento e prensa dos materiais, a manutenção dos equipamentos é de alto custo. Além disso, outra questão que despende de grande verba é o aluguel do galpão sede da organização. Com o local de espaço limitado, também é reduzida a produção e o número de cooperados. "Nós ainda não conseguimos aproveitar a lei porque veio a pandemia e nos atrasou muito, teve um ano e meio que a coleta seletiva parou", explica.

O recurso de um convênio com o Sanep tem sido essencial para o funcionamento da cooperativa. Diariamente, dois caminhões da coleta seletiva despejam em média duas toneladas de resíduos e cerca de 70% a 80% do material é separado para a reciclagem. A parceria com a autarquia prevê um repasse de até 15 mil, para cobrir gastos com a bolsa auxílio de R$ 400 para os cooperados, assim como com despesas administrativas e operacionais. Mesmo assim, o recurso ainda é insuficiente para todas as despesas. "A gente faz o dar. Porque dentro desses R$ 15 mil está incluído o aluguel, IPI, INSS dos cooperados e esse valor, é desde 2010. Eu pagava 1,5 mil de aluguel, em 2010, agora eu pago 4,5 mil". Conforme Suelen, sem o convênio, a tendência é que Unicoop feche.

Para complementar a renda, a cooperativa comercializa o material coletado a atravessadores que revendem a empresas de reciclagem. Com isso, os trabalhadores recebem em média um salário mínimo por mês, mas os valores são variáveis. "Muda conforme os preços de vendas de cada material. Por exemplo, agora no verão tem muito pet, então o preço despenca, aí no inverno sobe", diz Suelen ao explicar que cada item tem um valor diferente e as fábricas que estipulam os valores.

Atualmente a Unicoop é formada por onze pessoas, em sua maioria por mulheres de baixa renda, que são chefes de família e sustentam o lar com a renda do trabalho de reciclagem. Uma das vantagens do reconhecimento da organização como de utilidade pública foi um reconhecimento maior do trabalho realizado pelas cooperativas. "Fez diferença para nós sermos mais bem vistos", afirma. Agora, a expectativa é que a organização seja contemplada no Programa Diogo de Sant'Ana Pró-Catadoras e Pró-Catadores para a Reciclagem Popular do governo federal. "Estamos tentando nos inserir para receber os créditos das reciclagem e ter o nosso próprio galpão".

O trabalho de triagem

Apesar de receberem os materiais da coleta seletiva do Município, o trabalho de triagem demanda muito tempo, cuidado e atenção. "O caminhão descarrega, a gente classifica, depois vai para a prensa e depois já sai classificado em fardos prontos para vender", explica Suelen. Entretanto, devido à falta de conscientização ambiental da população em separar os descartes corretamente, grande parte do que poderia ser reciclado se perde e assim como o tempo dos cooperados. "Separar os secos do molhado já ajuda um monte, porque às vezes o lixo está separadinho, mas aí jogam erva ou algum resto de comida e aquilo já contamina o material reciclável", destaca.

Além de atrasar o trabalho com a separação de resíduos que terão que voltar para a coleta do Sanep para serem descartados no aterro sanitário, descartes de itens como vidros são perigosos para os recicladores. "Já teve cooperado que levou dez pontos na perna por causa de um vidro que foi mal descartado", conta.

Suelen ressalta que atitudes simples como o cuidado com materiais cortantes e a separação dos materiais facilita e melhora a qualidade do trabalho na cooperativa. "As pessoas têm que ter um pouco mais de consciência de para onde vai aqueles lixos que eles estão deixando, que aquilo não vai sair, mas vai parar nas mãos de outras pessoas e vira trabalho e renda. Estamos separando o que iria fora, para as ruas, que iria poluir. Trabalhamos para ajudar o meio ambiente, as pessoas e para nós ajudar também".

De acordo com o Sanep, em média, a coleta seletiva em todas as modalidades (Adote uma Escola, Coleta porta a porta e Ecopontos) chega a alcançar dez toneladas de resíduos coletadas por dia. Esse quantitativo é distribuído entre as cooperativas. Ao todo são 80 cooperados vinculados.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Soltos em ruas e calçadas, fios de rede fazem parte da paisagem de Pelotas Anterior

Soltos em ruas e calçadas, fios de rede fazem parte da paisagem de Pelotas

Ricardo Lewandowski é novo ministro da Justiça e Segurança Pública Próximo

Ricardo Lewandowski é novo ministro da Justiça e Segurança Pública

Deixe seu comentário