Nas ondas

No ar há 100 anos, rádio se reinventa para diferentes gerações de ouvintes

Com tradição radiofônica, Pelotas conta com emissoras e programações que vão da música à informação

Carlos Queiroz -

Seja por amplitude modulada (AM), frequência modulada (FM) ou digital (web), o rádio está presente na vida dos brasileiros e, mesmo com cem anos de história completados no último dia 7, se reinventa permanentemente, conquistando novas gerações de ouvintes, mas sem deixar de lado os adeptos dos tradicionais radinhos de pilha. Em Pelotas, há estações radiofônicas para todos os gostos e gêneros. Desde as que tocam música em diferentes estilos até as que levam a informação de forma dinâmica em noticiários locais e regionais, além da interatividade com a comunidade. Ainda há espaço para os debates acalorados da política, temas da cidade e do esporte. Assuntos que instigam e atraem cada vez mais quem está do outro lado, mantendo vivo o rádio.

É em Pelotas também que está a terceira rádio do Brasil e a pioneira da radiodifusão no Estado: a Pelotense, inaugurada em 6 de junho de 1925. "Temos duas datas a comemorar, pois a primeira transmissão foi em 25 de agosto de 1925. Em funcionamento, é a mais antiga do país", orgulha-se o diretor geral Paulo Goz, que há meio século faz parte da história da emissora. "Na época, foi um radioamador, pois não havia receptores", conta. Nas quase dez décadas em atividade, diz que o grande desafio da atualidade é enfrentar as dificuldades do setor comercial e a concorrência com as redes sociais. Para o diretor, a pandemia agravou a situação dos prestadores de serviço e o comércio na região, que são anunciantes em potencial. "Manter o sistema comercial é uma luta inglória!"

Mas nem as dificuldades impediram que a Pelotense evoluísse tecnologicamente para ser acessada em diferentes plataformas. O diretor diz que, por ser o rádio um veículo de informação que presta serviço de qualidade e de confiabilidade, precisaria contar com subsídios que viabilizassem os investimentos necessários para acompanhar a evolução tecnológica. Atualmente a Pelotense, pelos seus 620 kHz, fica na rua Alberto Soveral, 64, e, com seus transmissores no Laranjal, tem potência que atinge cerca de 80 municípios da região, com uma população de aproximadamente dois milhões de habitantes.

Caminho semelhante percorreram as outras duas AMs. A Tupanci foi fundada em 7 de setembro de 1958 pela família Lorea, que já comandava emissora em São Lourenço do Sul. Sua programação, pelo dial 1250 kHz, desde o início reúne música, esporte e notícias. "Quando o governo possibilitou a migração das AMs para FM a emissora se habilitou e está na espera da liberação do canal", diz o diretor da rádio, professor e comunicador Jorge Malhão. Hoje a programação é voltada a todos os públicos, mas na linha musical com ênfase em anos passados.

Espaço para o debate
Nove anos depois surge a Rádio Universidade Católica de Pelotas (RU), 1160 kHz. A mais jovem das emissoras de onda média foi fundada por Dom Antônio Zattera em 25 de julho de 1967. Com coberturas inesquecíveis, como a sucessão de papas, posses de chefes de Estados, além de se destacar pelo jornalismo e transmissões de jogos esportivos, a emissora passou por mudanças na programação ao longo do tempo. No entanto, quem resiste como um dos programas tradicionais é o Pelotas 13 Horas, comandado pelo jornalista Clayton Rocha, responsável por mediar debates acirrados, com apoio de Paulo Gastal. "As portas das salas amarelas (estúdio no prédio da Associação Comercial) só não se abrem para fake news", diz o âncora. "A opinião dada aqui também é respeitada. A gente percebe isso porque o público manda mensagem, às vezes contesta duramente, mas respeita o direito de se expressar", completa.

Interatividade
Costumeiramente, as rádios FMs sempre foram voltadas para música. Recentemente, o perfil tem mudando, com algumas investindo também em notícias. Atualmente, pelo dial, Pelotas tem as rádios Alegria, Dez, Universal, Maisnova, Atlântida, União FM e Federal FM, além das comunitárias. Com seis anos no ar, a Dez FM, com alcance em 17 municípios, é uma que abre espaço para a informação e interação dos ouvintes. De acordo com a coordenadora Tacih Blank, a proposta inicial era ser uma rádio popular, mas que buscou se diferenciar das demais com noticiários. "Também houve o crescimento das redes sociais, onde a audiência se faz muito presente, interagindo com os locutores e participando diretamente da programação."

Um deles é o  programa: Tô na Dez, onde o ouvinte manda áudio de voz, falando seu nome, cidade e a música que quer ouvir.  Programa que o comunicador Daieser José Tonini Ferreira anunciava às 11h de sexta-feira, enquanto conversava com a reportagem. "O áudio vai ao ar seguido da música solicitada", complementa o estudante de Comunicação Social da UFPel. Atualmente, além da programação musical, a rádio conta com dois programas jornalísticos, Redação Dez e Resumo do dia, e o News, de hora em hora, de entrevistas, esportes e humor. Sobre os desafios do rádio para os próximos 100 anos, o locutor acredita na transformação e adaptação. "Disseram que com a chegada da TV o rádio acabaria. No advento da internet, ninguém ouviria mais uma emissora. Hoje, uma pessoa pode estar dentro de um trator em Santa Vitória do Palmar, ou dirigindo às 18h em uma grande metrópole, que o rádio estará lhe fazendo companhia", acredita Tonini.

Companhia certa|

Sempre que possível, ou quando lhe é permitido, o vigilante Paulo Renato Amaral Magalhães, 57, está na companhia da rádio. Atualmente trabalhando como pintor em uma obra no Centro de Pelotas, carrega entre as ferramentas seu aparelho de som. "O rádio, além de uma companhia, é um momento relaxante. Por isso, as músicas não podem ser gritantes, mas algo suave, que possa harmonizar com o serviço", conta, sobre a rotina de serviço ao lado do rádio.

A primeira transmissão
Em 7 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro, durante as comemorações do centenário da Independência, foi instalada uma emissora, cujo transmissor de 500 watts estava localizado no alto do Corcovado. Os ouvintes acompanharam a ópera O Guarani, de Carlos Gomes, e o pronunciamento do então presidente Epitácio Pessoa. No mesmo ano é criada a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Mas conta a história que a descoberta do rádio vem bem antes, com os experimentos do padre Landell de Moura, em 1899, que fez a transmissão de áudio entre o Colégio Santana, de onde ele era pároco, na zona norte de São Paulo, até a Ponte das Bandeiras, a cerca de quatro quilômetros de distância. A data da primeira demonstração pública de transmissão radiofônica, assim, ocorreu há 123 anos.

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