Páscoa
Fazer o bem sem olhar a quem
Uma cidade mais humanizada é o desejo de voluntários que se espalham por Pelotas, doando seu tempo a quem precisa
Jô Folha -
Muito além dos chocolates, a Páscoa representa o renascimento, as novas oportunidades, que em alguns casos podem vir através de gestos simples, simbólicos, vindos de completos estranhos, mas que têm efeito grandioso na vida de quem os toca. Pelotas está repleta destes estranhos, que doam seu tempo e disposição a quem necessita. Voluntários que dão de si antes de pensar em si, em troca de nada mais que um simples sorriso.
Eles estão em toda parte, ajudando quem têm fome, sede, frio. Quem está dentro dos hospitais ou confinado no sistema penitenciário, com palavras amigas, roupas ou comida. Com ações simples, fazem a diferença e tornam a cidade um lugar mais humano.
Distrair da dor
Há três anos o militar Robinson Alberto Garcia da Silva, 41, e o sogro Osmar Barboza, 70, têm compromisso certo nas tardes de quarta-feira. Durante uma hora eles percorrem 150 leitos do Hospital-Escola da Universidade Federal (HE-UFPel) levando um pouco de distração para pacientes e seus acompanhantes, através do projeto Carrinho da Leitura, que disponibiliza revistas e periódicos como uma forma de amenizar a ansiedade e a dor.
O projeto surgiu em 2004, a partir de um funcionário do HE que trabalhava no setor de quimioterapia e percebeu a necessidade de distração dos pacientes durante o tratamento. A própria equipe começou a levar revistas para emprestar e foi então que surgiu a ideia de organizar e expandir o trabalho. A arrecadação de exemplares é feita por funcionários e colaboradores da comunidade, e as revistas são acomodadas em um carrinho, feito pelo Curso de Design de Móveis do antigo Cefet.
Nestes 13 anos diferentes voluntários conduziram o carrinho, que sem eles permaneceu estacionado. No entanto, desde que Robinson e Osmar assumiram a responsabilidade, o remédio momentâneo chega semanalmente aos quartos. “Faz um bem danado”, conta Robinson, que descobriu o projeto quando foi visitar um internado. Por convite do genro, Osmar abraçou a causa.
Quando o carrinho chega, o corredor vira ponto de encontro e troca de experiências. “É maravilhoso!”, comenta Maria Castro, 62, que está no HE há três meses acompanhando uma das internadas, e aproveita as revistas para passar o tempo e suportar os dias difíceis. Para Maria, além da leitura, que é um dos melhores remédios, ter alguém com quem conversar, que se preocupa com o bem estar dos outros, também é muito importante. “Temos que tocar o barco e não se abater”, afirma.
Enxergar no outro o reflexo de si mesmo e ver a expectativa de melhora são motivações dos voluntários, pois como explicam, todos estão sujeitos a doenças, fome, frio, mas isso não pode fazer com que as pessoas desvalorizem o lado humano. É um simples exercício de desprendimento e altruísmo, de praticar a solidariedade, que deveria ser feito por todos, analisa Osmar.
Família do bem
Comida todos os dias, um banho quente e roupas limpas. Aquilo que parece comum à maioria dos pelotenses é uma grande dádiva para moradores de rua e pessoas em vulnerabilidade social que semanalmente visitam a sede da Associação Amigos do Caminho (Amica) para espantar a fome e receber um pouco de carinho.
Uma grande família. É assim que os quase 70 voluntários da Amica definem o vínculo criado a partir do auxílio, que acontece de terça a sexta-feira e ainda oferece apoio psicológico, social, atendimento médico e entretenimento, proporcionados pelo trabalho de uma rede do bem. “É uma grande equipe”, conta a professora Flávia Pereira do Santos, 45, que quando tem tempo livre sempre passa pela associação.
E eles são muitos. Às quartas-feiras, dia do banho e da janta, em média 150 pessoas aguardam ansiosamente na porta da Amica. Douglas Neto é uma delas, que com um sorriso no rosto não consegue conter a felicidade ao agradecer madrinhas e padrinhos.
Dignidade em todo lugar
Depois de trabalhar com doentes e moradores de rua, o professor de Educação Física Sinval Martin Farina, 49, decidiu que era hora de uma nova experiência. Ele e outros dez voluntários fazem parte da Pastoral Carcerária e regularmente visitam o Presídio Regional de Pelotas, levando a esperança de novas oportunidades e um futuro diferente.
Na ala feminina as visitas são semanais, com os trabalhadores são quinzenais e nas galerias mensais. Além da espiritualidade, a equipe busca oferecer uma formação através de oficinas de artesanato e cursos de cabeleireiro, e tenta humanizar a relação entre apenados e comunidade, informa o padre Luiz Amarildo Boari.
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