Insegurança
No sexto dia de crise no Espírito Santo, ônibus voltam a circular
Ônibus urbanos voltaram a circular, mas com frota reduzida e intervalos maiores, de uma hora
A crise na segurança pública no Espírito Santo chega nesta quinta-feira (9), ao sexto dia com a população ainda com sensação de insegurança. No início da manhã, as ruas de Vitória apresentam mais uma vez pouca movimentação. Os ônibus urbanos voltaram a circular, mas com frota reduzida e intervalos maiores, de uma hora.
Até o fim da tarde desta quinta, mais 650 homens do Exército e da Força Nacional de Segurança devem chegar ao Estado, elevando o contingente para 1.850. O governo estadual informou que são necessários pelo menos dois mil homens para fazer a segurança em todo o Espírito Santo. Em circunstâncias normais, esse é o contingente diário apenas na Grande Vitória.
Depois de ficarem parados na quarta-feira, os ônibus voltaram a circular parcialmente nesta quinta na Grande Vitória. Apenas as linhas troncais, que ligam os terminais rodoviários - são dez no total -, estão funcionando. Alguns desses terminais, porém, ainda estavam sem movimento por volta das 9h. Sem a presença de soldados do Exército nos locais, alguns motoristas se recusam a iniciar as viagens. As linhas funcionarão em horário reduzido, até as 18h.
As aulas seguem suspensas, e o comércio funciona parcialmente. A situação é um pouco melhor do que aquela vista no início da semana, mas a população ainda está com medo. Mesmo com o reforço na segurança com tropas federais, o patrulhamento nas ruas é pequeno.
No início da manhã desta quinta, o secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, declarou em entrevista ao telejornal "Bom Dia ES", da TV Gazeta, que a situação "está melhorando", mas admitiu que sensação de insegurança deverá perdurar por mais alguns dias.
"Mesmo com a presença da Polícia Militar (após o fim da paralisação), vai haver essa sensação de insegurança", afirmou. "A Polícia Militar vai precisar recuperar a sua imagem, que foi jogada na lama."
Durante a madrugada, a sede da TV Gazeta, afiliada da Rede Globo na Ilha de Monte Belo, em Vitória, foi atingida por quatro disparos. Os tiros foram dados em direção a um auditório. Ninguém estava no local no momento.
Escassez
A sensação de insegurança que tomou conta da Grande Vitória e o elevado número de lojas fechadas está fazendo com que a população lote os grandes supermercados da região. Na manhã desta quinta, o maior supermercado do bairro residencial de Mata da Praia, em Vitória, registrava enormes filas. Alguns produtos já estão acabando e o estabelecimento tem feito interrupções no serviço ao longo do dia devido à dificuldade de fluxo no interior da loja.
"Está parecendo a Venezuela, só que lá não tem alimentos", afirmou o administrador Sebastião Guimarães, de 57 anos. "Estamos estocando alimentos, mas aqui também já estão faltando alguns produtos. Na quarta minha mulher não encontrou carne."
A falta de alguns produtos foi confirmada pelo subgerente do supermercado, Adélio Ramos. "Estamos com poucos funcionários. Os que estão vindo trabalhar é porque a gente está indo buscar em casa, já que não tem ônibus nas ruas. Alguns fornecedores também não têm feito entrega. Nesta quinta, por exemplo, não tem mais ovos", comentou. Os repositores trabalhavam sem parar durante a manhã, mas a prateleira com macarrão instantâneo já estava praticamente vazia.
Medo
O aposentado Ervino Nitz, 77, saiu de casa pela primeira desde o final de semana, quando estourou a crise na segurança no Espírito Santo. As compras do dia foram maiores do que em circunstâncias normais. "Estou me prevenindo, mas a gente fica até chateado com o que está acontecendo", declarou.
Ele disse que, com o passar dos dias, ganhou "um pouco de confiança" para voltar às ruas. "Estou perdendo um pouco do medo, mas só vou para a rua pela manhã. Mais pro fim da tarde começa a ficar perigoso", destacou o aposentado.
A autônoma Lúcia de Fátima Merçon, 62, por sua vez, demonstrava mais tranquilidade. Ela não se queixou da grande fila que tinha pela frente para pagar as compras no caixa. "Tenho vindo quase todos os dias. Aqui no bairro está tranquilo, a única coisa que soube foi do roubo de um carro esses dias", comentou.
Lúcia de Fátima disse que a paralisação dos policiais militares "é ruim", mas não criticou a atitude. "Eu levo bolo e café para os policiais aqui perto todos os dias há mais de um ano. Eles merecem", disse. Todo mundo tem o direito de reivindicar. Os professores vão às ruas protestar, os servidores em geral vão, por que os policiais não poderiam também?"
A opinião é diferente daquela de Ervino Nitz. "Acho isso tudo uma falta de respeito com a população. Nunca vi nada parecido na minha vida, nos deixaram à própria sorte com os bandidos", reclamou.
Sebastião Guimarães também criticou a paralisação. "Vai normalizar só quando a polícia entender que a segurança é necessária. Não dá para deixar a população à mercê dos bandidos. A polícia não pode nos abandonar. Imagina se a população começar a se armar o que pode acabar acontecendo."
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