Educação
Estudantes gaúchos têm baixa aprendizagem de matemática e português
Avaliação da Secretaria de Educação do RS aponta desempenho ruim de alunos do Ensino Fundamental e Médio
Carlos Queiroz -
Os resultados de uma avaliação de aprendizagem realizada pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc) em março deste ano revelou que os alunos da rede gaúcha de ensino dos anos finais do Ensino Fundamental e Médio apresentam conhecimento abaixo do ideal nas disciplinas de português e matemática.
O levantamento realizado com a participação de 624 mil estudantes avaliou nas disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa alunos do 2º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do 1º ao 3º ano do Ensino Médio. O diagnóstico sinalizou um cenário preocupante na educação. Em Matemática, 43% dos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental não possuem o conhecimento básico da disciplina. Já no 9º ano o resultado é ainda pior: 80% não têm o aprendizado mínimo da matéria.
As avaliações do último ano do Ensino Médio, período no qual os estudantes estão se preparando para realizar a prova do Enem e outros vestibulares com o objetivo de ingressar em uma universidade, expõem um cenário crítico. Matemática básica é um problema para 92% dos alunos.
A pesquisa revela ainda que o quadro não é diferente no conhecimento de Língua Portuguesa. Dentre os resultados mais baixos, o 3º ano do Ensino Médio é o pior avaliado, com 62% dos estudantes não detendo conhecimento básico do conteúdo. No último ano do Fundamental o desempenho também não é satisfatório. São 40% dos alunos com aprendizado abaixo do essencial e somente 13% com a compreensão adequada.
Dificuldades da retomada
Para a professora e vice-diretora do Instituto Estadual de Educação Assis Brasil, de Pelotas, Margarete Antunes, o diagnóstico é mais complexo do que apenas o resultado da aplicação de provas aos alunos. A educadora explica que na volta às aulas após o período de dois anos de distanciamento social no qual as escolas estavam fechadas, os professores e coordenadores educacionais perceberam dificuldade maior de concentração e de socialização de crianças e adolescentes. Segundo ela, esse contexto demanda um ensino integrado, com foco também na socialização e na saúde dos alunos. "A dificuldade de concentração deles é muito grande. Querem usar o celular demasiadamente e estão apresentando hiperatividade", relata.
Margarete é responsável pelo turno da tarde do Assis Brasil, que conta com cerca de 711 alunos de todas as idades. A percepção no educandário é que as maiores dificuldades de aprendizagem estão nas turmas do 6º ano do Ensino Fundamental. "Olha o pulo, eles não tiveram aulas presenciais no 4º, nem no 5º ano. Vieram do 3º ano, pequenos, tinham uma professora e chegaram agora em um universo multidisciplinar sem terem vivenciado o período de transição gradual."
A vice-diretora também cobra mais investimentos em educação e na infraestrutura das escolas como forma de estimular a aprendizagem. "Os estudantes têm um grande incentivo quando frequentam uma escola feliz, bonita, com materiais de qualidade como estes aqui", diz, apontando para notebooks entregues ao Instituto e que serão usados pelos jovens durante as aulas.
Dificuldade de adaptação
Aluna do 2º ano do Ensino Médio no Colégio Estadual Cassiano do Nascimento, Cinthia Alves confirma o desafio de se adaptar a uma retomada após tanto tempo fora das salas de aula. Entre as diferenças abruptas estão as atividades em período integral. Ela conta que quando iniciou o distanciamento social e as aulas presenciais foram interrompidas estava no 9º ano do Ensino Fundamental, estudando apenas no turno da tarde. Ao voltar neste ano, passou a lidar com ensino integral.
"Antes eram menos matérias, era mais simples. Conciliar o tempo na escola com os estudos em casa e a quantidade de matérias é minha maior dificuldade agora. Acho que nesse período os professores poderiam ser mais atenciosos, terem mais empatia e entenderem que estamos sobrecarregados por causa do turno integral", avalia.
O que diz a Seduc
De acordo com a Secretaria Estadual da Educação, a avaliação foi aplicada para aferir o aprendizado dos estudantes, bem como avaliar as principais competências pedagógicas que precisam ser trabalhadas pelas escolas. A Seduc declara que, a partir dos resultados, foi implantado o "Aprende Mais", Programa de Recuperação e Aceleração da Aprendizagem. A carga horária de Matemática foi ampliada em três horas semanais e a de Língua Portuguesa em duas horas semanais.
Além disso, segundo a pasta, os educadores foram orientados sobre como trabalhar com os resultados da avaliação diagnóstica de modo a potencializar a recuperação das fragilidades identificadas nos estudantes.
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