Infraestrutura
Mais da metade das rodovias do Brasil apresentam problemas
O estudo constatou que dos 103.259 quilômetros analisados em todo o Brasil, 58,2% apresentam algum tipo de problema no estado geral
(Fotos: Jô Folha - DP)
A 20ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias (Confederação Nacional de Transporte) deixou fora praticamente todas as estradas estaduais da Zona Sul. Entre as exceções está a RST-473/BR-473 (região de Aceguá), avaliada em seis quilômetros como ruim, pavimento regular, sinalização péssima e geometria ruim. Concluiu como boas e regulares as vias federais que cortam a região, mesmo a BR-116, alvo de mobilização para que as obras de duplicação sejam concluídas. O estudo constatou que dos 103.259 quilômetros analisados em todo o Brasil, 58,2% apresentam algum tipo de problema no estado geral, cuja avaliação considera as condições do pavimento, da sinalização e da geometria da via.
A má qualidade das rodovias é considerada reflexo de um histórico de baixos investimentos no setor. Em 2015, o investimento federal em infraestrutura de transporte em todos os modais foi de apenas 0,19% do Produto Interno Bruto (PIB). O valor investido em rodovias (R$ 5,95 bilhões) foi quase a metade do que o país gastou com acidentes apenas na malha federal (R$ 11,15 bilhões) em 2015. Já em 2016, até setembro, dos R$ 6,55 bilhões autorizados para investimento em infraestrutura rodoviária, R$ 6,34 bilhões foram pagos.
“Essa distorção nos gastos públicos tem causado graves prejuízos à sociedade brasileira, desde o desestímulo ao capital produtivo, passando pelas dificuldades de escoamento da produção até a perda de milhares de vidas”, avalia o presidente da CNT, Clésio Andrade. A CNT calcula que, para adequar a malha rodoviária brasileira, com obras de duplicação, construção, restauração e solução de pontos críticos, seriam necessários investimentos de R$ 292,54 bilhões.
De 2015 para 2016 houve aumento de 26,6% no número de pontos críticos (trechos com buracos grandes, quedas de barreiras, pontes caídas e erosões), passando de 327 para 414. De acordo com a pesquisa, somente os problemas no pavimento geram um aumento médio de 24,9% no custo operacional do transporte. O estudo da CNT e do Sest/Senat abrange toda a extensão da malha pavimentada federal e as principais rodovias estaduais pavimentadas.
Em relação ao pavimento, 48,3% dos trechos avaliados receberam classificação regular, ruim ou péssima. Na sinalização, 51,7% das rodovias apresentaram algum tipo de deficiência. Na variável geometria da via foram constatadas falhas em 77,9% da extensão pesquisada. A etapa de coleta da Pesquisa CNT de Rodovias 2016 durou 30 dias (de 4 de julho a 2 de agosto). Os resultados são apresentados por tipo de gestão (pública e concessionada), por jurisdição (federal e estadual), por região e por unidade da Federação.
Concedidas
Em 2016 foram pesquisados 20.036 quilômetros (19,4%) de rodovias concedidas e 83.223 quilômetros (80,6%) de vias sob gestão pública. Ao avaliar os resultados, a CNT aponta que é possível entender a relevância da participação da iniciativa privada na melhoria da qualidade das rodovias brasileiras. Aquelas sob gestão concedida apresentam melhores resultados, onde 78,7% (15.784 km) da extensão avaliada foram classificados como Ótimo ou Bom no Estado Geral.
Foram identificadas 13 quedas de barreira, quatro pontes caídas, 93 erosões na pista e 304 buracos grandes que colocam em risco a segurança dos usuários de rodovias.
Fazem parte da extensão da Pesquisa CNT de Rodovias os principais trechos de rodovias estaduais com relevante importância socioeconômica e estratégica ao desenvolvimento regional e que contribuem à integração intermodal, além de trechos estaduais com grande volume de tráfego de veículos.
Avaliada no estado geral como regular, a BR-392, na análise de quem usa a estrada, já esteve pior. O motorista João Pereira, 70 anos e 50 de profissão, diz que hoje viaja tranquilo. O caminhoneiro Luciano Marques, 42 e 20 de viagens, considera que até Rio Grande a via é boa, mas em direção a Porto Alegre está complicado de trafegar, devido às obras paradas. O acostamento, opinina, está ruim.
Mobilização pela BR-116
Um dia após a reunião em Brasília, o prefeito de Pelotas, Eduardo Leite (PSDB), mostrava-se indignado com a decisão do Ministério dos Transportes, equivocada em sua visão, de investir na ponte do Guaíba em detrimento da retomada da duplicação da BR-116. São R$ 330 milhões para essa obra e apenas R$ 50 milhões à duplicação, o que significa contemplar dez dos 170 quilômetros restantes.
“Isso é um absurdo, nesse ritmo de investimentos vai levar 17 anos para concluir e ainda vai se perder o que foi feito até agora”, afirma Eduardo, que critica ainda a bancada gaúcha por não ter se posicionado contra tal decisão. Ele participou junto com outras lideranças políticas e representantes empresariais de reunião em Brasília com o ministro do Transportes, Maurício Quintela, para reivindicar prioridade à duplicação da 116.
O prefeito destaca que a ponte tem de ser elevada para a passagem de embarcações menos de uma hora por dia, enquanto que a rodovia federal, por não estar duplicada, é palco de acidentes com vítimas fatais, perdas de cargas e de investimentos na região. A mobilização vai continuar e o assunto será pauta de reuniões da Associação dos Municípios da Zona Sul (Azonasul) com o governo do Estado.
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