Finanças
Mais um mês sem recursos
Para a UFPel não fechar o ano sem grandes sustos, governo federal teria que liberar mais de R$ 24 milhões, afirma reitor
Paulo Rossi -
O segundo semestre letivo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) começa acompanhado, mais uma vez, do anúncio de falta de verbas. O recado foi dado pelo reitor, Pedro Curi Hallal, em ato simbólico pelo repasse integral dos recursos federais realizado na última sexta-feira no campus Anglo, zona do Porto de Pelotas. “Só temos recursos até o final de setembro”, disse. Até agora a instituição recebeu somente 75% da verba para custeio e 45% do capital. Para contornar a situação de crise, cortes em empresas terceirizadas serão, novamente, a alternativa adotada pela gestão no futuro.
“O governo diz que vai tentar garantir até 100% para o custeio e 65% para o capital. A gente nem negocia, a gente só aceita se for 100%”, afirma. A verba do capital, a que sofre maior contingenciamento, é a que decreta os investimentos na universidade. É dinheiro que vai para obras, compra de equipamentos, livros e frota de ônibus, a exemplo do tão reivindicado transporte gratuito para o campus Capão do Leão, que aguarda a chegada de recursos. Já as verbas para o custeio englobam o funcionamento diário da universidade, como pagamento de bolsas e repasse para os funcionários terceirizados.
Há três anos o valor era disponibilizado integralmente às universidades no início do ano ou pago a cada mês. Hoje a gestão fica às cegas: não sabe quanto nem quando receberá. Denis Teixeira Franco, superintendente de orçamento e gestão de recursos da UFPel, diz que “se o governo liberar 100% a situação é ruim. Se não liberar, é péssima”. Ele conta que desde o início do ano tem cortado despesas como viagens, diárias e terceirizadas. São R$ 14 milhões de déficit e R$ 10 milhões em dívidas acumuladas por gestões anteriores. “Despesas que envolvem pessoal a gente não pode atrasar de jeito nenhum. As outras vamos ter que cortar de acordo com o que (de recursos) vir”, conclui.
Tal qual uma empresa ou condomínio, a manutenção da UFPel depende do pagamentos de contas de energia, limpeza e segurança, além do depósito das bolsas estudantis. Essas despesas totalizam R$ 6 milhões mensais (excluindo pagamento dos professores e técnicos administrativos). “A população não pode ver esse número como um gasto e sim como investimento. Isso é pra garantir a formação no Ensino Superior de 20 mil estudantes”, ressalta Hallal. Ainda segundo o reitor, para que a universidade fique “no limite” de fechar o ano sem maiores sustos, o governo federal teria que liberar mais de R$ 24 milhões. E ele já adianta: “A sensação que me passa é que não vai chegar”.
Para garantir um funcionamento de qualidade a conta aumenta. Dos R$ 10 milhões de capital esperados para o ano, a UFPel precisaria de R$ 25 milhões para consolidar o ensino, a pesquisa e os projetos de extensão com sucesso. O custeio, que está estimado em R$ 70 milhões, pede mais R$ 10 milhões. “A gente consegue viver bem com R$ 80 milhões”, acredita.
Se a instituição dependesse do que consta em caixa hoje para se manter, já poderia fechar as portas. “A gente tem R$ 8 mil reais na conta da universidade. Se agora tiver que fazer uma viagem já não tem como”, expõe Hallal. As viagens são estratégicas, visto que é em Brasília que a gestão, ao lado de lideranças políticas, corre atrás da liberação dos recursos.
O reitor ainda cita a falta de deputados que representem a Zona Sul, cargos que poderiam dar fôlego na busca dos repasses. Através da Frente Parlamentar em Defesa das Universidades e Institutos Federais, Pedro diz que está “pedindo apoio dos parlamentares para que 100% dos recursos sejam liberados, garantam um orçamento decente pra UFPel pro ano que vem e que façam uma emenda parlamentar de bancada para investimentos em assistência estudantil”. Até que pelo menos uma dessas pautas seja conquistada, o caminho, afirma o reitor, é seguir realizando cortes nos terceirizados quando necessário. A prioridade continua sendo o pagamento das bolsas.
A situação financeira desde junho
13 de junho
Crise financeira da UFPel causa desligamento de terceirizados. Universidade optou por reduzir em 25% o valor global dos contratos com empresas prestadoras de serviços. Desde abril funcionários terceirizados que desempenham serviços de portaria e limpeza, entre outros, foram desligados.
5 de julho
O Ministério da Educação (MEC) anuncia a liberação de R$ 6,785 milhões para a UFPel. Devido ao enxugamento no orçamento, o único destino possível para o montante é o pagamento das contas atrasadas em despesas contratuais e pagamentos correntes.
19 de julho
UFPel já projetava atrasos nos repasses às terceirizadas a partir de setembro.
23 de agosto
MEC autoriza o repasse de R$ 294,3 milhões para as instituições federais de ensino em todo o país. Os recursos teriam como destino ações de manutenção, custeio e pagamento de assistência estudantil. Para a gestão da UFPel, a parcela destinada à universidade trata-se de pagamentos de parcelas atrasas do orçamento de 2017. Nada que relaxe os bolsos.
30 de agosto
Ainda que os 100% fossem liberados, faltariam R$ 20 milhões para que o ano termine sem maiores transtornos. Hallal garante não ter planos de diminuir as verbas na assistência estudantil, prioridade da gestão.
12 de setembro
UFPel recebe R$ 10.169.278,00. Destes, R$ 6.236.481,00 foram para liberação financeira e R$ 3.932.797,00 liberação orçamentária. O primeiro é quanto a Universidade tem em caixa para gastar no período. Já o segundo é o valor repassado para pagar os gastos feitos, ou seja, as notas empenhadas pela instituição.
29 de setembro
Em ato simbólico pelo repasse integral dos recursos, UFPel realiza "abração" ao redor de um dos prédios do campus Anglo. Reitor anuncia que não tem verbas para outubro.
-127504
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário