Casa própria

Hora de construir sonhos

Entregues na semana passada, muitos moradores dos residenciais Acácia e Azaleia se adaptam à mudança de vida a partir de agora

Flávio Neves -

Ao olhar para o horizonte da janela do quarto andar de seu apartamento, Alice enxerga um campo aberto do outro lado da rua. Um campo que pode virar outras construções. Construindo uma nova vida desde o último sábado, Alice realiza o sonho de morar num apartamento e de viver uma nova vida. Desempregada, passou a se virar vendendo comidas congeladas perambulando por bairros da cidade. Com os 239 vizinhos do seu condomínio, mais os 240 do outro (Acácia e Azaleia), colado ao seu e também recém-inaugurado, um novo campo também se abre para o seu futuro nos negócios. “Quero vender aqui na volta mesmo, aí posso ficar mais em casa e deixar tudo ajeitado sempre”, projeta.

Inaugurado dia 14, inclusive com a presença do ministro de Cidades, Bruno Araújo (PSDB), as chaves dos residenciais Acácia e Azaleia foram entregues durante ato que reuniu todos os moradores e autoridades locais. São dois condomínios que, somados, chegam a 480 apartamentos com dois quartos, uma sala com cozinha conjugada e um banheiro - com a parte interna toda pintada de branco. Ficou estabelecido um cronograma para as mudanças e, cada dia, 20 moradores podem levar seus móveis. Os dois habitacionais devem ser totalmente ocupados em até um mês. Estão localizados na avenida Manoel Antônio Peres, local conhecido como Corredor do Obelisco, no bairro Bom Jesus. Cada um ainda possui salão de festas, campinho de futebol - já lotado de crianças com uma bola - e estacionamento.

O empreendimento, do Minha Casa, Minha Vida, programa habitacional do governo federal, tem o financiamento do Banco do Brasil e é categorizado como faixa um - voltado para financiamentos com renda de até um salário mínimo. De acordo com informações da Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária (SHRF), as parcelas mensais variam de R$ 80,00 a R$ 225,00 - o valor é calculado conforme a renda do beneficiário. A taxa de condomínio será definida em breve, após uma reunião com todos os condôminos. No ato da entrega, conta Ubirajara Leal, titular da SHRF, era visível no semblante das pessoas a felicidade de ter acesso a casa própria. “No dia da entrega a gente via isso, e o ministro bateu insistentemente na ‘vida diferente’ que todos levariam a partir de agora”, relata.

Leal explica que existe um trabalho técnico social antes da entrega e depois. Assistentes sociais participam das reuniões e a secretaria apresentou uma sugestão para a convenção. “Foi escolhido, no dia, síndicos provisórios, que devem ficar um mês para chamarem a convenção geral entre todos os moradores”, informa. Neste trabalho técnico social, as assistentes ministram curso profissionalizante de geração de renda para as famílias habitantes. Cerca de 1,5% do valor da construção é voltado a este trabalho - Leal não soube informar o valor total do empreendimento. O secretário informa, ainda, que constantemente a SHRF está em monitoramento para chamar suplentes. “Houve cerca de 12% de desistência”, dá em números.

Lugar pra chamar de seu
Há dez anos Alice Margarete Pires, 45, participa de sorteios e buscava um lugar pra chamar de seu. Nos últimos três anos morava de aluguel na Vila da Palha, ou “o fim do Areal” como ela prefere chamar. Era apenas uma cozinha, banheiro e um quarto. O aluguel era de R$ 300,00, mais R$ 120,00 de luz (média). A partir de agora pagará mensalmente R$ 80,00 em prestações. Com os constantes anúncios e prorrogações de prazos, ela conta que sempre informava o dono do antigo imóvel que poderia sair em breve, o que acabava não ocorrendo pelo atraso na entrega das obras. “Era uma angústia constante. Aí a gente comunicava que talvez ia sair e o dono já mandava pessoas olharem a nossa casa pra alugar pra outro, com todas nossas coisas dentro”, lembra. Da janela da cozinha ela aponta para um Santana, modelo quadrado, estacionado no condomínio. “É o carro que meu marido comprou”, conta animada. Durante a conversa, Alice revela que sofria de depressão e andava triste com este impasse. Desde o dia da mudança e depois da primeira noite no novo apartamento, não sentiu mais nada. Com os móveis ainda improvisados, quando a reportagem chegou ela ainda arrumava a mudança. “Muito feliz, nunca imaginei que iria morar num apartamento”, revelou na despedida.

A estudante e manicure Angélica Neves dos Santos, 27, carregava um colchão de casal para o quarto andar com a ajuda de sua sogra. O último sábado de sol ajudou as famílias que carregavam seus pertences pelos corredores. Durante o período em que a reportagem esteve no local, a cada pouco estacionava um caminhão carregado de móveis, camionetes e até uma charrete com móveis para os novos moradores. Angélica precisou se desfazer de dois cachorros, porém era por uma boa causa. “Eram dois cachorros grandes, ainda não me recuperei. Mas acho que vamos ficar muito bem aqui”, prevê. Até então, morava num quitinete com a filha e o marido. Ela revela que estava cansada de pagar aluguel. “Agora eu pago uma espécie de aluguel pra mim mesma”, disse, referindo-se às parcelas. Mensalmente Angélica terá que pagar R$ 135,00.

“Minha filha está feliz que vai ter um quarto só pra ela”, conta Solange Domingues, 38. Trabalhando como cuidadora no Asilo de Mendigos, ela pagava R$ 450,00 de aluguel para um lugar apertado, com apenas um quarto. A filha, agora com 11 anos, sonhava em ter um quarto. “Um sonho realizado”, definiu. Solange ainda fez questão de mostrar peça por peça do apartamento, sempre com um sorriso no rosto. Parecia extasiada com as instalações novas.

Na avaliação de José Roberto Zanetti Sampaio, 30, mestrando em Antropologia, o principal ponto positivo é o fim do aluguel. Ele ainda criticou os arremates e os acabamentos. Segundo Sampaio, o apartamento já apresentava problema de infiltração numa torneira. Ainda salientou a importância de se organizar o condomínio para manter todas as instalações em ordem. Próximo de onde conversava com a reportagem, crianças já aproveitavam a quadra de futebol correndo atrás de uma bola.

Amazonas e Roraima em breve
Já sorteados, os novos condomínios de faixa um ficam no Sítio Floresta. Questionado sobre quando serão entregues às famílias, Leal explica que o prazo depende das construtoras. O secretário adiantou que serão 560 apartamentos no total, também financiados pelo Banco do Brasil. Os apartamentos também já foram sorteados e a secretaria acompanha de perto o processo para, em caso de desistências, chamar outros candidatos. Em janeiro a secretaria realizou encontros com os futuros moradores. Os beneficiários receberam noções de convivência e de como cuidar dos imóveis - a atividade é prevista no contrato e a participação obrigatória.

Moradias
240 - Azaleia

240 -  Acácia

Total  -  480 apartamentos

Futuras
Amazonas - 280

Roraima - 280

Total -  560 apartamentos

Apartamentos padronizados
2 quartos
Sala/cozinha
Banheiro

Condomínio

Salão de festas

Quadra de futebol

Estacionamento

Início das obras 2013

Entrega das moradias 2017

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