Entrevista

É urgente ouvir a ciência no planejamento urbano, alerta pesquisador

Professor de Geografia da UFPel explica fatores que contribuem para alagamentos

Foto: Maria Eduarda Lopes - Ascom - Moisés Rehbein criticou construções em área de banhado na zona urbana de Pelotas

Em entrevista ao Diário Popular, o doutor em Geografia Física e professor da UFPel Moisés Rehbein explicou os fatores que facilitam a formação de alagamentos em Pelotas e alertou para a necessidade de se planejar a cidade tendo em vista as mudanças climáticas. “Daqui para frente, é urgente ouvir a ciência no planejamento urbano. A cidade não deve seguir expandindo sobre as formas de relevo que vão colocar em situação de risco hidrológico a nossa população”, diz

O professor explica que diversos fatores contribuem para que Pelotas seja mais propensa a inundações, como o clima, o relevo, a hidrografia, a geologia e, especialmente, o uso de solo em perímetro urbano. Além disso, a cidade é rodeada por água, como na Lagoa dos Patos, no canal São Gonçalo e nos arroios. 

“É importante lembrar que essa água não escoa apenas pela superfície, ela também está escoando sub superficialmente, sem o alcance dos nossos olhos. Em muitos locais de Pelotas, basta você cavar um pouquinho, alguns centímetros, e você vai ver água, é o que chamamos de lençol freático e que contribui para formação das áreas úmidas”, diz. 

Rehbein explica que o fato de a cidade vir sendo construída sobre áreas úmidas, como os banhados, pode atrapalhar o escoamento e a absorção da água das chuvas e dos corpos hídricos. “Para nossa sorte, muitas das áreas úmidas do município de Rio Grande, nas proximidades da divisa com Pelotas, ainda não foram ocupadas e é pra lá que um grande volume de água escoa”, diz. 

Cidades-esponja 
Com o atual cenário, o conceito de “cidades-esponja”, com estruturas criadas para receber a água das chuvas, se popularizou nas redes sociais. Segundo o professor, Pelotas naturalmente tem estruturas que agem como esponjas, mas que acabaram sendo degradadas.

“Em Pelotas a cidade se desenvolveu e segue se desenvolvendo sobre essas esponjas que a natureza nos deu, alterando elas, drenando elas e alterando o curso natural das águas que ocupavam esses ambientes”. “A sociedade precisa mudar o seu olhar sobre esses ambientes e reconhecer que é urgente a implementação de políticas de preservação das áreas úmidas”, assegura.

Rehbein avalia que estruturas como diques de contenção e casas de bombas podem não ser suficientes para conter a elevação das águas diante de fenômenos climáticos cada vez mais intensos e que é necessário pensar a construção da cidade em locais mais afastados de corpos hídricos e regiões alagadiças. “Você vai querer arriscar o seu patrimônio (a sua casa, por exemplo) ou a sua vida porque a paisagem é bonita, tendo a consciência de que naquela paisagem existe algum risco hidrológico?”, questiona o professor. 

Não há desenvolvimento econômico se ele não for ambientalmente sustentável. Precisamos entender e respeitar a natureza, pois do contrário, teremos mais desastres e quem vai pagar essa conta é a sociedade”, diz. “Eu acho que é um direito da população saber se está adquirindo terrenos ou imóveis em relevos que apresentam algum risco hidrológico, caso os sistemas de contenção as inundações falhem; pois os eventos extremos, ao que tudo indica, serão mais frequentes com o aquecimento global e as mudanças climáticas”. 

Confira a entrevista na íntegra em vídeo:

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