Por Vitória de Góes
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Uma receita que atravessou gerações e hoje é motivo de orgulho para Luciana Custódio. Ela passou por um episódio depressivo durante a pandemia, no qual a culinária afetiva foi uma das motivações que a auxiliaram a retornar às atividades cotidianas. Com pouco mais de um ano, a produção de empadas se tornou a aposta da empreendedora, que busca honrar a sua ancestralidade através da produção dos salgados.

A história começa ainda na infância de Luciana, em Camaquã, quando a sua mãe produzia e comercializava salgados para complementar a renda em casa, para junto do pai manter uma família de seis filhos. Nesse período, ela acompanhava com olhos curiosos todo o trabalho manual da mãe, que muitas vezes virava noites.

Depois de crescer, desenvolveu o gosto por se envolver em causas sociais e raciais, liderando projetos no bairro Guabiroba, chegando a representar a comunidade no meio político. Por último, estava trabalhando na administração pública lidando com soluções para problemas de média complexidade. Mas, ao cuidar de tantas pessoas, esqueceu do primordial: cuidar de si mesma. E foi durante a pandemia que a saúde psicológica deu sinais de que precisava de atenção.

"Tive picos em que meu corpo foi sentindo e eu não fui parando, aí veio a pandemia. Eu saía de casa às 8h e chegava 1h da madrugada atendendo pessoas em situação de rua. Aos poucos eu fui inchando, tendo dificuldades para caminhar e sentindo que estava travando", relata.

Após um último episódio dentro do meio político que exigiu muito esforço físico e mental, Luciana conta que entrou em colapso. "Desenvolvi crise de ansiedade, não conseguia conversar com muitas pessoas, depressão também, nem conseguia me movimentar direito."

Receita de família

Foram meses sem conseguir sair de casa, até que, através de uma conversa com a psicóloga, Luciana decidiu começar a cozinhar alguns pratos do caderno de receitas da mãe, dona Cila, e foi a empadinha que a conquistou. A sua filha, Gabrielle Rosa, percebeu que essas tinham o diferencial, passando a ser uma das principais incentivadoras para que, aos poucos, iniciassem uma produção maior para venda a estabelecimentos comerciais e feiras.

Por se tratar de uma receita antiga, levou tempo até que elas encontrassem o ponto ideal da massa com os produtos disponíveis atualmente. Tudo é feito de forma manual, com insumos e temperos naturais. Com isso, cozinhar se tornou uma das terapias de Luciana. Hoje ela segue em tratamento, mas já retornou à rotina normal, e encontrou na cozinha uma forma de levantar outras pautas importantes.

"A Original Empadaria trás uma pauta muito importante para nós mulheres negras. A gente conta a história dessas primeiras mulheres que tiveram que sair para fazer vendas na rua e até mesmo comprar suas alforrias. E hoje nós continuamos ainda atrás dessa liberdade, desse espaço de empreendedorismo", expõe Luciana, sobre a visão que tem sobre o papel do negócio.

A filha Gabrielle, que auxilia na produção, mas principalmente gerencia as questões administrativas do empreendimento, não esconde a emoção ao falar do recomeço da mãe. "Fico feliz de ver que ela encontrou algo que traz orgulho e felicidade pra ela. Eu, como filha, só consigo ser feliz vendo ela feliz."

Produtos

Atualmente Luciana vende cerca de 30 empadas na marmita de tamanho médio por mês. Ela é expositora em feiras, produz sob encomenda e já realizou grandes entregas para festas de formatura. O diferencial da empresa são os tamanhos e formatos dos produtos que podem ser consumidos da forma tradicional, em marmitas ou em tamanho de tortas.

A empresa oferece 19 recheios, entre doces e salgados, como frango com requeijão, brócolis, brigadeiro, carne de panela e camarão. Os valores variam de acordo com o sabor e o tamanho do produto, o que vai de R$ 1 a R$ 100.

Para acompanhar o trabalho e realizar encomendas, é possível entrar em contato através do Instagram @originalempadaria ou pelo Whatsapp (53) 98111.1320.