Morte infantil
Discriminação custa a vida de meninas pobres
Elas morrem mais do que os meninos por falta de cuidados com a saúde na infância, aponta pesquisa da UFPel
Divulgação -
Estudo realizado pelo Centro Internacional de Equidade em Saúde, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), revela que a discriminação de gênero afeta a saúde de crianças de até cinco anos - mais precisamente, meninas. Conforme análise da nutricionista Janaína Calu, que utilizou dados sobre a taxa de mortalidade e procura por cuidados de saúde na infância, as regiões do mundo que concentram os valores mais altos de excesso de mortes de meninas estão no Oriente Médio, no Norte da África e no Sul da Ásia.
Orientado pelo professor Cesar Victora, o estudo foi dividido em duas partes: uma avaliou se o índice de mortalidade de meninas é maior que o esperado (em relação a outros dois levantamentos prévios) e outra comparou a proporção de meninos e meninas encaminhados para atendimento de saúde especializado. Os resultados comprovam que meninas menores de cinco anos recebem menos atenção em saúde que meninos de mesma faixa etária.
Sem assistência, elas estão morrendo mais do que seria esperado e invertem, assim, a ordem natural. "Os meninos são mais frágeis que as meninas, é algo biológico. Portanto a mortalidade deles deveria ser maior na infância, em condições naturais, o que não acontece", explica o professor Aluísio Barros, diretor técnico do Centro de Equidade da UFPel. De acordo com Janaína, em 20 dos 60 países estudados as mortes de meninas excedem às condições normais. "As práticas de discriminação existem onde a gente não espera", salienta.
Os países escolhidos para o estudo são monitorados pelo consórcio Countdown 2030, que concentra governos, agências internacionais de saúde e instituições científicas. O objetivo é examinar o progresso dessas nações em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU, nas áreas de saúde da mulher, do recém-nascido, da criança e do adolescente. O Centro Internacional de Equidade em Saúde da UFPel está vinculado ao projeto da ONU.
Estudo e resultados
Busca por cuidado
- Pneumonia e diarreia matam quase 1,5 milhão de crianças menores de cinco anos, a cada ano - aponta Janaína. Ela destaca que são sintomas comuns da infância, porém, são causas evitáveis com intervenções de cuidado e tratamento. "Quando apresentam essas doenças e são levados a um profissional de saúde, espera-se que não haja diferenças entre meninos e meninas. Em muitos países as meninas são menos encaminhadas ao serviço de saúde que os meninos. Além disso, não temos como assegurar que, mesmo que tenham sido levadas ao serviço de saúde, receberam cuidado adequado", atenta a nutricionista.
- Países pobres (com menor renda per capita) e com predomínio da religião muçulmana são os que apresentam as maiores desigualdades na busca por cuidados de saúde para elas.
- As meninas são menos propensas do que os meninos a serem levadas a um profissional de saúde em seis países: Colômbia, Egito, Índia, Libéria, Senegal e Iêmen. No Senegal, a proporção de meninas que são levadas ao profissional de saúde quando ficam doentes chega a ser 24% menor em relação aos meninos.
Mortalidade
- Para desenvolver a pesquisa a autora analisou duas abordagens que ajudam a calcular o que seria esperado nos países e comparou esse valor com o que realmente está ocorrendo.
- Os países identificados com os maiores valores de excesso de mortes de meninas foram: Comoros (36,8%), Quirguistão (36,2%), Bangladesh (35,6%), Índia (32,7%), Honduras (28,8%), Nepal (25,1%), Egito (21%), Paquistão (20,6%) e Iêmen (19,2%).
- Países em que há discriminação de gênero na busca por cuidado e que também apresentam mortalidade excessiva de meninas: Índia, Egito, Libéria e Iêmen.
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