Acessibilidade
E como ficam os idosos?
Muitas vezes o que vem para facilitar, acaba por atrapalhar a vida de quem tem idade mais avançada e não possui familiaridade com ferramentas tecnológicas
Carlos Queiroz -
Não há como negar: as tecnologias fazem parte da sociedade. Atualmente tudo pode ser feito através da internet: trabalhar, estudar e até mesmo surge como uma opção facilitadora para diversas situações. Através dos aplicativos e sites, existem as opções que permitem resolver diversos problemas sem sair de casa. E apesar de ser uma possibilidade, para uma parcela dos idosos, isso pode tornar-se um desafio, já que ainda existem aqueles que não têm familiaridade com essas ferramentas tecnológicas.
Aplicativo do governo, aplicativo do banco, do plano de saúde, diversas demandas e informações podem ser acessadas ali na palma da mão, através do celular. Para as gerações mais novas estar na internet é algo rotineiro, mas mesmo parecendo uma opção rápida, nem todos os idosos sabem como navegar em sites ou aplicativos, ou sequer tem o auxílio de familiares nesses momentos. O que acaba por complicar coisas tão simples.
Em 2014, a aposentada Eunice Longaray, 79, teve um câncer de intestino e, quando realizou a cirurgia o médico acabou cometendo um erro, o que ocasionou o surgimento de uma hérnia na parede abdominal. Por conta disso, para resolver essa situação, agora ela precisa realizar nova cirurgia que, dessa vez, irá colocar uma tela no intestino. Por ser um material caro, ele resolveu recorrer ao IPE Saúde, onde poderia pedir autorização para ver se o plano teria o material.
"Eu agendei, fui até o IPE e a guria me atendeu bem, mas não me deu nenhuma informação. Me deu esses dois papéis e disse que eu deveria mandar um e-mail para ter essas informações e disse 'entra no site'. Mas eu não consigo e nem sei mexer no computador, tenho reumatismo e se eu vou apertar uma tecla acabo apertando outra", conta, ao mostrar um dos papéis com um e-mail eletrônico e apontar como foi a orientação dada pelas funcionárias. Mesmo assim, ela não conseguiu resolver o problema.
A aposentada ainda conta que pode pedir ajuda aos netos, mas acredita que alguns métodos como serviços públicos ou de saúde deveriam ser acessíveis aos mais velhos. "Eu posso pedir ajuda da minha neta, mas moro sozinha, sempre fui independente e gostaria de fazer isso, não quero depender dos outros". Eunice ainda reclama que esse é um problema para muitos idosos. "E muitos outros idosos não têm a quem recorrer. E agora é tudo na internet, mas nada é acessível, não nos explicam como tem que ser feito, esperam que a gente saiba".
Até mesmo a conta do telefone
Nilva de Jesus, 62, vende lingeries e conta que na tarde de sexta-feira teve que ir ao Centro para pegar a fatura do celular. A vendedora relata que a conta costumava chegar em casa através do correio, mas que há alguns meses a operadora de telefone passou a enviar a fatura apenas pelo e-mail.
Dessa forma, Nilva conta que não se adaptou ao método e mesmo tendo que se deslocar, ela prefere ir ao Centro da cidade até a operadora para pegar a fatura em papel para pagá-la. "Meu marido diz para eu fazer pelo computador, que é mais fácil, mas eu prefiro vir aqui, porque assim consigo pegar os comprovantes e ter o controle de tudo. Eu preferia quando mandavam para casa, mas se não tem outra opção tem que vir até aqui né?", pontua a vendedora.
Sobre os direitos do idoso
O professor de direito do consumidor do curso de Direito da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Lucas Conceição, explica que alguns casos como o de Eunice podem ser contemplados pelo Código de Defesa do Consumidor. "Um idoso tem que ter total conhecimento a respeito das cláusulas de um serviço. O Código assegura que qualquer um deve ter acesso às informações e que isso deve acessível". Apesar disso, ele relata que ainda não existem temáticas voltadas à acessibilidade de sites e aplicativos para idosos.
Em tempos de golpes de WhatsApp, Conceição ainda traz uma lei que pode evitá-los, além dos casos de importunação através do telefone. "Está para entrar em vigor um projeto de lei voltado a pensionistas, que proibiria a contratação de crédito consignado para idosos por telefone, apenas pessoalmente", finaliza.
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