O adesivo rasgado que ainda sustenta a frase "mantenha-se afastado" é um resquício do alerta colado pelo Corpo de Bombeiros em portas de apartamentos com avisos de interdição há quase quatro anos. Esse é o mesmo período que os moradores do Bloco C do Residencial Regente, no Areal, estão longe de casa devido a riscos. Agora, algumas dessas pessoas temem outra situação: os imóveis em que moram temporariamente, após realocação, estão em leilão e interessados já realizam visitas aos locais.

O problema é outro, mas o temor é semelhante, ter que sair às pressas da moradia em que estão sem qualquer aviso prévio. O que aconteceu em agosto de 2019, quando 15 famílias tiveram apenas duas horas para pegar alguns pertences e abandonar seus apartamentos, agora gera nova situação de incerteza. Realocadas em diferentes pontos da cidade, no Residencial Estrela Gaúcha, no Fragata, e no Princesa do Sul, no Areal, duas moradoras do Regente foram surpreendidas no último final de semana por pessoas interessadas em comprar os imóveis.

No sábado (6), Ana Paula dos Santos estava em casa quando o porteiro do condomínio ligou para ela perguntando se o seu apartamento estava à venda. Sem entender o que estava ocorrendo, a gerente de vendas respondeu que não havia possibilidade disso, pois se tratava de um local de realocação temporária e que não era proprietária. "Ele me retornou e explicou que teve uma senhora que veio ver porque o apartamento está em leilão. A gente se apavorou, é mais uma incomodação", diz.

Já a advogada Melaine Mazon, residente do Princesa do Sul, conta que, assim como ela, outras duas vizinhas do Regente passaram pela situação em que pessoas solicitaram avaliar os imóveis com interesse de compra. "Nos deparamos com pessoas querendo olhar os apartamentos. Aí fui olhar no site e realmente está o meu de outras duas moradoras [em leilão]", conta.

Ao consultar novamente o site da Caixa Econômica Federal, ontem, o apartamento de Melaine consta como "não mais disponível para venda", e agora ela teme que o local tenha sido arrematado.

Morando há dois anos no Estrela Gaúcha, Ana Paula questiona qual o destino deles novamente em caso de venda. "Com muito custo consegui um apartamento, do outro lado da cidade, estou me adaptando, como assim em leilão e a gente vai para onde?"

No anúncio online de ambos os apartamentos, a descrição aponta a disponibilidade de venda até o final de maio.

Relembre
Construído através do Programa de Arrendamento Residencial (PAR), os apartamentos do Residencial Regente foram entregues aos proprietários em 2006. No entanto, logo em seguida o bloco C começou a apresentar algumas pequenas rachaduras nos corredores. A situação ficou mais séria em 2019, diante da situação uma moradora resolveu realizar uma denúncia aos Bombeiros, que interditaram o local.

Desde então, os residentes do Regente não puderam mais retornar para os seus lares e não têm previsão de quando isso poderá ocorrer. Com o pagamento do apartamento já quitado nesse período, Melaine diz que ainda não fez a escritura devido à situação de incerteza. "Vai escriturar o que, a gente não sabe o que vai acontecer".

Questionada, a agente executora do PAR Inovare, responsável pelas reformas no bloco C e pela realocação temporária dos moradores a outros imóveis, a Caixa Econômica Federal (CEF) não retornou aos questionamentos sobre os apartamentos em leilão e as obras no bloco C do Regente até o fechamento desta matéria.