Ciência & Saúde

Fadiga relacionada ao câncer de mama é alvo de estudos da Esef

Objetivo é identificar qual treinamento físico é mais efetivo na redução do cansaço

Foto: Jô Folha - DP - Bruno Xavier e Victor Huggo Pinheiro buscam participantes

Por Michele Ferreira
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Mulheres que já realizaram tratamento de câncer de mama são o alvo de estudos de mestrado e doutorado da Escola Superior de Educação Física, da Universidade Federal de Pelotas (Esef-UFPel). A pesquisa irá verificar qual o treinamento - caminhada ou hidroginástica - é mais eficiente na redução da fadiga relacionada à doença. A saúde mental também desponta entre os temas que serão analisados, até o final de 2025.

E é simples de entender o porquê o assunto virou o foco das atenções: a cada quatro novos diagnósticos de câncer entre as mulheres, um é de mama no Brasil. E nos casos que resultam em morte, o sinal de novo é de alerta: a cada seis óbitos registrados, um é provocado por este tipo de tumor. E a região Sul do País concentra a maior parte dos casos.

“É uma doença de forte impacto social. Este, então, é um dos motivos para intervirmos com esta população”, ressalta o doutorando Bruno Xavier. E lembra de benefícios da prática de atividades físicas: reduzir mortalidade, diminuir o cansaço e, inclusive, a volta da doença. Por isso, a importância dos estudos que estão por vir. Saber qual das duas modalidades traz melhores resultados pode ajudar a aumentar o bem-estar das pacientes.

A expectativa é de que as atividades se iniciem em março. Neste momento a fase é de recrutamento.

“Graças a Deus não sou mais a mesma pessoa”

"A fadiga oncológica foi, realmente, o que eu mais senti". (Foto: Carlos Queiroz)


Hoje completa exatamente um mês que a psicóloga Cristiane Beirsdorf, 38, realizou a cirurgia. Foi a segunda etapa do tratamento. Para poder realizar o procedimento, primeiro foi preciso se submeter a 16 sessões de quimioterapia para reduzir o tumor, um triplo negativo de rápida evolução. Agora, ainda tem pela frente a radioterapia, para diminuírem as chances de reincidência, e seis meses de quimio oral.

“Posso dizer que a fadiga oncológica foi, realmente, o que eu mais senti. Às vezes precisava ter automotivação até para tomar banho. Não tinha vontade de fazer nada” conta. Foi quando a psicóloga decidiu dar início à prática de pilates e sentiu os efeitos positivos. “Hoje eu sei que nunca mais vou ser a mesma pessoa. A gente passa a estar feliz por não estar sentindo nada, passa a agradecer por estar bem”, ressalta.

E, agora, afirma como paciente. A rotina profissional já a colocava em meio a inúmeros quadros de câncer. Além de atuar na Santa Casa de Misericórdia, a formação inclui residência em oncologia e trabalho com cuidados paliativos. “Tive medo de morrer, sim, mas em nenhum momento me perguntei ‘por que eu?’ nem tive raiva. O que eu ainda me pergunto é ‘pra quê, o que eu tenho que aprender com isso? Será que já aprendi tudo que seria necessário?”, indaga-se. E segue adiante: como paciente e com os pacientes. Lado a lado.


Entenda melhor

Quem pode participar?

Mulheres, a partir dos 18 anos de idade, que já realizaram o tratamento primário, isto é, cirurgia, quimioterapia e radioterapia - ainda que o protocolo não tenha incluído as três etapas. São as chamadas sobreviventes de câncer.

Quem está em tratamento hormonal também pode participar.


Como vai funcionar?

As mulheres serão divididas em três grupos, com atividades previstas para um período de 12 semanas. A definição irá ocorrer por sorteio. Uma estratificação por avanço da doença e idade criará equiparação entre os grupos.

Avaliações inicial e final

Ao ingressarem no estudo e antes de encerrarem a participação, as mulheres irão passar por avaliações com foco tanto no aspecto físico quanto de saúde mental, para apurar se houve impacto na fadiga. Confira o que será observado:

Através de equipamentos:

+ Ultrassonografia para análise da qualidade e espessura muscular do quadríceps.

+ Cadeira extensora: avaliação da força muscular máxima dos extensores do joelho.

+ Analisador de gases e esteira ergométrica: utilizados no teste de ergoespirometria (ou cardiopulmonar) para avaliação de parâmetros cardiorrespiratórios.

Ainda serão realizados outros seis testes relacionados à aptidão física funcional.


Com questionário:

Além de mensurar a fadiga relacionada ao câncer, o questionário também irá analisar qualidade de vida, dor, ansiedade, depressão e função cognitiva entram no radar. “A função cognitiva, principalmente, de quem passa por quimioterapia é muito afetada. É um tratamento pesado e também destrói células nervosas”, observa o mestrando Victor Huggo Pinheiro, ao enfatizar a relevância de voltar o olhar à saúde mental.

Saiba mais detalhes

Os estudos têm financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os R$ 60 mil foram investidos na compra da esteira e da cadeira extensora e também serão destinados ao pagamento de bolsas para alunos de graduação que atuarão nas intervenções e avaliações.

O doutorado de Bruno Xavier conta com orientação da professora Stephanie Santana Pinto e co-orientação da professora Cristine Lima Alberton.

O mestrado de Victor Huggo Pinheiro é orientado pela professora Cristine Alberton.

As pesquisas, vinculadas ao Laboratório de Avaliação Neuromuscular (Labneuro-Esef), surgiram de ideia da também doutoranda Luana Andrade. Os trabalhos dispõem de colaboração internacional do professor Antonio Cuesta Vargas, da Universidade de Málaga, na Espanha.

Faça contato!

Pelo telefone:

(53) 99159-3824.

Pelo Instagram:

@brunoxavier.pro


Se você quiser manter as atividades físicas…

Uma das possibilidades para dar continuidade aos exercícios é passar a fazer parte do projeto de extensão da Esef, o Erica - Exercise Research in Cancer, direcionado a mulheres que realizaram tratamento de câncer de mama. Acesse o Instagram @projetoerica.​


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