Sapucaí
Escolas do Rio homenageiam olimpíadas, futebol e homem do campo
Escola Unidos da Tijuca apresentou o enredo Semeando sorriso
A União da Ilha do Governador foi a segunda escola a entrar na avenida, ainda no domingo (7), para os desfiles do Grupo Especial. A apresentação que agradou o público mostrou o jeito descontraído do carioca se dedicar aos esportes. No desfile, a escola não esqueceu que a cidade é olímpica, e não faltaram atletas. A tocha olímpica foi conduzida em toda a avenida pelo maratonista brasileiro Wanderlei Cordeiro de Lima.
“É a primeira vez que estou aqui na Sapucaí e acho que a minha emoção é ver cada um desses atletas que estão aqui sendo homenageados. Obrigado ao povo brasileiro, ao povo carioca e acho que é isso aí, começamos a energia das Olimpíadas e é com esta energia e essa vontade que vamos para os Jogos Olímpicos,” disse Wanderlei Cordeiro, acrescentando que é “importante passar essa emoção, contagiar os nossos atletas para que eles possam se superar e fazer a melhor Olimpíada de todos os tempos.”
A escola mostrou também que o Rio é uma cidade que recebe bem quem chega, tanto que alguns preferem ficar para sempre. Durante o desfile da União da Ilha, o público vibrou com a comissão de frente feita pelo coreógrafo Patrick Carvalho. A maior parte dos integrantes era de tetraplégicos que, segundo Patrick, ensaiaram durante quatro meses.
Ele contou que a ideia de criar a comissão de frente foi dos carnavalescos Paulo Menezes e Jack Vasconcelos. Patrick Gomes era um dos integrantes e foi a primeira vez que passou na avenida em uma comissão de frente. “Foi trabalhoso, mas foi nota 10. Foi muito emocionante. O ensaio foi puxado”, contou. Paraplégico há 16 anos, o coreógafo disse que “tive muito medo [diante da responsabilidade de ser um quesito importante para a escola], mas foi prazeroso e buscamos a nota máxima.”
Grande Rio
O enredo da Grande Rio acabou provocando uma viagem de seis horas de um grupo de 10 torcedores do Santos Futebol Clube, que moram no bairro Ponta da Praia. Segundo a cozinheira Cynthia Araújo, eles vieram em dois carros, saíram de Santos às 17h35 de sábado (6) e chegaram ao Rio às 2h da madrugada. O grupo está hospedado em uma casa de família, em Vila Isabel, zona norte do Rio. Os torcedores se programaram, compraram ingressos a R$ 75 para um dos setores populares da dispersão e ainda levaram uma bandeira do clube, que teve uma alegoria em sua homenagem no enredo Fui no Itororó beber água, não achei. Mas achei a bela Santos, e por ela me apaixonei... “Onde tem Santos a gente vai atrás”, contou Cynthia.
A atriz Suzana Vieira que veio em um dos carros alegóricos reclamou no final do desfile. “Eu não gostei de sair no carro. Ele balança muito e sou muito mais solta quando venho no chão”, revelou.
Na comissão de frente, o enredo fez uma homenagem a Pelé. Um ator representava o rei do futebol e destaque do Santos Futebol Clube. Vestido com um short azul e uma camisa da seleção brasileira com o número 10 nas costas, ele subia no alto da alegoria que caracterizava uma bola e fazia movimentos que eram respondidos pelo público com gritos e aplausos.
“A gente botou mais um filho no mundo e foi lindo. É um trabalho que levou três meses. É muito cansativo e acho que a recompensa foi o desfile incrível. Nas duas últimas semanas ensaiamos mais de 6 horas por dia, mas este grupo é valente e já está acostumado com isso”, analisou Rodrigo Negri, um dos dois coreógrafos da comissão de frente da Grande Rio. Priscilla Mota completa a dupla.
Unidos da Tijuca
Para fechar a apresentação a Escola Unidos da Tijuca não enfrentou dificuldades. O enredo Semeando sorriso, a Tijuca festeja o solo sagrado, mostrou a força da terra e do homem do campo. Uma das alegorias tinha uma plantação de milho caracterizada com um complemento de um trator cuja marca formava o nome de Tijuca, alem de ter as cores da escola: amarelo e azul.
O abre-alas em tom de terra chamou a atenção porque era uma alegoria viva, que é uma característica da escola quando em outros carnavais eram feitas pelo ex-carnavalesco da Tijuca, Paulo Barros. A alegoria de 2016 trazia seis componentes em movimento para formar o nome da escola. Além dos que participaram da formação da palavra, outros estavam espalhados no carro. Ao todo, segundo o coreógrafo Tony Tara eram 170 integrantes. Todos tiveram que fazer um preparo na concentração e passar argila com água, para manchar todo o corpo e ficarem com a cor de terra.
“Chegamos na concentração e cada um ganhou uma lata com argila para passar no corpo em poucos minutos já estava seco e ficou como se fosse um barro. Somos da escola, mas desfilávamos em alas diferentes, eram todos homens e negros”, contou o dançarino Willian Souza. O coreógrafo fez a seleção dos integrantes após avaliar 300 inscritos.
A porta-bandeira Rute considerou o desfile lindo mas fez uma crítica à Mocidade Independente que ao ter problemas nas alegorias acabou deixando um rastro de óleo em algumas partes da passarela. Ela disse que isso dificultou a exibição. O mestre-sala também disse que foi uma situação tensa.
“Realmente, tinha um óleo e em alguns momentos a gente teve que não entrar muito no centro da pista eu estava preocupado com os meus giros porque fico na ponta do pé é pouco atrito no chão e com óleo. Mas acho que a gente estava tão abençoado pela fantasia, pelo momento e pela escola. Foi maravilhoso”, contou, acrescentando que a fantasia dele era de Oxalá e a da Rute de Nanã, dois orixás. “Tenho certeza, após este desfile, que papai do céu abençoou a gente mais uma vez”.
A doméstica Maria da Penha, que participou da ala das baianas, quando entrou na Praça da Apoteose, se benzeu e agradeceu a Deus pelo desfile. “Senti prazer no desfile. Foi maravilhoso. Desfilo na Tijuca há quatro anos e este foi mais leve, não dá para explicar!”, disse sorrindo.
Antes da Estácio de Sá, a primeira escola deste domingo começar a desfilar, o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), Jorge Castanheira, pediu ao público que mesmo com a crise econômica compareceu à Passarela do Samba que vibrasse com as escolas e incentivasse os componentes a quem desejou um bom carnaval. “Agradeço a todos, em nome das escolas de samba, em nome da cidade do Rio de Janeiro pela confiança de virem ao Sambódromo e lotarem essa avenida em um momento de dificuldade do nosso país”, indicou.
O presidente tomou ainda uma decisão neste primeiro dia: não substituir um dos quatro jurados do quesito bateria que não compareceu. Pelo regulamento a nota menor entre as quatro sempre é descartada. Para o caso deste ano, segundo a Liesa vão valer as outras três, sendo que se houver uma menor ela vai acompanhar as outras duas, a não ser, que sejam diferentes.
Mocidade
O Dom Quixote da Mocidade Independente entrou na avenida lutando contra moinhos de ventos. Mas o inimigo imaginário não demorou a se transformar em problemas reais, o combate à corrupção e o escândalo da Petrobrás. Única a levar a crítica política para a Sapucaí no primeiro dia de desfiles do Grupo Especial, a agremiação correu riscos também no tamanho de seus carros alegóricos, os mais altos e largos até agora. Vários tiveram problemas na dispersão, prejudicando a evolução da escola.
A encenação de Dom Quixote arrancou aplausos da plateia. O lunático mais famoso da literatura começou o desfile com batalhas imaginárias, mas só até o momento em que o moinho se transformou em torre de petróleo, de onde saíram cinco engravatados sem cabeça, de terno preto, ladeando uma figura feminina vestida de vermelho. Todos acabaram colocados atrás das grades por Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Pança. O cavaleiro ressurge sobre o moinho, com uma bandeira do Brasil nas mãos.
Um dos coreógrafos da comissão de frente, Saulo Finelon, rechaçou qualquer ligação com o atual governo. Segundo ele, a cor vermelha da roupa foi escolhida por acaso e a figura feminina entrou em cena apenas para mostrar que a corrupção não é uma questão de gênero. "Tem o contraste, o preto é escuro, vermelho é sangue. Há muito sangue na nossa política", completou Jorge Teixeira, outro responsável pela coreografia.
As referências à corrupção permearam o desfile da escola de Padre Miguel, que mostrou todos os símbolos clássicos, de ratos e moscas a dólares em malas. A imensa alegoria animada de Quixote dominou a avenida desde a entrada e foi a primeira a dar indícios de que a agremiação poderia ter dificuldades na dispersão. Mas os carros seguintes, do petróleo e dos ratos, foram os mais problemáticos, provocando buracos em alguns momentos e muita correria no final. A Mocidade encerrou sua participação faltando dois minutos para o fim do tempo máximo permitido, de 82 minutos.
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