Saúde
Falta de remédios volta ser problema na Farmácia Popular
Local chega a atender 1,2 mil pacientes diariamente, mas usuários dizem estar há 60 dias sem remédios
Carlos Queiroz -
Denúncias sobre falta de remédios na Farmácia Municipal já não são novidades para os pelotenses que utilizam o serviço. Segundo a prefeitura e o Estado, responsáveis pela distribuição de medicamentos, essas ausências ocorrem devido a prazos não cumpridos ou à falta de matéria-prima. Mas a grande questão é: neste período em que o serviço não dispõe dos fármacos, como ficam aqueles que dependem do sistema?
A jovem Sophia De Sousa,17, foi diagnosticada com diabetes tipo 1 aos 13 anos. Desde lá, o pai da menina, Arlindo Bilous de Sousa, 57, conta que busca os remédios necessários ao tratamento com a Farmácia Municipal. "Depois de um ano nós começamos a pegar as fitas de glicemia e insulina na Farmácia. Nós também fizemos um cadastro com o Instituto de Diabetes, e o Estado também nos fornece alguns medicamentos", aponta.
Neste período em que utilizam os serviços da Farmácia Municipal, Sousa conta que já aconteceu de os medicamentos estarem indisponíveis. "Nesses quatros anos, com certa frequência, não há fitas e insulina. Digamos que três ou quatros vezes por ano isso acontece", relata.
Atualmente, o pai de Sophia diz que há 60 dias não tem acesso às fitas, à insulina ou ao Depakene, remédio anticonvulsivo que a menina também necessita. Com mais dois filhos, ele conta que sem a ajuda da Farmácia para a obtenção dos fármacos fica difícil dar conta dos gastos. "A gente se vira, mas as três caixas de remédios saem por R$ 200,00 na farmácia convencional. E três não dá nem para um mês, porque ela precisa utilizar sete por dia. A Sophia não pode ficar sem medicação, ela pode até mesmo morrer", desabafa.
Nesses 60 dias sem acesso aos remédios, Sousa afirma ter ido diversas vezes até o serviço, mas sem sucesso. Além disso, o pai conta que a Farmácia não dá qualquer previsão de chegada. "É revoltante ter que passar por essa situação, mas ao mesmo tempo passa rápido, porque tu tem que suprir a necessidade do teu filho. Sou muito grato por ter essa medicação, mas é um direito, não um favor", pontua.
Quem também enfrenta um problema semelhante é Vera Carvalho, 58. A sua filha de 24 anos também tem diabetes tipo 1 e, para controlar a doença, a jovem utiliza tiras medidoras de glicose e insulina, provenientes da Farmácia Popular. Da mesma forma, Vera reclama que há dias o local não oferta os remédios. Na tarde de terça-feira ela voltou ao local na esperança de que houvesse algo disponível no estoque. "Tive que comprar tirinhas e insulina. Só as tirinhas estão R$ 110,00 e ela não pode ficar sem. Nós pegamos remédios aqui há quatro anos e nesse tempo já faltaram outras vezes. Quando não tem, a gente tem que correr atrás", relata.
A situação se repete com Deize Arruda, 57. Ela fala que há quatro anos o marido convive com Parkinson e Alzheimer. Desde então, teve de parar de trabalhar para cuidá-lo e depende de Rivastigmina para controlar o Alzheimer do aposentado. Até conseguir a documentação com um neurologista para obter os medicamentos pela Farmácia Popular, ela chegou a pagar R$ 600,00 mensalmente pelo medicamento, durante um ano. O problema é que desde abril não há estoque do remédio no local.Com isso, Deize conta que precisou dar um jeito para garantir os remédios.
"Nas últimas semanas eu vim aqui três vezes e em todas as oportunidades me disseram que não havia. Agora estou aqui hoje para ver se tem. São R$ 600,00 por trinta unidades. Sem a farmácia tive que pedir ajuda, não temos condições de pagar tudo. Ele é aposentado e o salário dele é só para remédios", lamenta.
Sem insumos, sem remédios
De acordo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a Farmácia Municipal recebe em média 1,2 mil pelotenses em busca de medicamentos todos os dias, nas centrais e nas distritais. No prédio localizado na rua Professor Araújo, alguns fármacos distribuídos são fornecidos pelo governo estadual e outros pelo município. Os motivo que têm levado à falta de medicamentos são variados.
Em referência aos remédios fornecidos pelo Estado, segundo a 3º Coordenadoria Regional de Saúde (3ªCRS), a compra não é feita pelo órgão, responsável apenas por repassar o produto. Mesmo assim, a falta de remédios no momento é considerada dentro da normalidade. Essa indisponibilidade pode estar acontecendo porque fornecedores não têm os medicamentos ou porque a ata de registro pode ter terminado.
Já em relação ao município, a SMS confirma a situação e diz enfrentar dificuldades para reabastecer o estoque em função da falta de matéria-prima para alguns fornecedores, que não estão conseguindo cumprir com os prazos. Além disso, a pasta afirma não ter ainda uma previsão de normalização do serviço, mas garante que a equipe está empenhada diariamente na cobrança dos prazos junto aos fornecedores, no sentido de agilizar a regularização da falta de medicamentos. Por fim, a SMS reitera que depende que os as entregas acertadas sejam cumpridas por quem os provém.
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