Trajetória

Moacir Elias: um legado para a engenharia agronômica

Ao anunciar sua aposentadoria após mais de meio século de contribuição, professor fala da importância da pesquisa para o setor

Éder Rodrigues - Especial DP - Professor promete seguir orientando e coordenando futuros profissionais da área

Professor da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (Faem/UFPel), engenheiro agrônomo, pesquisador, mestre em tecnologia de alimentos, consultor de comitês nacionais, internacionais, autor de mais de 30 livros, membro da Comissão Técnica do Sistema Brasileiro de Armazenagem, ex-presidente e diretor de entidades ligadas ao setor, merecedor de inúmeras homenagens, inclusive com os prêmios Homem do Arroz, Futuro da Terra e Mérito Agronômico Brasileiro 2023, Moacir Cardoso Elias anunciou sua aposentadoria. No encerramento de uma trajetória de 54 anos formando profissionais, gerando ciência e tecnologia para o desenvolvimento dentro e fora do País e com toda a dedicação ao melhoramento da renda na cadeia produtiva e qualidade do nosso arroz, o professor compartilha suas experiências e promete seguir orientando e coordenando futuros profissionais da área.

Diário Popular - O senhor poderia falar sobre os recentes avanços na área de pesquisa ou o que considera os principais avanços neste campo de pesquisa ao longo da sua carreira?

Moacir Elias - A pesquisa brasileira, estruturada como tal, é ainda nova. Estamos a um século e meio da criação do Imperial Instituto Bahiano de Agricultura (IIBA), a primeira instituição criada pelo Governo Imperial no Brasil em 1º de novembro de 1859. Em 8 de dezembro de 1883 fundou a Escola Eliseu Maciel em Pelotas, que funciona ininterruptamente há 140 anos. A estruturação da pesquisa como temos atualmente está completando meio século e se desenvolveu muito desde então, atingindo padrão de qualidade internacional. Portanto, quando iniciei as atividades profissionais, o Brasil era importador de alimentos e atualmente é um dos maiores exportadores mundiais. Essa mudança se deve aos avanços da pesquisa agropecuária, à atuação dos profissionais da área agrária e aos árduos trabalhos e investimentos dos produtores rurais e das agroindústrias.

DP - Na sua opinião, qual a contribuição da faculdade para a formação de engenheiros agrônomos no Brasil e para a produção de conhecimento científico na área da produção de alimentos?

ME - A Faem, para felicidade nossa, é uma referência tanto na formação de profissionais altamente capacitados como na geração de conhecimentos científicos e tecnológicos. Em 140 anos já formou mais de sete mil engenheiros agrônomos e contribuiu na formação de mais de três mil profissionais da área agrária, como médicos veterinários, engenheiros agrícolas e zootecnistas. Com mais de uma dezena de cursos de pós-graduação, já formou mais de dois mil mestres, doutores, pós-doutores e especialistas em todas as áreas do conhecimento agronômico. As pesquisas experimentais que sustentam as dissertações são as principais fontes geradoras de conhecimentos científicos e tecnológicos que alavancam o desenvolvimento das produções vegetal e animal, dos processos de agroindustrialização e dos recursos de logística e infraestrutura agronômica. Conforme foi demonstrado no recente 33º Congresso Brasileiro de Agronomia, a Faem não é apenas um dos berços da agronomia brasileira. Continua sendo uma de suas referências mais importantes.

DP - Como vê hoje a formação dos engenheiros agrônomos no Brasil e a importância da categoria para uma produção de alimentos cada vez mais qualificada, diversificada e ambientalmente responsável?

ME - Produzir alimentos, bens e serviços de logística com respeito ambiental são funções da agricultura e a atuação profissional dos engenheiros agrônomos está indissociavelmente ligada a isso. Segurança alimentar e alimentos seguros são conceitos diferentes e diretamente correlacionados. A segurança alimentar tem a ver com a acessibilidade aos alimentos e alimento seguro tem a ver com a saudabilidade. A acessibilidade é possibilitada com quantidade e preços dos alimentos compatíveis com as demandas das populações, enquanto a saudabilidade tem a ver com a garantia de que os alimentos não causarão danos à saúde dos consumidores. A formação dos engenheiros agrônomos e sua atuação profissional são baseadas nesses dois princípios associados à preservação ambiental e ao uso responsável dos recursos naturais. Trabalhamos para atender às demandas dos brasileiros e das pessoas que vivem em outros países e importam nossos produtos. O agronegócio, englobando todas as escalas, da agricultura familiar às grandes empresas responde por cerca de um quarto dos salários, um terço dos empregos e mais de dois quintos da receita nacional para o mercado externo pela exportação.

DP - Como classifica a importância de ter recebido o Prêmio Especial "O Futuro da Terra" e a "Comenda Mérito Agronômico Brasileiro" como reconhecimento a sua trajetória acadêmica?

ME - Ter criado o Laboratório de Pós-Colheita, Industrialização e Qualidade de Grãos há 45 anos e implantado formalmente essa área de conhecimento na formação agronômica no Brasil, talvez tenha sido o começo de tudo e considero que foi um marco importante, assim como a criação do Simpósio Brasileiro de Qualidade de Arroz e a área científica-acadêmica na Expoarroz e ter sido escolhido para representar a área científica e acadêmica numa missão brasileira na Finlândia foram outros momentos para mim muito significativos. Da mesma forma, receber reconhecimento no Brasil e fora dele por trabalhos de pesquisa realizados que geraram contribuições para o desenvolvimento da ciência são fatos que me deixam muito feliz com os resultados da carreira profissional. Como engenheiro Agrônomo desenvolvi atividades profissionais de extensionista rural, planejamento e assistência à produção de milho, soja, feijão, frutíferas e criações de bovinos de leite e de corte, supervisor de crédito agrícola, professor e pesquisador. Fico muito feliz por ter recebido esses prêmios com os quais jamais sonhei e que me fazem perceber que a sociedade valoriza essas modestas contribuições para a construção de um mundo melhor, que materializam um legado certamente jamais imaginado, mas o mais valioso que poderia ter acontecido comigo. Sou muito grato a Deus e a todos colegas e alunos, sem os quais eu jamais poderia ter conseguido produzir o acervo que deixo ao me aposentar.


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