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Falta de médicos gera protesto na colônia de Pelotas

Em frente à UBS Cordeiro de Farias, manifestantes bloquearam a estrada principal por meia hora

Volmer Perez -

A falta de médicos em Pelotas tem agravado a situação de quem mora na zona rural. Uma das unidades está sem profissional há três meses. Em outras, o atendimento é uma ou duas vezes por semana, o que não é suficiente para quem mora a 30, 40 e até 50 quilômetros do Centro da cidade e, às vezes, precisa se deslocar até a UPA Areal, porque adoeceu no dia em que não tem médico no posto. Cansados de esperar por uma solução, moradores realizaram manifesto em frente à Unidade Básica de Saúde (UBS) Cordeiro de Farias, no 5º distrito, na manhã desta quarta-feira (28). Por meia hora, a estrada principal ficou bloqueada. A falta de interesse de médicos em trabalhar no município é a principal atribuição do Executivo, que mantém o mesmo déficit do início deste mês: 21 profissionais.

No grupo estavam representantes de mais seis comunidades do interior que clamam por atendimento de saúde digno. Com bateção de panelas, pandeiros, apitos e cartazes, a ideia de fazer muito barulho é para tentar sensibilizar as autoridades, que segundo os usuários, estão cientes da realidade. "Quem olha de fora pode achar simples a reivindicação, mas para quem mora a uma hora do Centro e precisa de uma receita de medicação controlada, é agoniante", disse o presidente do Conselho Local de Saúde, Antônio Leonel Rodrigues Soares. Ele conta que a reivindicação foi enviada para a Secretaria Municipal de Saúde e à prefeitura na primeira quinzena deste mês e ainda não tiveram retorno. "Queremos respostas de quando vamos ter médico na zona rural."

A aposentada Maria Terezinha Proença Scherdien, 65, teve câncer de pele, fez tratamento e precisa de acompanhamento médico e, principalmente de exames. "Mas como vou conseguir requisição para esses procedimentos se não tem médico aqui. Eu não posso pedir em uma unidade na cidade, pois me mandam de volta ao posto da colônia", desabafou. Ela revela que já ficou sem receita, mesmo com a saúde debilitada. Em situações como essas, a equipe da UBS local - com enfermagem, assistência social, dentista e uma boa estrutura - lamenta e tenta fazer o possível para resolver a situação. "Às vezes pedimos que um médico de uma unidade mais próxima faça o favor de dar a receita", disse uma atendente que prefere não se identificar. A adolescente Júlia de Oliveira da Costa, 16, conta que a irmã de 12 está há uma semana doente e não consegue atendimento para ver se é preciso tomar antibiótico. Na casa ainda moram dois idosos com saúde debilitada e que precisam consultar, pelo menos, de três em três meses.

De acordo com a diretoria de Atenção Primária da SMS, a UBS Cordeiro de Farias está sem atendimento médico presencial no momento, pois o profissional está em licença saúde e, que neste caso, os usuários podem ser encaminhados para atendimento nas UBSs mais próximas, na UPA Areal ou no Pronto-Socorro, conforme a classificação de risco da situação de saúde. Os pacientes também podem ser atendidos em teleconsulta, sistema implementado em agosto nos postos da colônia e que consiste no agendamento feito pelo profissional de Enfermagem, conforme a necessidade do quadro de saúde. O atendimento ocorre às terças-feiras, manhã e tarde.

Mas, pelo relatório do Conselho de Saúde Local, o serviço digital complementar à saúde da população da colônia, por meio do formato híbrido nas UBSs Colônia Maciel, Cordeiro de Farias e Cerrito Alegre - funciona uma vez por mês. "Ajuda, mas não atende a demanda". No levantamento da SMS, de agosto deste ano até o momento, entretanto, foram realizadas 30 teleconsultas com pacientes da zona rural, resultado que não resolve o problema das comunidades. "Todas as receitas controladas são enviadas para outra unidade, sobrecarregando o profissional. O mesmo ocorre quando temos que procurar a UPA ou o Pronto-Socorro, embora o discurso da Secretaria de Saúde seja que a atenção básica deve ser prestada no posto", argumentou o presidente Soares.

Outras localidades
Representantes de Cerrito Alegre também se uniram à reivindicação. No posto de saúde, o médico vai às segundas-feiras, o que tem gerado muito desconforto para os usuários que se mobilizaram através de abaixo-assinado. "Nós queremos ser atendidos como era antes. Se não for possível todos os dias, que seja três vezes por semana, pois na nossa comunidade, se alguém adoecer na terça, só poderá consulta na próxima semana", desabafou a aposentada Ana Maria Machado, 62. "Gostaríamos muito que as autoridades consultassem em uma UBS da colônia. Nós só pedimos atendimento de qualidade".

Para reforçar o coro dos cerca de 60 manifestantes, o padre Armindo Luís Capone, manifestou espanto pela situação do atendimento médico na zona rural. "Não entendo! A estrutura é boa, a equipe é completa, mas falta o profissional. Mês passado, um idoso morreu na Colônia Maciel por causa da falta de médico", contou. Para o defensor, é preciso que o Executivo pague melhor os médicos para resolver a solução". Na relação do Conselho, a UBS Cordeiro de Farias não tem médico, nas UBSs Pedreiras, de Monte Bonito e Gruppelli o profissional atende duas vezes por semana; e na Colônia Maciel, Cerrito Alegre e Vila Nova, o atendimento é uma vez a cada sete dias.

O que diz a prefeitura
O quadro apresentado na primeira quinzena de setembro, ou seja, o déficit de 21 médicos - necessários para atendimento nas Unidades Básicas de Saúde - se mantém o mesmo. A prefeitura diz estar enfrentando dificuldade para contratação e isso tem se refletido nas unidades da zona rural, também. A Secretaria de Saúde reforça que todas as UBSs, com exceção da Cordeiro de Farias neste momento, contam com atendimento presencial em algum dia/turno durante a semana. "Os profissionais se dividem, conforme seu cronograma de trabalho e atendem mais de uma unidade, para não deixar os usuários sem o serviço", explicou o Executivo através de nota.

 

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