Especial DP

Dividir custos e experiências

Além de diversão, viajar em grupo a bordo de um veículo tem sido alternativa aos preços que pesam no bolso em passagens intermunicipais

Jerônimo Gonzalez -

Road trips, viagens feitas normalmente em um carro com os amigos, estão entre as mais gostosas coisas a se fazer na vida. Se esquece dos problemas, se joga conversa fora, se toma chimarrão e sempre tem uma música que marca o percurso. Além de diversão, viajar em grupo a bordo de um veículo tem sido alternativa aos preços que pesam no bolso em passagens intermunicipais. Em comunidades no Facebook, pessoas têm oferecido e solicitado carona. Juntas, elas dividem os custos e vencem a solidão dos ônibus.

Dentre os quase 16 mil membros de comunidades on-line para combinar caronas em Pelotas está o empresário Gil Machado, proprietário do Kondo Sushi. Há dois anos e meio ele, pela primeira vez, convidou pessoas para dividir os custos e ter companhia em uma das tantas viagens feitas a Porto Alegre, cidade onde residia a namorada.

Já Diego Puente, 33 anos, é um dos tantos estudantes da UFPel oriundos de outras localidades - no caso dele, São Paulo - que, se por um lado vibram quando surge a oportunidade de dar um pulo em casa, comer comida de mãe e ver os amigos, por outro sofrem com os preços cada vez mais altos das passagens intermunicipais, motivados principalmente pelo aumento no custo do combustível. A saída, em 2013, foi buscar caronas - se a viagem de ônibus para Porto Alegre custa em média R$ 60,00, dividindo os custos em um carro sai por R$ 35,00, R$ 40,00.

Histórias diferentes, mas motivações iguais. Tanto Puente quanto Machado creem no benefício financeiro como o mais impactante pela escolha, mas citam também o prazer de viajar acompanhado pelas estradas. "O mais interessante é conhecer pessoas. Com essas caronas, conheci gente que frequenta minha casa. Pessoas que hoje trabalham comigo", comenta o proprietário do Kondo Sushi. "Amizades novas é o que não falta nessas viagens. Tem muita troca de experiências", completa o estudante.

Para os dois, manter os contatos é também uma das formas de se prevenir na hora de pegar carona, algo que da mesma forma que pode ser bom, tem chances de se tornar grave problema - não são raros relatos de assaltos e até mesmo sequestros envolvendo a prática. "Geralmente tento pegar caronas através de indicações de amigos. Assim, sinto mais confiança, ou pegar caronas com os mesmos de sempre", diz Puente. "É interessante tu teres o mínimo de informação sobre a pessoa. Principalmente no Facebook, olhar se tem algum amigo em comum, se o perfil é real. Buscar referências", recomenda Machado.

Uma mãezona
Cinquenta e cinco anos de idade, a psicóloga Helena Silva vai toda semana a Porto Alegre, onde trabalha como coach para grupos. Para diminuir custos resolveu promover caronas semanais à capital. Aos poucos, porém, a atividade foi ressignificada. Ela e o marido, Arthur Reichow, se tornaram uma espécie de segundos pais dos estudantes que utilizam seu carro para viajar. "As pessoas gostam de conversar comigo, contar seus problemas. Acaba se tornando uma família. Inclusive tem mãe que só deixa a filha viajar de carona comigo", conta ela.

Para a caroneira, essa troca é o principal motivo para seguir dividindo o carro nas viagens. "Conhecer novas pessoas, aprender e ensinar são coisas bem bacanas que acontecem. Vai muito além do que ter companhia e dividir os custos", comenta.

Só minas
Se para as pessoas em geral não é totalmente seguro pegar carona com desconhecidos, para as mulheres, que diariamente convivem com assédio moral e sexual, a situação tem que ser tratada com ainda mais seriedade. Por conta desse medo constante é que surgem iniciativas como a M'Ana - Mulher Conserta para Mulher, focada em reparos domésticos realizados por e para moças, e o grupo no Facebook Carona das Minas. Nele, moças oferecem e pedem carona para moças.

A criadora, Natália Radke, conta que o projeto surgiu de uma viagem que ela e uma amiga fariam. Com duas vagas sobrando no carro, decidiram por oferecer nas comunidades de caronas já existentes. Muitos rapazes apareceram interessados e as duas sentiram receio em ter desconhecidos no mesmo veículo por três horas. Quando mulheres apareceram, a desconfiança foi menor - para não dizer que não existiu. "A ideia é que troquemos experiências, relatos e caronas, deixando claro que os homens podem viajar junto, mas queremos referências pra nos sentirmos seguras", comenta.

Segundo Natália, como o grupo ainda é recente, as meninas ainda estão se conhecendo, muitas ainda não o conhecem e recorrem aos grupos tradicionais. Mas, as poucas amizades já firmadas seguidamente são fortalecidas. "A ideia também é que as mulheres se unam, pois somos mais de 50% da população brasileira e não sabemos a força que temos. Auto-organização, companheirismo e sororidade são coisas que fazem a diferença", diz.

Sobre os cuidados na hora de pegar carona, ela chama atenção para a necessidade de sempre verificar o perfil de quem está oferecendo a vaga, seja homem ou mulher. "Ver se tem amigos em comum, utilizar aplicativos como Blablacar e BeepMe, dar feedback nas caronas, elogiar os bons motoristas e caroneiros e criticar caso necessário. Também verificar o carro e a placa e mandar pra algum parente ou amigo qual carro você embarcou", cita.

É permitido?
O transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros é uma das atividades que só podem ser exercidas com autorização prévia do Estado. A multa para quem infringir essa norma é de até R$ 5 mil. Basta, entretanto, saber diferenciar: existem as caronas solidárias, em que não há cobrança alguma, nenhum recebimento de vantagem, e uma atividade predatória que visa o lucro.

Alguns grupos de carona
Caronas Pelotas - Carona das Minas - Caronas Porto Alegre - Pelotas

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