Inspiração

Mulheres na ciência: um dia para refletir sobre desafios e oportunidades

No Dia da Mulher e Menina na Ciência, DP traz o relato de duas cientistas da UFPel sobre a trajetória feminina na pesquisa científica

Foto: Jô Folha - DP - Dupla está entre as seis mulheres da UFPel que faz parte da Associação Brasileira de Ciências

No dicionário de língua portuguesa, ciência é um substantivo feminino. Na prática, é um campo de trabalho que, apesar dos desafios, pode ser feminino também. Neste dia 11 de fevereiro, que celebra o Dia da Mulher e Menina na Ciência, o Diário Popular conversou com duas mulheres que construíram suas carreiras na pesquisa científica.

As pesquisadoras da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Fabiana Seixas e Ethel Wilhelm, são enfáticas: divulgação e incentivo são fatores fundamentais para inserir as mulheres na ciência. "Desde pequena sempre fui muito curiosa, minha mãe era professora, então o interesse pela docência veio antes da ciência. Tive uma mulher, que foi minha orientadora, como inspiração. Hoje, o que a gente tem trabalhado em vários projetos, é divulgar o que a gente faz, porque faltam exemplos", diz Ethel, relembrando o início da trajetória na pesquisa, que começou nas iniciativas de iniciação científica na graduação em Química.

Fabiana lembra que o estímulo de professores e a divulgação de reportagens na mídia, ainda na infância e adolescência despertaram o interesse na ciência e na pesquisa, que começaram a se consolidar como carreira durante a graduação em Biologia. "Surgiu na infância esse desejo de trabalhar com ciência, mas também através do incentivo de professores no Ensino Médio e até pela própria mídia, com matérias sobre ciência que mostravam outras mulheres", conta. Hoje, ambas fazem parte da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e acumulam prêmios em suas respectivas áreas de pesquisa.

Desafios e potencialidades

Além da dupla, outras quatro professoras da UFPel também fazem parte da ABC. É um indicativo da qualidade e potencial das mulheres, mas não significa que o caminho é fácil. "Os estereótipos de gênero ainda persistem e isso influencia diretamente na forma com que as meninas são socializadas e na escolha das carreiras que elas vão vir a ter", diz Fabiana. As cientistas comentam situações já vividas em suas carreiras. "É participar de uma reunião, propor alguma coisa que não é ouvida e, daqui a pouco, teu colega homem propor com outras palavras a mesma coisa e, o que ele está falando, está sendo ouvido", exemplifica Ethel.

As duas, que conciliaram a maternidade com a carreira, também reconhecem outros desafios que permeiam a jornada feminina na ciência. "Muitas mulheres, quando chegam nessa etapa [a maternidade], desistem da carreira porque acham que vão ter que optar entre uma coisa e outra, quando não deveriam ter que escolher", observa Ethel. "Não basta as mulheres fazerem ciência, mas também estarem na liderança. Muitas vezes, a gente acaba não se sentindo representada pelas pessoas que conduzem os processos", complementa Fabiana.

Quem são elas?

Fabiana Kommling Seixas

Pelotense e formada em Biologia na UFPel, Fabiana é mestre e doutora em Biotecnologia pela mesma instituição, onde trabalha há 15 anos. Pós-doutora na área de genômica do câncer, já realizou 40 pedidos de patente, junto ao INPI, sendo quatro destas concedidas. "Trabalho na área de biotecnologia do câncer e oriento alunos de graduação, mestrado e doutorado. Estamos desenvolvendo e trabalhando com a imunoterapia do câncer de bexiga. Nossos trabalhos são em laboratório, in vitro, e também em modelos animais (camundongos). São estudos pré-clínicos nessa perspectiva de desenvolver novos imunoterápicos e aprimorar os que já são utilizados", resume.

Um recado: "Traz uma diversidade muito maior e ampla para a ciência ter meninas e mulheres trabalhando, não só na nossa área, mais das ciências biológicas, mas também nas engenharias e exatas. Existem muitas mulheres fazendo ciência na UFPel e estamos de portas abertas para receber meninas para trilhar esse caminho fascinante que é a ciência."

Ethel Antunes Wilhelm

Natural do interior da região das Missões, da cidade de Rolador, Ethel é graduada em Química Licenciatura pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde também se tornou mestre e doutora em Ciências Biológicas. Na UFPel há dez anos, atualmente é coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Farmacologia Bioquímica (LaFarBio) e acumula no currículo alguns prêmios, como o "Para Mulheres na Ciência 2018" concedido pela L'Oréal em parceria com a Unesco e Academia Brasileira de Ciências. "Estou desenvolvendo pesquisa voltada para o estudo da dor, mais especificamente a dor causada pelo câncer e pelo uso de quimioterápicos. Também temos estudado compostos sintéticos, em especial aqueles contendo selênio, que é um microelemento essencial e com várias propriedades farmacológicas, para prospectar que eles se tornem possíveis fármacos para tratar essa dor", resume.

Um recado: "A principal mensagem é: você pode. As mulheres e meninas precisam acreditar que onde elas quiserem estar pode ser o lugar delas. Aquelas que têm aptidão e gostam disso, busquem entender e conhecer onde estão essas oportunidades. A ciência está aberta e precisa dessas mulheres."


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