Opinião
O anúncio do secretariado
Realçar estranhezas no secretariado de Paula não significa dizer que ele será incompetente ou que funcionará mal
O secretariado de Paula Mascarenhas (PSDB) é, em grande parte, constrangedor. E primeiramente para a própria prefeita eleita. Resta claro que ela pouco pôde, que vários dos nomes anunciados sequer alinham-se às exigências de Paula. Debite-se na conta da enorme coligação, mais de dez partidos, a frustração deste primeiro anúncio do futuro governo. E frustração é realmente a palavra. Esperava-se mais.
Para a Educação, cogitou-se Esther Grossi, educadora nacionalmente conhecida. Ficou-se com o engenheiro agrônomo Arthur Corrêa (PTB), que respondeu a processo por improbidade administrativa em Santa Vitória do Palmar. Para a Segurança Pública, aventou-se a possibilidade de se ter Marcos Rolim, conhecido na luta pelos direitos humanos. Ficou-se com o vereador Tenente Bruno, que há não muito tempo trocou, convenientemente, o PT, oposição ao governo Eduardo, pelo PTB. Das figuras repetidas, Jacques Reydams, Jair Seidel e Abel Dourado, os três remanescentes da administração de Fetter Júnior (PP), lideram a lista dos mais longevos governistas.
Se por um lado há algumas sombras e incertezas, por outro, não se negue, há, também, várias luzes. O nome de Ana Costa, fonoaudióloga que nos últimos cinco anos foi braço direito de Arita Bergmann é um tremendo acerto. Preserva-se, assim, em área fundamental e dificílima, o bom trabalho feito. Aliás, em diversos momentos, Ana Costa respondeu, na ausência de Arita, com a competência da secretária: com boa vontade, números na ponta da língua e sem enrolação. A permanência do discreto e eficiente Giorgio Ronna à frente da Secretaria de Cultura é um alento, ainda que certa descentralização das atividades culturais na cidade mereça maior atenção. O pequeno aumento do número de mulheres no primeiro escalão do governo, sempre tomado por homens, é motivo também para se comemorar.
Há um enorme potencial de incômodo ao governo de Paula Mascarenhas com o bacharel em Direito Alexandre Garcia (PTB) à frente do Sanep. Tudo porque Alexandre é irmão do vereador Anderson Garcia (PTB). Mesmo que legalmente possa não haver nepotismo cruzado, moralmente a nomeação é bastante questionável. Não seria, se o futuro diretor-presidente da autarquia fosse técnico reconhecido na área de saneamento.
Realçar estranhezas no secretariado de Paula não significa dizer que ele será incompetente ou que funcionará mal. Muito menos significa querer isso. Os cargos em comissão de uma administração pública são essencialmente políticos. O ideal, muitas vezes distante de se transformar em realidade, seria aliar indicação política e técnica. Na maior parte dos casos, não é possível. O que inquieta, no entanto, é a composição do atual secretariado parecer tão diferente da futura prefeita. Há algo que parece não se encaixar. Talvez os partidos que a apoiaram tenham cobrado a conta rápido (e mal) demais. Talvez a frustração com alguns nomes seja fruto da enorme expectativa pela aprovação avassaladora nas urnas. Talvez não existam nomes melhores neste momento (para mim, a hipótese mais remota). Talvez seja vedado ao simples cidadão, cada vez mais desgostoso com a política, entender, com transparência absoluta, os meandros das nomeações...
Se os contratos de gestão forem assinados entre a prefeita e os secretários, em menos de seis meses a dança das cadeiras será grande.
De certo, tem-se o início do texto: em grande parte, o secretariado é constrangedor. Que a primeira impressão não seja a que fique.
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