Saúde

Nova etapa de pesquisa da UFPel aponta impactos da pandemia na saúde

Resultados preliminares de análise feita com a população gaúcha indicam prevalência de depressão, ansiedade, insegurança alimentar e persistência de sintomas pós-infecção

Leandro Lopes -

Um estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) sobre os efeitos indiretos da pandemia de Covid-19 à saúde pública concluiu mais uma etapa de coleta de dados em julho. A pesquisa reúne informações da saúde mental e física da população adulta do Rio Grande do Sul desde o início das medidas de distanciamento social. Os resultados preliminares, com base nas cerca de 2,6 mil participações nesta fase, revelam cenários elevados de insuficiência de atividade física (67,2%), depressão (19%), ansiedade (30%), insegurança alimentar (33,3%) e persistência de sintomas pós-infecção (75%), a chamada "Covid longa".

A pesquisa da Escola Superior de Educação Física (Esef) da UFPel, chamada Coorte Pampa, trata-se de um estudo longitudinal: o objetivo é identificar variações de uma determinada amostragem ao longo do tempo. Neste caso, a saúde da população adulta do Estado, física e mental, durante as diversas fases da pandemia: do início das medidas restritivas à flexibilização e ao retorno integral das atividades presenciais. O levantamento, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), é realizado por meio de formulário eletrônico. A pesquisa, atualmente em sua quarta etapa, prevê mais dois momentos de coleta, nos mesmos períodos em 2023 e 2024.

Embora os resultados não sejam imediatamente generalizáveis à população do Estado, conforme os pesquisadores do projeto, são "altamente similares" com as mostras globais, nacionais, regionais e representativas publicadas até o momento. O instrumento de pesquisa possível para o contexto de pandemia, por depender do acesso dos participantes a dispositivo eletrônico e à Internet, projeta uma participação majoritariamente de segmentos escolarizados e economicamente mais favorecidos, o que alerta para cenários de maior vulnerabilidade no Estado. "A gente sempre pensa nas populações de renda mais baixa. Se na população média a situação é essa, que tem acesso aos serviços de saúde, na de renda baixa é pior", estima o pesquisador Eduardo Caputo.

Sintomas persistentes
A síndrome "Covid longa" é entendida pela permanência de sintomas por pelo menos três meses após a infecção. Nessa situação, encontram-se três a cada quatro adultos participantes do estudo. Os dados, nessa fase inicial de análises, indicam perda de memória, dificuldade de concentração, mobilidade prejudicada, sintomas respiratórios (tosse, falta de ar) e, em menor escala, gastrointestinais.

Além de identificar consequências à saúde ainda não catalogadas pela ciência, a expectativa do levantamento sobre os sintomas, explica um dos pesquisadores do estudo, Natan Feter, é de contribuir para o reconhecimento dos fatores que levam aos quadros mais grave da doença, aos casos de reinfecção, à Covid longa e à identificação do grupo de pessoas que se encontra em maior risco.

Saúde mental em alerta, mas distanciamento social não é a causa
A pesquisa identifica que, atualmente, 19% dos participantes do estudo estão em alto risco para depressão e 30% para ansiedade. Embora se apresente queda em relação ao levantamento anterior, o quadro identificado é, respectivamente, mais de quatro e seis vezes superior à realidade pré-pandemia (antes de março de 2020). À época, 4,2% e 4,7% estavam em situação de depressão e ansiedade. Em junho de 2020, início do período de distanciamento, esses números passaram para 28,6% e 37,6%. "Nós tínhamos um problema e foi gravado", resume Natan Feter. Segundo o pesquisador, o Rio Grande do Sul, em 2013, já apresentava uma das maiores prevalências de transtornos mentais do país.

O estudo da UFPel refuta a associação entre o distanciamento social e sintomas de depressão e ansiedade. Os dados revelam que não houve diferença, para esse diagnóstico, entre as pessoas que permaneceram no ambiente domiciliar a maior parte do dia, com saída para atividades essenciais (como comprar alimentos), e as que estavam fora de suas casas, majoritariamente, durante o período mais preocupante à saúde pública. "O risco é igual para todo mundo", explica.

No mapa da fome
Um em cada três adultos participantes apresenta algum nível de vulnerabilidade em relação à alimentação. Os pesquisadores chegaram a esse entendimento pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. O modelo define indicadores, no período de três meses, para a caracterização desse quadro, como a falta de dinheiro para a compra de comida, refeições não realizadas e alimentação não saudável por insuficiência de recursos. Os dados coletados são considerados "extremamente preocupantes" pelos pesquisadores, por revelarem a situação de vulnerabilidade social no Estado e indicarem possíveis cenários mais gravosos nos contexto das famílias de baixa renda.

Atividade física segue em baixa
No novo levantamento, a atividade física continua aquém do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS): 150 minutos semanais. Essa é a situação de 67,2% dos participantes desta fase da pesquisa. No começo da pandemia, junho e julho de 2020, o índice chegou a 75%.

Baixa procura pelos serviços de saúde
A pesquisa também indica que um em cada cinco adultos não busca os serviços de saúde mesmo quando precisa; a mesma proporção, dos que procuram, não consegue acesso a medicamentos prescritos para tratamento. Os sintomas de saúde mental indicados no estudo, segundo os pesquisadores, podem ajudar a explicar esse cenário.

 

 

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