Saúde

Mais de um ano após Acolhe Bem, filas em UBSs persistem

Município defende programa e afirma que atendimentos aumentaram 75%, mas em alguns postos relatos apontam longa espera por triagem

Foto: Jô Folha - DP - Entre os usuários, as queixas apontam para a falta de pessoal nos locais

Com a proposta de acabar com a distribuição de fichas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e, consequentemente, eliminar as filas, o programa Acolhe Bem completou um ano e dois meses de funcionamento com o sistema de protocolos de classificação de risco. Porém, o objetivo da mudança ainda não foi plenamente atingido. As fichas por ordem de chegada acabaram, mas a fila de espera por atendimento em alguns postos visitados pela reportagem continua. Só saiu da rua para dentro da unidade.

Entre os usuários, as queixas apontam para a falta de pessoal nos locais, pois relatam horas de espera até conseguirem atendimento médico. Já a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) elenca dados para avaliar de forma positiva o programa. A pasta sustenta que houve aumento de mais de 75% no número de pessoas atendidas por enfermeiros e médicos nas unidades desde o começo do Acolhe Bem, chegando a 408.488 no ano passado.

Os números, contudo, não resolvem o problema de Pâmela Dias, 34. Na semana passada, a reportagem encontrou a funcionária pública na UBS Dunas junto com o filho Kauã, de nove meses. Afirmando ter chegado ao local às 8h, conversou com o DP às 10h12min, ainda à espera da triagem para que o menino passasse por consulta devido à febre e tosse que durava três dias. “Se vou no Pronto-Socorro, mandam para a UPA, mas lá não tem pediatra. Então estou aqui, esperando duas horas para saber se meu filho vai ser examinado por um profissional da saúde”, desabafou.

Na mesma UBS Dunas, um bebê de dois meses que havia passado pelo médico no dia anterior estava de volta, esperando. Ele havia recebido prescrição médica para uso de “bombinha” devido à tosse, contou a mãe Riccelli, 18. “O médico mandou que voltasse hoje para uma nova avaliação e, mesmo assim, temos que passar pela triagem. Então estamos aqui, novamente na fila para atendimento.”

Também visitadas pela reportagem na semana passada, as UBSs Bom Jesus, Navegantes e Cruzeiro não registravam filas enquanto o DP permaneceu, pela manhã, com salas de espera praticamente vazias.

No Porto
Em outro bairro, no Porto, o cenário da UBS não era muito diferente do Dunas. No dia em que o DP esteve na unidade, pacientes afirmaram ter chegado às 7h30min, mas passado pela triagem às 9h e com muita demora no atendimento. O mecânico Jaldair Feijó Idalgo, 48, disse precisar fazer um check-up. Um dos primeiros a chegar no posto, sendo o terceiro da fila, reclamava por não ter sido chamado para a triagem às 9h40min. “Disseram que o médico chegou só às 9h. Mas a questão é que precisam de mais profissionais da saúde, pois não se escolhe o dia para ficar doente. Aqui no posto, as filas nunca sumiram”, disse.

A pensionista Marta Alves, 64, chegou ao posto, às 9h, com bastante tosse. Como chegou mais tarde, aguardava consciente de que, por ser uma das últimas da fila, levaria tempo até ser chamada. “Mas pelo menos acho que serei atendida”, resignou-se.

Bom funcionamento, diz SMS
A diretora de Atenção Primária da SMS, Luciana Soares, garante que o sistema Acolhe Bem está em pleno funcionamento e que, após sua implantação, houve aumento de mais de 75% no número de consultas médicas e de enfermagem. “É preciso registrar que a demanda no pós-pandemia é muito grande e existe uma capacidade instalada das equipes que, às vezes, não conseguem atender todas as pessoas e, em alguns momentos, é preciso limitar o número de atendimentos.”
Luciana cita que há unidades como a Bom Jesus, por exemplo, que em determinados dias chegam a atender 300 pessoas. “O protocolo e a orientação continuam os mesmos: todo mundo que chega na UBS tem de ser acolhido, mas há vezes que se tem um número muito superior da capacidade de atendimento da equipe, então se precisa pedir para a pessoa voltar em outro turno ou procurar uma outra UBS”, admite.

Apesar das explicações da SMS, a doméstica Marilda Costa do Nascimento, 58, diz ser difícil entender o motivo de também precisar aguardar na fila de triagem para mostrar um exame do coração. “A enfermeira mostrou para a médica que passava pelo corredor e ela disse que estava tudo bem e fui liberada. Ocorre que sigo com falta de ar, o que me impede de fazer tarefas simples como varrer uma casa. Estou sem saber o que fazer”, disse indignada e temerosa.

Positivo, precisando de adaptação
Para o presidente do Conselho Municipal da Saúde de Pelotas, César Lima, o processo do Acolhe Bem completou um ano e, como já era previsto, teria um período de adaptação para todos usuários e trabalhadores. “É uma mudança de cultura que, mesmo após um ano e dois meses, tem algumas incertezas, com a questão da falta de médicos. Isso faz, de certa forma, que ainda continuemos com o problema que era a espera na fila e que agora é dentro da unidade com o agendamento.”

Lima considera muito pontos positivos no novo sistema, mas diz que ainda há muito a ser feito, a começar pela solução para a falta profissionais nas equipes, o que gera transtornos. “Mudar uma cultura de décadas não é fácil, mas os ajustes estão sendo feitos e a comunicação por parte da população é fundamental, pois podemos dialogar com o gestor.”

Números
De acordo com a SMS, considerando apenas os períodos de janeiro a abril, houve acréscimo de 12% nos atendimentos entre 2021 e 2022, demonstrando que mesmo antes da implantação do acolhimento, a demanda da Atenção Primária já havia aumentado. Comparando o mesmo período de 2022 para 2023, o aumento foi de 75,4%, percebendo-se a ampliação de acesso pela implantação do protocolo, mas também pelo aumento da população dependente SUS após a pandemia.

Assim, a diretora Luciana Soares aponta que o número de atendimentos médicos e de enfermagem nas Unidades Básicas de Saúde em Pelotas atingiu praticamente 90% de aumento nos últimos dois anos, sem incluir os procedimentos e vacinas.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Falta de fraldas adultas se repete em Pelotas Anterior

Falta de fraldas adultas se repete em Pelotas

Canguçu comemora 166 anos com festividades Próximo

Canguçu comemora 166 anos com festividades

Deixe seu comentário