Educação
MEC suspende cronograma de implementação do Novo Ensino Médio
Em decisão do ministro Camilo Santana, partes do projeto serão reavaliados nos próximos dias
Foto: Jô Folha - DP - Decisão não afeta diretamente os estudantes do Ensino Médio
O Ministério da Educação (MEC) publicou nesta quarta-feira (5) a portaria que suspende por 60 dias a implementação do Novo Ensino Médio. Desde segunda-feira, quando o ministro Camilo Santana se pronunciou sobre o assunto, surgiram dúvidas quanto ao que seria afetado dentro do programa. Em Pelotas, algumas escolas vêm lutando pela revogação do programa e o anúncio do governo federal trouxe expectativas quanto a isso.
O documento, publicado no Diário Oficial da União (DOU), suspende artigos da Portaria nº 521, publicada durante o governo Jair Bolsonaro (PL) em julho de 2021. Nela são estabelecidos cronogramas para a implementação da reforma nas instituições de ensino e os artigos tratam da distribuição dos materiais didáticos e avaliações, como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
A suspensão do cronograma iniciará após o término da consulta pública criada para avaliação e reestruturação da reforma, aberta em 9 março e com duração de 90 dias. Ou seja, primeiro serão realizadas audiências públicas e pesquisas nacionais com a comunidade escolar e, após esse período, o ministério irá discutir a reforma.
Diretor da Faculdade de Educação da UFPel, Alvaro Hypolito afirma que desde que foi proposto pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), o Novo Ensino Médio vem sendo contestado por pesquisadores e associações profissionais. "A maioria das escolas públicas, por exemplo, não tem estrutura e estão tendo dificuldade de construir o itinerário como idealizado no projeto." E, segundo ele, a discussão sobre o assunto deveria ser mais aprofundada. "Acho que ainda é uma medida tímida para o tamanho do problema", avalia.
Por hora, a decisão do governo não afeta diretamente os estudantes. A rotina dos alunos que já estão seguindo o modelo do Novo Ensino Médio seguirá a mesma. Será discutida inicialmente apenas a implementação de mudanças no Enem de 2024.
O que pensam as escolas
Para atender ao itinerário que aumentou de 2,4 mil para 3 mil horas nos três anos do Ensino Médio, as escolas precisaram encontrar maneiras de se adequar. Algumas encontraram facilidade, outras nem tanto.
Em Pelotas, o Colégio Gonzaga conseguiu planejar e colocar em prática o novo calendário de forma rápida. Segundo o diretor, Carlos Manuel Rino Santo, a escola passou a iniciar os turnos mais cedo e finalizar mais tarde, com a adição de aulas práticas sobre os assuntos vistos em sala de aula. "Para nós o Novo Ensino Médio não foi um problema porque apenas aprofundamos os conhecimentos, desenvolvendo mais estímulos aos alunos. Desde o início já pensamos nas mudanças dos materiais didáticos, fizemos reuniões com os pais e educadores de todo o Brasil e conseguimos nos organizar", explica.
Apesar da experiência positiva, o diretor reconhece que a realidade é diferente para algumas instituições, sendo que muitas não conseguiram cumprir com o estabelecido pelo governo de forma adequada. "Algumas escolas estaduais enfrentam dificuldades em mão de obra, não conseguiram criar itinerários semelhantes, então o aluno às vezes inicia vendo determinados conteúdos em um lugar e depois, se precisa mudar de escola, também muda de Ensino Médio, o que prejudica o desempenho", argumenta.
Por isso, instituições como o Colégio Municipal Pelotense, lutam pela revogação do modelo. Foram necessárias muitas reuniões entre o corpo docente e a comunidade escolar para implementar um projeto próximo à realidade dos alunos. "Não foi uma escolha nossa, foi uma imposição. Mas a gente fez o nosso melhor para atender ao que foi demandado. Hoje está funcionando? Sim. Mas precariamente, porque é uma carga horária com muitas disciplinas e pouco aprofundamento", explica a coordenadora geral, Patrícia Fassbender.
Caso em algum momento o governo federal decida por revogar completamente o modelo, a ideia da instituição é novamente conversar com a comunidade para definir o que será feito, uma vez que já há 14 turmas cursando o Novo Ensino Médio. "Apesar de tudo, consideramos que estamos realizando um bom trabalho em conjunto e, caso haja uma nova decisão do governo, vamos decidir os próximos passos juntos", projeta.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário